Caso aconteceu em Desterro, em São Luís (MA); “Eles falaram que meu sobrinho era suspeito. Suspeito de quê? Suspeito porque é pobre e negro”, lamenta tia de jovem
Durante uma abordagem policial na tarde da última quarta-feira (15/7), PMs do Batalhão Tiradentes, que realiza patrulhamento com motos, agrediram moradores de Desterro, periferia do centro de São Luís, no Maranhão. A ação foi gravada por celular. Por volta das 17h, o atleta de caratê Yan Santos Arouche, 20 anos, que trabalha como garçom no Bar do Francisco, foi abordado com violência pelos policiais.
Yan estava descarregando uma encomenda para o seu patrão quando a PM chegou no local. Ele e outro garçom, branco, foram abordados, mas só Yan foi colocado contra a parede, enquanto um PM apertava a sua mão com força. Depois que questionou por que estava sendo tratado daquela forma se estava no horário de trabalho, os PMs começaram a agredi-lo com socos.
Um vídeo obtido pela Ponte mostra quando o sargento reformado Josivaldo Mendes Pinheiro, 55 anos, cliente do bar onde Yan trabalha, tenta impedir a ação, mas acaba sendo agredido. Nas imagens é possível ver o momento em que Yan é puxado pela gola da blusa e encostado na parede. Na sequência, Josivaldo entra na frente para que um dos PMs não bata no jovem.
Os policiais que participaram da ocorrência foram identificados no boletim de ocorrência como Karlos Alberto Sousa Castro, Luís Thiago Correia Moraes e Moacir Coelho de Sousa Neto. Nas imagens, um quarto PM aparece na ocorrência, mas o nome dele não consta no B.O.
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Enquanto a ação acontecia, moradores gritavam para que a polícia não fizesse aquilo. A ação envolveu quatro PMs, sendo que um deles permaneceu com a arma na mão durante toda a abordagem. Yan foi levado para a delegacia por desacato. O sargento Mendes foi detido por tentativa de homicídio e está preso desde então.
Em entrevista à Ponte, a recepcionista Keitylene Leite Santos, estudante de serviço social e tia de Yan, denunciou que a família foi ameaçada na delegacia. “Eles [policiais] nos intimidaram a todo o momento. Falaram que a nossa família era de vagabundos, que se o cara que defendeu o nosso sobrinho não fosse militar ele ia levar tiro na cara”, alega.
“Estamos amedrontados porque, quando meu sobrinho foi fazer o corpo de delito, os policiais falaram que, da próxima vez, iam colocar uma ‘coisinha’ dentro do nosso bolso”, afirma Keitylene. “O Yan é um menino muito sensível e ficou bastante abalado. Eles falaram que o Yan era suspeito. Suspeito de quê? Se ele estava trabalhando? Suspeito porque é pobre e negro”.
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A mãe de Yan, Francilene Leite Santos, 38 anos, aponta que a violência policial é frequente na região. “Eles [PMs] só vem com brutalidade. Fazemos um pedido de socorro para que eles parem com esse excesso de poder”, aponta. “O caso do meu filho foi um caso de racismo, sim. Por ser negro, o policial disse ‘como eu ia saber que ele é trabalhador?’, mesmo tendo liberado o funcionário branco. Eu tenho medo de matarem meu filho, porque isso é o que mais vemos”.
A União de Moradores do Centro Histórico de São Luís divulgou uma nota de repúdio contra a ação: “A UMCHSL se solidariza com o jovem e com o senhor, bem como suas respectivas famílias, e afirma que permanecerá firme na defesa de seus moradores de conduta ilibada, contra os excessos cometidos pelos agentes do estado”.
No Twitter, Francisco Gonçalves da Conceição, secretário de Direitos Humanos e Participação Popular do Maranhão, em resposta a um usuário, disse que “todas as denúncias de violência policial, abuso de autoridade, podem e devem ser informadas à Ouvidoria de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Juventude”. O governador Flávio Dino (PCdoB-MA) não se pronunciou sobre o assunto em suas redes sociais.
O que diz a Polícia
No boletim de ocorrência, registrado como resistência, desacato, lesão corporal e ameaça no Plantão Central Cajazeiras, os policiais relataram que realizavam uma “habitual ronda” quando acharam o comportamento de Yan suspeito e que o jovem teria chamado os policiais de “filhos da puta”, afirmando que os PMs deveriam respeitar a área de facção criminosa.
O sargento Josivaldo, no relato dos PMs na delegacia, teria afirmado que a equipe da PM era formada por bandidos e sacado uma arma de fogo, por isso os policiais precisaram se impor para “conter uma possível tentativa de disparos”.
A família de Yan, na sequência, abriu um boletim de ocorrência de lesão corporal, afirmando que o jovem estava no trabalho quando foi abordado pelos PMs que iniciaram uma abordagem violenta e o agrediu.
Procuradas, a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão e a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Participação Popular não se manifestaram até o momento de publicação. A reportagem solicitou entrevista com os três policiais citados.
Matéria atualizada às 11h40 do dia 19/7 para inclusão da informação sobre o governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB
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