Victória Manoelly, de 16 anos, foi morta por um tiro disparado por um PM que agredia seu irmão. Presença de policiais no cemitério deixou família intimidada
O velório da adolescente Victória Manoelly dos Santos, de 16 anos, baleada e morta por um PM que abordava o seu irmão, foi marcado pela presença de policiais militares. À Ponte, um familiar da adolescente contou que entre os mesmos agentes que participaram da ocorrência circularam em viaturas no entorno do velório, próximo ao Cemitério Municipal de Guaianases, na zona leste de São Paulo. A família participava da cerimônia entre sábado (11/1) e domingo (12/1).
Parentes de Victória contam que se sentiram intimidados e com medo da situação. “Eles estavam passando a madrugada toda”, conta um deles. Abalado com a perda, o familiar afirma que a busca agora é pela responsabilização do PM que atirou na adolescente. “Nós queremos justiça”, diz.
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Márcia Gazza, representante das Mães em Luto da Zona Leste — grupo que reúne familiares de vítimas de violência —, esteve no velório de Victória e confirmou a presença de viaturas em frente ao cemitério durante o período de velório.
“Nós presenciamos a polícia passando toda hora ao lado do velório.” Meu pensamento é de que [a presença] era para deixá-los [família de Victória] com mais medo. Eles queriam intimidar mais as vítimas”, fala Márcia.
Adolescente morta por PM
A adolescente Victória Manoelly dos Santos foi morta com um tiro disparado pela arma do sargento Thiago Guerra na última sexta-feira (10/1), em Guaianases. Victória e o irmão Kauê Alexandre, 22, estavam com a mãe Vanessa Priscila dos Santos, em frente a um bar. Do estabelecimento, o grupo viu uma pessoa correndo, supostamente fugindo de policiais.
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Depois de passar correndo, um dos agentes, Thiago Guerra, voltou ao bar e passou a abordar Kauê. Guerra acertou uma coronhada no jovem, momento em que a arma disparou e acertou Victória. Para a Polícia Civil, que já concluiu o inquérito, Thiago agiu com dolo eventual por assumir o risco de matar ao dar a coronhada. O PM teve a prisão preventiva decretada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).
Prática de intimidação
A presença de policiais em velórios de mortos pela própria corporação não é novidade. Em outubro do ano passado, policiais militares de Bauru, no interior paulista, invadiram o velório de Guilherme Alves Marques de Oliveira, 18, e agrediram familiares do jovem morto.
Imagens que circularam nas redes sociais mostraram a mãe do jovem, Nilceia Alves Rodrigues, 43, abraçando o filho Fabio Nascimento, 27, enquanto policiais o socavam no rosto e o agrediram com cassetete. A cena aconteceu ao lado do caixão onde Guilherme era velado.
Os PMs também agrediram outras pessoas presentes ao velório e chegaram a derrubar Nilceia no chão. À Ponte, ela afirmou ter levado um mata-leão, golpe proibido pela corporação desde 2020.
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Outro caso recente ocorreu em Santos, no litoral paulista, durante o velório do menino Ryan da Silva Andrade dos Santos, 4. A criança foi baleada na frente da casa de um parente enquanto brincava com amigos. Um dia após sua morte, o coronel Emerson Massera, porta-voz da PM, disse em entrevista coletiva que o tiro “provavelmente” partiu de um policial.
Morto em novembro, Ryan tinha perdido o pai em fevereiro: Leonel Andrade Santos, 36, foi fuzilado junto com o amigo de infância Jefferson Ramos Miranda, 37, durante a Operação Verão — que deixou mais de 56 mortos pelas forças policiais na Baixada Santista.
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Durante o velório de Ryan, policiais da Força Tática do 21º BPM/I também fizeram abordagens em frente ao cemitério. Mesmo questionados pelo então Ouvidor das Polícias, Cláudio Silva, sobre a presença no local, os agentes não se intimidaram e chegaram a bater boca com o Ouvidor.
Um sargento chegou a dizer que estava no local porque poderia haver queima de ônibus por causa do enterro.
O que diz a SSP
A Ponte procurou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) questionando a presença policiais no velório de Victória. Não houve retorno até a publicação. Caso haja, o texto será atualizado.