Polícia Civil investiga possível ameaça do PCC a torcidas organizadas de SP

    Áudios que seriam de líderes de organizadas dizem que facção criminosa determinou fim das brigas. Torcedores se reuniram no dia 4 para homenagear vítimas da tragédia com o avião da Chapecoense

    Torcedores unidos em homenagem às vítimas do acidente da Chapecoense no último sábado (4), em frente ao estádio do Pacaembu - Foto: Reprodução/Facebook
    Torcedores unidos em homenagem às vítimas do acidente da Chapecoense no último sábado (4), em frente ao estádio do Pacaembu – Foto: Reprodução/Facebook

    As principais torcidas organizadas dos quatro grandes clubes de São Paulo – Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo – procuraram a Polícia Civil na última terça-feira (6) para anunciar que selaram um pacto de paz com o objetivo de acabar com a violência no futebol. Os líderes das uniformizadas disseram que já conversavam há três meses sobre o acordo e que, após a tragédia com o avião da Chapecoense, decidiram firmar a paz entre todos os que frequentam as arquibancadas.

    No entanto, a polícia investiga a hipótese de o acordo ter sido selado após um “salve”, ou seja, uma determinação que surgiu da Penitenciária de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, onde está presa a cúpula da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Desde a última segunda-feira (5), quatro áudios de conversas que seriam entre integrantes das torcidas circulam por grupos de WhatsApp, incluindo os restritos a policiais. Os rapazes afirmam terem recebido ameaças do crime organizado caso haja brigas e mortes entre torcidas.

    A Polícia Civil divulgou nesta quinta-feira (8) ter aberto inquérito para apurar a veracidade dos áudios. Quem vai investigar o caso é a delegada Margarete Barreto, da Drade (Delegacia de Polícia de Repressão e Análise aos Delitos de Intolerância Esportiva), subordinada ao DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa).

    Outra hipótese levantada pela polícia é que as organizadas estejam aproveitando a onda de “fair play” para terem um voto de confiança da sociedade e dos órgãos de segurança pública, sem ligação alguma com o PCC.

    Um investigador do DHPP, que pediu para não ser identificado, confirmou à Ponte Jornalismo a veracidade dos áudios na quarta-feira (7). “O PCC deu a ordem para acabar com as brigas. O que a gente investiga é qual o interesse que a facção tem com isso, ou seja, no que estaria interferindo as brigas com o negócio do PCC”, disse. “A Polícia Civil identificou como reais as conversas. Mas detalhes podem atrapalhar investigações maiores”, complementou.

    Confira o que dizem os áudios que seriam de quatro representantes de torcidas organizadas:

    “Quem deu o salve foi o maninho Marcola. Acabou a briga, mano. Acabou a guerra de torcida. Se tiver… Quem vai [morrer] é os líderes (sic) aí, ó! Os caras da [Zona] Norte tavam falando aí. Acabou, mano. E, se matar, quem vai morrer é os líderes (sic)”.

    “Tô vindo da subsede agora. Os caras pediram uma reunião, né?! Esses bagulhos de torcida aí… Segundo eles, se reuniram com a ND lá, né, o Baby, o Batata, o Negão, e receberam ordem do Marcola… De que não é pra ter briga nenhuma de torcida. Nem morte, nem briga, nem nada. (…) O cara que brigar, vai apanhar; e o cara que matar, vai morrer. É ordem do PCC, entendeu? As quatro torcidas de São Paulo. Interior… Onde for, não pode ter briga, nem morte, nem nada. Ordem do Marcola. O bicho vai pegar, hein?!”

    “Acabou. Acabou, irmão. Pelo o que eu fiquei sabendo aí, a ideia é quente. Acabou as ideia (sic) de briga. Quem arrumar confusão aí, vai azedar. É sério mesmo. Tô sabendo aí. Tá todo mundo já falando essa caminhada aí. Entendeu? Azedou o molho”.

    “O bagulho acabou as brigas, parceiro. É nós que é a frente do barato (sic), devido a [Zona] Norte aí, vai fazer a reunião. Isso cabe para todas as quebradas. Não tô brincando. É referente o comando. Pôs a pedra em cima do bagulho, tá ligado? (…) Se brigou na Zona Norte, vai berrar pra nós que é liderança (sic). Certo? Matou um moleque que é inimigo, nós vai morrer também (sic), tio. Tá vendo esses bagulhos no estádio, todo mundo junto? Quando eu vi isso, eu pulei fora. Acabou. Não tem mais briga, não vai ter. Quem tiver, segura o bagulho. Infelizmente, aconteceu o que não era pra acontecer. Se ver os inimigos, se marcar, tem que ir pro jogo até junto, que nem tá aí, ó. Eu mesmo, pra mim, não posso ficar nessa fita, não, porque é o seguinte: o barato é torcida uniformizada. Já que acabou, acabou. Tô fora”.

    De acordo com a diretora do DHPP, Elisabete Sato, os presidentes das quatro grandes torcidas afirmaram querer o fim da intolerância no futebol. Por isso, ofereceram um pacto, com o slogan “mais festa, nenhuma violência”, para que eles possam assistir aos clássicos este ano com as torcidas rivais no estádio. Até a quarta-feira (7), ela não confirmava a veracidade dos áudios dos supostos quatro torcedores.

    Desde abril deste ano, os clássicos ocorridos em São Paulo tiveram torcida única. A medida havia sido pedida pelo MP (Ministério Público) à FPF (Federação Paulista de Futebol) e foi anunciada com aval da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo após a morte de um torcedor em São Miguel Paulista, na Zona Leste, depois de um jogo entre Palmeiras e Corinthians válido pelo Campeonato Paulista de 2016.

    No último sábado (4), as quatro torcidas dos clubes de São Paulo se uniram em frente ao estádio do Pacaembu em solidariedade às vítimas da tragédia que matou 71 pessoas em um voo que levava a equipe da Chapecoense a Medellín, na Colômbia.

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