Depoimentos de testemunhas e provas obtidas em investigações preliminares da Polícia Civil apontaram mentira em versão apresentada por PMs, que teriam executado jovens suspeitos de terem roubado carga na zona norte de SP
Os policiais militares Ricardo Canto Bugallo e Douglas Eduardo Mestre, do 1ª companhia do 18º BPM/M (Batalhão da Polícia Militar), foram presos em flagrante no sábado (08/07) sob a suspeita de terem praticado homicídio doloso (com intenção de matar) contra dois suspeitos de terem roubado uma carga de cigarros na região da Brasilândia, zona norte de São Paulo.
Segundo os PMs, eles haviam sido acionados para uma ocorrência de uma pessoa baleada no local na rua Alberto Buriti na manhã da última sexta-feira (07/07). De acordo com policiais que que preservaram o local do crime, Bugallo e Mestre, da Rocam, afirmaram que, assim que chegaram na rua, se depararam com manchas de sangue em frente a uma casa. Eles, então, chamaram a dona da residência e pediram para averiguar.
Durante a averiguação, na parte de cima da casa, os PMs afirmaram terem visto Kaique Sampaio de Sousa, de 24 anos, formado em Administração de Empresas, e o jovem Jhonatas Correia de Oliveira, de 22 anos. Ainda segudos os PMs, os jovens atiraram contra eles, que revidaram. A dupla chegou a ser socorrida e levada ao Pronto-Socorro Penteado, mas não resistiu aos ferimentos.
Segundo a Polícia Civil, momentos antes desse acionamento ao qual os PMs se referiram, já havia uma ocorrência nas intermediações envolvendo roubo a um caminhão que transportava carga de cigarros. E, segundo a polícia, essas duas ocorrências poderiam ter ligação.
No entanto, durante investigações preliminares de agentes do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, a versão dos PMs foi contrariada por mais de uma testemunha.
Os dois jovens, bastante machucados, teriam procurado ajuda dentro da casa. Eles eram conhecidos da dona da residência. Com a chegada dos PMs, eles subiram para o telhado, fungindo dos policiais, que os localizaram e renderam. Segundo as testemunhas, mesmo rendidos, os suspeitos foram baleados, o que fere o Código de Conduta da PM.
Com as informações, a suspeita da Polícia Civil é de que não houve homicídio decorrente de oposição à intervenção policial, e sim de um homicídio qualificado doloso, com intenção de matar, praticado pelos PMs.
O motorista e o ajudante, que haviam sido roubados naquele mesmo dia, reconheceram os dois como os assaltantes que praticaram o crime. No entanto, eles reconheceram apenas uma pistola, de brinquedo, que teria sido usada pelos jovens.
Segundo a versão dos PMs, havia uma outra arma e houve troca de tiros. Troca de tiros com a pistola reconhecida, por ser um simulacro, não houve. E nenhuma testemunha, nem as vítimas do roubo, reconheceram a outra arma, calibre 38, apresentada pelos PMs como sendo dos jovens mortos.
Com essas provas, o delegado Paulo Francisco Bilynskyj, do 74º DP (Distrito Policial), na Parada de Taipas, lavrou auto de prisão em flagrante contra os PMs, que foram encaminhados ao presídio militar Romão Gomes, no Jardim Tremembé, zona norte de SP.
A reportagem da Ponte Jornalismo solicitou entrevista aos PMs através da corporação e também da SSP (Secretaria da Segurança Pública), através de sua assessoria de imprensa, paga com dinheiro público à CDN Comunicação para fazer o relacionamento da pasta com a imprensa.
Os pedidos de entrevista não foram atendidos. Sobre o caso, a SSP não se manifestou até a publicação desta reportagem.