Trabalho seguiu versão do policial Willian José Pinto, autor do tiro que acertou a nuca de Peterson Silva de Oliveira, 18 anos, em janeiro de 2017
O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil de São Paulo fez nesta quarta-feira (4/11), a reconstituição da morte do estoquista Peterson Silva de Oliveira, 18 anos. O rapaz morreu no dia 14 de janeiro de 2017, atingido na nuca por um tiro disparado pelo PM Willian José Pinto.
Passados 3 anos e 10 meses, não há a definição se o policial e seu parceiro, Ricardo Awazu Fidelis Silva, responderão em júri popular pela morte. Fidelis dirigia a viatura naquele dia, enquanto Willian teria disparado para o alto e, depois, acertado o rapaz.
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A reconstituição feita no Jardim São Luís levou em conta somente a versão do policial Willian. Isto porque no dia 27 de junho de 2018 aconteceu a primeira reconstituição da morte. À época, testemunhas, familiares e o PM Fidelis estiveram presentes, enquanto Willian não.
Os investigadores seguiram a versão descrita pelo policial. Ele conta, conforme Boletim de Ocorrência, que estava em patrulhamento na região e ouviu um tiro. Ao chegarem na Avenida Jacobus Baldi, Peterson teria disparado contra os dois PMs.
Willian explicou à Polícia Civil que se sentiu “obrigado a reagir”. Foi quando atirou e acertou Peterson na nuca – o policial não detalha como uma pessoa levou um tiro na parte de trás da cabeça enquanto estaria trocando tiros frente a frente com PMs.
A versão das testemunhas é bem diferente. Quatro amigos de Peterson ouvidos pela Ponte em 2017 contaram que o rapaz estava em uma festa de 15 anos naquele dia 14 de janeiro quando uma viatura da PM com giroflex e sirene desligados chegou em alta velocidade.
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Eles relembram que um dos PMs teria saído do carro e jogado uma bomba na direção do grupo de amigos, que correu nos dois sentidos da avenida. Uma nova bomba teria explodido no pé do policial.
As testemunhas contam que o policial, que seria Willian, atirou para o alto ao correr atrás das pessoas. Logo depois, ele apontou para o outro grupo, que subia uma ladeira, e atingiu Peterson. O rapaz caiu com o rosto no chão.
Tatiana Silva, 37 anos, mãe de Peterson, presenciou parte da reconstituição. Conta não ter podido fotografar nem gravar a mando da delegada do caso. “Fui só assistir porque a delegada dispensou as testemunhas, só ficou mesmo o Willian”, explicou.
A mãe não conseguiu detalhar a reconstituição passo a passo. O motivo ela explica: “É bem difícil. Faz quatro anos que eu estou buscando Justiça e até agora está no pé que está. Se está assim é porque eu corri atrás, independente do resultado”, afirma.
Passados quase quatro anos, a mãe deixou o Jardim São Luís. “Minha vida mudou desde aquele dia, não sou a mesma pessoa. mudei residência, mudei local… tudo mudou, não é como antes. Vida a base de remédio, me sinto emocionalmente bem abalada”, desabafa.
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Taty, como é chamada pelas mães que lutam por Justiça, como as Mães de Maio e Mães da Zona Leste, lamenta que precisa correr atrás para mostrar ao Estado que seu filho “não era só um número, era um ser humano”. ” Não merecia morrer da forma que morreu”.
O advogado Raul Abramo Ariano, 30 anos, acompanha a família de Peterson no processo. Em sua avaliação, foi feito “pouco” desde a morte do rapaz até agora. “Tinha uma audiência para julho e por conta pandemia não aconteceu, assim como a reconstituição, que aconteceu nesta quarta”, diz.
O defensor explica que é preciso ter os laudos de perícia com a reconstituição para o juiz poder analisar as provas da morte, bater com os relatos dos policiais e das testemunhas. Só aí ele poderá definir se os PMs responderão ou não pela morte de Peterson. “De fato demora”.
A Ponte questionou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo sobre o tempo discorrido do crime até a reconstituição e os motivos desta demora. Segundo a pasta explicou, em nota enviada pela assessoria de imprensa terceirizada, a InPress, às 21h05 da quinta-feira (5/11), Willian não participou da primeira reconstituição “por motivo de licença médica”. “O caso foi investigado pelo DHPP, que concluiu o inquérito com indiciamento”, afirma a SSP.
A reportagem buscou a advogada Patrícia Penna Saraiva Marques, responsável pelo escritório Gaia Advogados Associados, que faz a defesa dos policiais. No entanto, ninguém atendeu o telefone disponibilizado no site em ligações feitas durante a tarde de quarta-feira.
Atualização às 11h50 da sexta-feira (6/11) para incluir posicionamento da SSP.