Dois policiais foram presos para prestar esclarecimentos sobre a perseguição e os 16 disparos contra carro do estudante de 24 anos, que morreu com tiro na nuca
A Corregedoria da PM (Polícia Militar) prendeu no início da tarde desta sexta-feira (1º) dois policiais militares envolvidos na morte do estudante universitário Julio César Alves Espinoza, de 24 anos, para prestar esclarecimentos. O rapaz foi baleado na nuca por policiais militares na madrugada de segunda-feira (27), na divisa entre São Caetano do Sul e o Jardim Ibitirama, zona leste de São Paulo, após perseguição policial. Ele teve morte cerebral na terça-feira (28).
O carro em que Julio estava foi baleado 16 vezes. Ele estava fugindo da polícia porque não queria ter o veículo do pai, um Gol prata, apreendido. O automóvel tinha cinco multas por rodízio. Filho de um boliviano que vive há 35 anos no Brasil, Julio Espinoza estudava Tecnologia em Logística na Uninove da Vila Prudente. Ele não tinha passagem pela polícia. Em toda a sua vida, ele só entrou uma vez na delegacia: para registrar um BO (Boletim de Ocorrência) por roubo dos documentos dele.
A perseguição começou em São Caetano do Sul, passou pela avenida Guido Aliberti, avenida do Estado e terminou na rua Guamiranga. Primeiro, um carro da GCM (Guarda Civil Metropolitana) de São Caetano, no ABC Paulista, iniciou a perseguição. Depois, a PM continuou e disparou várias vezes contra o carro de Espinoza ao longo do trajeto. Testemunhas dizem que uma das viaturas policiais colidiu durante a ação.
Amores
Os dois maiores amores de Espinoza eram a família e o Palmeiras. Em suas redes sociais, o carinho pelos pais e pelo clube de futebol estão nítidos. Ele já havia dito ao pai, o mecânico Julio Ugarte, que não deixaria apreenderem o veículo, utilizado por toda a família, por causa das multas.
A família inteira está revoltada com a morte do estudante universitário. O pai condena a apresentação de um revólver calibre 38 (enferrujado) pelos policiais na delegacia. “Colocaram no carro porque não tinham capacidade de assumir o erro deles. São bandidos”, afirmou o Julio Ugarte
O caso foi registrado no 56º DP (Distrito Policial), na Vila Alpina. Os PMs envolvidos no caso disseram ter achado um revólver calibre 38 (enferrujado) no veículo. A Polícia Civil e Corregedoria da Polícia Militar investigam se a arma foi plantada no carro pelos policiais para forjar um tiroteio.
Procurada, a PM pediu que a reportagem da Ponte entrasse em contato com a SSP (Secretaria da Segurança Pública), que, por sua vez, informou por telefone que o caso ainda não havia sido registrado e que iria apurar.
À Ponte, o ouvidor das Polícias de São Paulo, Julio César neves, afirmou que todos os agentes da lei envolvidos, PMs e GCMs, devem ser afastados até o fim da investigação. “Essa onda de ações policiais com o resultado morte tem ocorrido corriqueiramente. Isso tem de parar”, afirmou Neves.
Em um mês, Julio é o quarto jovem morto em em São Paulo por agentes da segurança pública após perseguição. No dia 2, o menino Ítalo, de 10 anos, morreu ao ser baleado na nunca; no dia 24, Robert, de 15 anos, levou dois tiros no peito e um na boca ao tentar deixar o veículo roubado que dirigia; e no dia 26,Waldik, de 11 anos, foi baleado na nuca enquanto estava no banco de trás de um carro que teria sido roubado.