Homem cobrava que dois homens que supostamente teriam furtado celulares fossem espancados em SP; grupo protestou contra ‘ditadura do STF’
Cerca de cinco mil pessoas estiveram na Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, para questionar a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que proibiu a prisão como consequência certa de condenação em segunda instância pela Justiça. O clima não era nada amistoso, principalmente quando dois homens foram acusados pelos manifestantes, sem provas, de furtar celulares.
Por volta de 17h, um dos caminhões de som lançou um alerta a quem vestia suas camisetas de cores verde e amarela. “Cuidado com os seus celulares, seus pertences! Já tem gente abusando dessa mudançazinha que o STF proporcionou, está certo? Cuidado aí, está cheio de malandro no meio já se prevalecer”, disse um homem ao microfone.
Menos de 30 minutos depois, os manifestantes já tinham dois alvos: um homem de origem boliviana, com camiseta da banda de rock Iron Maiden (as pessoas o acusaram de dar o celular furtado para uma mulher, que fugiu), e um rapaz de camiseta preta. Ambos foram hostilizados e agredidos com socos, alguns comedidos pela presença dos policiais, outro forte, dado na costela do primeiro homem, pelas costas, fora da visão da PM.
“Ah, vocês são tudo ladrãozinho?” “Você é cubano? É cubano? “, questiona um homem, que dá um soco para empurrar o rapaz de óculos. Enfurecido, ele é contido pelos policiais e outros manifestantes. “Lincha ele, não dá nada. Pode linchar que não dá nada!”, esbravejou. Os homens foram levados para a polícia e ficou constatado que não havia provas de que haviam furtado aparelhos celulares.
Havia dois caminhões na Paulista: um em frente à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), organizado pelo coletivo Vem Pra Rua, e outro na frente do Masp. A avenida estava fechada por conta da grande expectativa de público na manifestação, segundo explicado por agente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Outros grupos que puxaram o protesto foram o Nas Ruas e o MBL (Movimento Brasil Livre), que retornou às ruas e tinha um agrupamento de 50 pessoas incitando a manifestação.
As cobranças e acusações eram pesadas. “O STF implementou ditadura”, “impeachment dos ministros”, “STF é um lixo, cambada de vagabundos”, “Lula ladrão, de volta para a prisão”, “nossa bandeira nunca será vermelha” e “queremos a volta da prisão em segunda instância” eram gritos dados durante o ato.
“Nós queremos que para a segunda instância tenha que ir para a prisão e o mundo inteiro tem a primeira instância e já vai para a prisão. Aqui, na segunda liberaram tudo?! Quantos bandidos, estupradores irão para a rua agora?”, questiona a empresária Carla, 58 anos, que não informou seu sobrenome, dizendo que “não podemos deixar a Lava Jato morrer”.
Na quinta-feira (7/11), os ministros do STF decidiram por 6 votos a 5 revogar a prisão para pessoas que receberam condenação em segunda instância. A aplicação prática da medida afeta menos de 5 mil pessoas, segundo estudo do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), e não vale para pessoas encarceradas por prisão preventiva. Esse tipo de cerceamento de liberdade pode ocorrer antes mesmo de condenação em primeira instância ou no transcorrer do inquérito policial.
Os protestos aconteceram em outras capitais de estados brasileiros e do Distrito Federal. Além de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília e Recife tiveram suas manifestações próprias contra a decisão do STF.
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