Criança vivia em uma família desagregada. O pai está preso por suspeita de tráfico de drogas e corrupção ativa. A mãe saiu recentemente do presídio, onde respondeu por furto
O menino Ítalo Ferreira de Jesus Siqueira, com 10 anos de idade completados há apenas seis meses (ele nasceu em 30 de novembro de 2005), foi morto pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, na noite desta quinta-feira (02/06), com um tiro de pistola .40 que o atingiu na região do olho esquerdo.
Quando foi morto pelos PMs, Ítalo vestia bermuda verde, blusa azul, camiseta amarela e calçava um par de chinelos pretos.
Os dois policiais militares investigados pela morte de Ítalo, filho de uma família desestruturada (a mãe saiu recentemente do presídio e o pai está preso), são Israel Renan Ribeiro da Silva e Otávio de Marqui, ambos com 25 anos de idade.
A morte de Ítalo aconteceu às 19h desta quinta, na rua José Ramon Urtiza, na Vila Andrade, região do bairro do Morumbi, zona sul de São Paulo. Um outro menino, de 11 anos e amigo da criança morta pela PM, foi apreendido na mesma operação da Polícia Militar, que visava recuperar um carro ano 1998 furtado.
A versão dos militares Silva e De Marqui para a morte de Ítalo, agora investigada pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, é a de que a criança disparou três tiros contra eles, isso enquanto dirigia o carro furtado, um Daihatsu, preto, 1998.
Uma das prioridades da Corregedoria da PM e do DHPP é descobrir a origem da arma que, segundo os PMs, estaria com Ítalo, um revólver calibre 38, nº DO151755, e obter imagens das câmeras de segurança de uma farmácia localizada na altura do nº 835 da rua José Ramon Urtiza. Foi ali que Ítalo morreu com um tiro na região do olho esquerdo.
Ítalo e o amigo de 11 anos, segundo o depoimento do menino apreendido pela polícia, pularam o muro de um condomínio na rua Nelson Gama de Oliveira, também na Vila Andrade.
Quando viram o Daihatsu com a janela aberta e a chave na ignição, os dois meninos resolveram sair do prédio com o carro. Pouco depois de começar a dirigir o veículo, Ítalo o bateu contra a traseira de um ônibus, mas conseguiu prosseguir até acertar a traseira de um caminhão. Foi quando o carro parou de vez.
Entre a batida no ônibus e a no caminhão, segundo a versão dos PMs Silva e De Marqui (que acompanhavam o Daihatsu em uma moto da PM), Ítalo teria disparado duas vezes contra os militares. Quando o carro parou na traseira do caminhão, o menino teria disparado pela terceira vez. Foi quando De Marqui e Silva atiraram contra ele. Um dos tiros o acertou na cabeça.
A distância entre o condomínio de onde o Daihatsu foi levado e o local da morte de Ítalo é de apenas 300 metros. Quando estava na rua José Ramon Urtiza, o PM Silva havia atravessado um carro da PM para impedir a passagem do veículo com os meninos. Até aquele momento, ninguém sabia que o carro era furtado, pois nem mesmo o dono havia dado falta do Daihatsu.
De acordo com registros da polícia, Ítalo havia sido apreendido outras quatro vezes por suspeita de furto. Também existem dois registros policiais sobre desaparecimentos do menino.
De acordo com funcionários do condomínio invadido por Ítalo e pelo amigo de 11 anos, os dois meninos chegaram a circular pelo prédio antes de levar o Daihatsu. Encontraram com uma moradora, conversaram com ela e, em nenhum momento, mostraram qualquer arma. Para entrar no lugar, eles aproveitaram um coqueiro plantado perto do muro.
A mãe de ítalo teve quatro passagens pela polícia (duas por tentativa de furto, uma por roubo e outra por furto consumado). O pai do menino está preso atualmente. Ele foi preso em 2009 acusado de tráfico de drogas e, em 20013, outra vez por tráfico e corrupção ativa.
Outro lado
O comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, coronel Ricardo Gambaroni, foi procurado para se manifestar sobre a morte de Ítalo. Dentre as perguntas que não puderam ser feitas pela reportagem ao chefe da PM, estão as seguintes: A) A PM não tinha outro método para parar ítalo?; B) Era necessário atirar contra a cabeça do menino?; C) Qual é o procedimento operacional padrão ensinado aos PMs para agir em perseguições a veículos?
A reportagem também solicitou entrevistas com os PMs Silva e De Marqui, mas a assessoria de imprensa da Polícia Militar de São Paulo não atendeu ao pedido para que a conversa ocorresse.
O mesmo pedido de manifestação foi feito ao secretário da Segurança Pública da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), Mágino Alves Barbosa Filho.
Tanto Mágino quanto Gambaroni enviaram a seguinte nota oficial sobre a morte de Ítalo:
“Um menino de 10 anos que havia furtado um carro dentro de um condomínio na região do Morumbi atirou três vezes com um revólver calibre 38 contra policiais militares que lhe deram ordem de parada. Os PMs revidaram os disparos e o atingiram. O menino morreu e o colega, de 11, foi apreendido.
O fato aconteceu na noite de quinta-feira (02), na rua José Ramon Urtiza, Vila Andrade. O garoto era acompanhado por policiais após furtar um Daihatsu Terios. Na fuga, o garoto bateu contra um ônibus e um caminhão. Após atirar contra os policiais, houve revide e ele foi atingido. O menino morreu no local. Um outro garoto de 11 anos que participava da ação foi levado ao DHPP, onde prestou esclarecimentos e foi entregue aos responsáveis”
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