PMs invadem casa no Complexo do Alemão (RJ) e ameaçam família, acusa moradora

    Segundo mulher, ela estava deitada com sua família quando os policias entraram agressivos, ameaçaram agredir seu filho de 18 anos e de levá-la presa

    Rio de Janeiro está em intervenção federal na segurança, com constantes operações em comunidades | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

    Uma família denuncia ter a casa invadida por oito policiais do Batalhão de Choque na noite de quinta-feira (20/12), no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro. Eles apontam que o grupo de militares agrediu um jovem de 18 anos e a ameaçou todos que estavam no local.

    Era por volta das 10h quando os policias invadiram a casa de uma moradora na região chamada Alvorada do Capão, segundo seu relato. Ela conta que estava deitada, levantou no susto com a invasão e estava sendo xingada e ameaçada pelos homens.

    “Eles chegaram entrando sem mais nem menos. Nem pediram licença, vieram já xingando”, disse a mulher, que pediu anonimato por medo de sofrer represálias. “Eu sou nascida e criada aqui no Alemão e nunca tinha acontecido isso. Eles me xingaram, minha irmã e meus filhos… Todos xingados com palavrões”, conta,

    De acordo com o relato, os policiais ficaram ainda mais agressivos com a revolta da mulher. “Eu respondi que eles não podiam entrar na casa de moradores daquela forma porque são pagos para nos defender. A gente também é cidadão de bem, quem mora na favela também tem direitos. Quando falei isso eles se alteraram mais ainda”, relembra.

    A mulher é mãe de quatro filhos, sendo dois homens e duas mulheres. O rapaz mais velho, de 18 anos, virou alvo de agressões, como ela conta. “Um dos policiais queria agredir meu filho de 18 anos. Perguntou por que ele estava dormindo e não trabalhando. Eu respondi que meu filho é estudante e está de férias. Se alistou no exército, se apresentou em novembro e vai voltar para lá em janeiro”, acrescentou.

    “Achei isso uma humilhação. Eu e minha família só não fomos agredidos porque eles acharam que a gente estava gravando e também porque comecei a gritar. Os vizinhos saíram para fora de casa e os policiais começaram a xingar eles também”, conta a mulher, que diz ter recebido voz de prisão de um dos PMs. “Dois deles foram mais educados. Falaram que se me levassem, eu poderia falar que os policiais agiram com abuso de poder”, continua.

    “Minha irmã ficou muito nervosa, meu filho de 13 anos chorou muito. Meu neto de sete ficou todo encolhido no banheiro de casa, com medo. Tenho medo de polícia. Eles mataram meu sobrinho em 2014. Em setembro fez quatro anos da morte dele”, finalizou a moradora, que reclamou pelo fato de os abusos ocorridos na quinta-feira não terem sido divulgados pela imprensa.

    Seu sobrinho, Marcos Vinicius Soares, de 17 anos, morreu em setembro de 2014, baleado na Nova Brasília, também no Complexo do Alemão. “Foram os policiais que mataram ele. Minha irmã ficou mais doente do que já era. Eu tomo até hoje remédio para depressão”, diz a mulher.

    A Ponte solicitou posicionamento para a PMERJ (Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro), mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.

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