Imagens mostram policiais apontando armas, dando socos e usando spray de pimenta; a PM afastou os policiais envolvidos
Policiais militares entraram na Escola Estadual Professor Emygdio de Barros, no Rio Pequeno, zona oeste de São Paulo, apontaram armas e agrediram estudantes na noite desta terça-feira (18/2).
Imagens gravadas por alunos que testemunharam a ação mostram quando três policiais esperam a saída do aluno David Harly, 18 anos, da sala e um deles dá um soco no jovem, que tenta se proteger se escondendo em outra sala. Na sequência, um amigo de David, um estudante de 17 anos, começa a filmar a ação. Irritado, um dos PMs parte para cima dele.
Quatro PMs envolvidos na ocorrência foram afastados das atividades de rua para funções administrativas, ganhando o mesmo salário, até a conclusão do inquérito que apura a conduta deles, segundo a assessoria de imprensa da Polícia Militar.
Um dia antes do ocorrido, David Harly, que até o ano passado estudava no período matutino, conta que havia ido normalmente à aula no turno da noite, mas não encontrou seu nome na lista. Quando questionou a coordenação da escola, foi informado que tudo seria resolvido e que poderia vir no dia seguinte a aula, trazendo apenas a declaração que indicava a mudança de turno. Mas não foi isso o que ocorreu.
Em entrevista à Ponte, David afirmou que a diretora da escola Lucila Folgosi teria pedido que ele se retirasse da sala. O estudante, contudo, explicou a orientação dada no dia anterior. Ainda na versão de David, a diretora disse que chamaria a polícia, mas o estudante não acreditou. Algum tempo depois, os PMs chegaram para retirá-lo de dentro da sala. “Eles me chamaram pelo nome na porta da sala e disseram: ‘se você não sair, a gente vai te pegar’. Aí eu falei que não precisavam encostar em mim que eu desceria, aí nisso eu levei um soco na boca”, conta.
O estudante de 17 anos, que também apanhou, acredita que foi agredido porque estava filmando a ação. “Achei um absurdo. Já tinha sofrido violência policial, mas dentro da escola nunca. A gente acha que tá seguro, né?”, disse.
Do lado de fora da escola, David afirma que as agressões continuaram. “Em nenhum momento a diretora pediu que parassem de bater na gente”, desabafa. O estudante afirma que nunca tinha acontecido nada parecido. “Estou com a boca machucada e o estômago, onde eu levei um soco”.
Um boletim de ocorrência por desacato, resistência, lesão corporal e ameaça foi registrado no 91º DP (Ceasa) e os estudantes encaminhados para fazer exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal).
À Polícia Civil, segundo o registro da ocorrência, a diretora Lucila Folgosi afirmou que David havia sido desligado da escola por falta de frequência e que tinha um histórico de indisciplina.
A Ponte apurou que o público da escola é majoritariamente negro e morador de favela e há um temor por parte da comunidade escolar de que haja algum tipo de retaliação.
O presidente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana) Dimitri Sales define como um erro grave a ação da polícia e destaca o abuso de autoridade. “A PM foi chamada para resolver algo que poderia ser resolvido na base do diálogo num perspectiva pedagógica, no entanto a diretora opta pela intervenção policial”, avalia.
O Condepe vai encaminhar o caso para o Ministério Público de SP, Ouvidoria da Polícia e Corregedoria da PM para que tudo seja apurado.
A Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de SP) compartilhou na página do Facebook um texto da presidente Maria Izabel Azevedo Noronha, a deputada Professora Bebel. “Senhor Governador, Senhor Secretário da Educação, como poderão justificar essa barbárie Escola é lugar de desenvolver processo educativo e não de cenas selvagens como essas. Nada justifica esse comportamento por parte desses policiais, que somente serve para alimentar a espiral de violência que, lamentavelmente, cresce em nossas escolas”, diz trecho da nota.
Um ato em repúdio à ação policial vai acontecer nesta quinta-feira (20/2), a partir das 18h, na frente da escola.
Outro lado
Em nota, a Polícia Militar esclarece que “assim que tomou conhecimento o comandante da área determinou a imediata instauração de inquérito policial militar para a rigorosa apuração dos fatos”.
A Ponte também questionou a Secretaria Estadual da Educação sobre o ocorrido e pediu autorização para entrevistar a diretora da escola.
A Secretaria da Educação de SP informou, no fim da tarde desta quarta-feira (19/2), que a diretora da Escola Estadual Professor Emygdio de Barros não faz mais parte do quadro de funcionários da unidade. “A Seduc-SP instaurou uma apuração e colabora com a Polícia para esclarecer o fato”, diz a nota.
(*) Reportagem atualizada às 17h51 do dia 19/2 para inclusão de nota de correção da informação da quantidade de PMs envolvidos na ocorrência. PM informou que são 4 e não 6 os agentes afastados.
Reportagem atualizada às 19h do dia 19/2 para inclusão da nota da Sedec-SP.