Morte de Guarda Municipal de Santo André em tentativa de roubo pode ter motivado os crimes
O DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil de São Paulo, e a Corregedoria da Polícia Militar investigam, além de policiais militares, a participação de GCMs (guardas civis municipais) no sequestro e morte dos cinco jovens que desapareceram em 21 de outubro, na zona leste de SP, e foram encontrados mortos domingo (6/11), em uma mata em Mogi das Cruzes (Grande SP).
Uma das linhas de investigação do DHPP para a chacina contra os cinco rapazes tem relação com a morte Rodrigo Lopes Sabino, 30 anos, GCM de Santo André (Grande São Paulo). Sabino era agente de segurança de Oswana Fameli, prefeita em exercício da cidade no ABC paulista.
Os corpos de César Augusto Gomes Silva, 19 anos, Jonathan Moreira Ferreira e Caique Henrique Machado Silva, ambos de 18, Robson Fernando Donato de Paula, 16, e Jonas Ferreira Januário, 30, foram encontrados no domingo (06/11), em um matagal na Estrada Taquarussu. Os corpos estavam em covas rasas e cobertos com cal (para acelerar o processo de decomposição).
Perto deles, os peritos encontraram cápsulas de munição .40 (de uso restrito das forças de segurança). O rastreamento da Corregedoria (órgão fiscalizador) da PM apontou que algumas das cápsulas de .40 pertenciam a dois lotes comprados pela Polícia Militar de São Paulo da CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos). Outras cápsulas, também de .40, haviam sido compradas pela Polícia Civil.
Munições de revólver calibre 38 e de escopeta calibre 12 também foram utilizadas pelos assassinos dos cinco rapazes. Os corpos deles não tinham ferimentos de munição de pistola .40, segundo os médicos legistas e peritos.
Até a publicação desta reportagem, três dos cinco corpos haviam sido identificados oficialmente: Caíque Henrique Machado, Cesar Augusto Gomes, e o cadeirante Robson de Paula, que foi decapitado.
Nesta terça-feira (8/11), a Corregedoria da PM fez buscas em um sítio perto do local onde os corpos dos jovens foram encontrados e localizou cal e munições. Esse sítio, segundo os investigadores, foi alvo de busca e apreensão por ser conhecido como um local bastante frequentado por PMs.
Outra evidência investigada pelo DHPP sobre uma possível participação de agentes das forças de segurança no sequestro e mortes dos cinco rapazes foi a consulta dos dados de dois deles feitas por PMs que atuam na região onde o grupo vivia, no Jardim Rodolfo Pirani.
Os cinco amigos estavam desaparecidos desde 21 de outubro, quando saíram do Jardim Rodolfo Pirani para uma festa na cidade de Ribeirão Pires (Grande São Paulo).
‘Demônios daqui’
O GCM foi morto com um tiro na nuca, durante uma tentativa de roubo, por volta das 5h de 24 de setembro, no Jardim Ana Maria (Santo André), quando chegava em casa, na rua Miragaia. Ele havia trabalhado para a Prefeitura de Santo André durante o dia 23 e, à noite e na madrugada, fez “bico” (serviço extra-corporação) como segurança.
Horas depois, o carro do guarda (um Palio Weekend) foi encontrado, em chamas, na rua Flores da Primavera, no Jardim Rodolfo Pirani, distante cerca de 6 quilômetros do local do crime contra Sabino. A Flores da Primavera fica a um quilômetro da casa de um dos cinco jovens encontrados mortos na mata de Mogi das Cruzes.
Em um vídeo gravado por outros guardas civis municipais de Santo André, no local onde o carro de Sabino ainda estava em chamas, um deles disse: “São os demônios daqui [que cometeram o crime]”. Na gravação, é possível ouvir uma comunicação por rádio e a citação do nome Romu 31, que é a Rondas Ostensivas Municipais, um destacamento da Guarda Civil Municipal de Santo André.
O carro usado pelos criminosos que atacaram Sabino também acabou localizado pela polícia após o crime. Era um Fiat Uno, de cor escura, registrado em nome de um auxiliar de cozinha.
Nesta quarta-feira (9/11), familiares de um dos cinco afirmaram aos investigadores do caso que ele passou a ser ameaçado recentemente pelo parente de um GCM.
A suspeita dos investigadores do DHPP e da Corregedoria da Polícia Militar é que PMs e GCMs possam ter formado um grupo de extermínio para vingar a morte do guarda Sabino, exatamente como ocorreu em agosto de 2015 nas cidades de Osasco, Barueri, Itapevi e Carapicuíba (Grande São Paulo). Ao todo, entre os dias 8 e 13 de agosto de 2015, 32 pessoas foram mortas nas cinco cidades, em 23 casos distintos, que também deixaram nove feridos.
Para o governo de São Paulo, 25 dessas 32 pessoas foram mortas em 14 atentados que foram retaliações pelos assassinatos do cabo da PM Ademilson Pereira de Oliveira, em 7 de agosto, e de Jefferson Luiz Rodrigues da Silva, GCM de Barueri, em 12 de agosto de 2015. Nesses mesmos 14 atentados (quatro em 08 de agosto e dez no dia 13), outras sete vítimas foram feridas a tiros.
Uma outra linha de investigação do DHPP para a chacina contra os cinco rapazes segue para uma vingança praticada por um homem que teria envolvimento com o tráfico de drogas, seria conhecido como Titanic e ligado ao grupo criminoso PCC (Primeiro Comando da Capital). Um dos cinco mortos teria batido no carro desse suposto traficante e, como não pagou pelo prejuízo, passou a ser perseguido.
Assista ao vídeo:
[…] Fonte: Polícia investiga se grupo de extermínio formado por PMs e GCMs atuou na chacina de jovens da zona… […]