Polícia prende ‘juiz’ de tribunal do crime do PCC

    Wislan Ramos Ferreira, o Jagunço, é investigado por ao menos 50 mortes; em bilhete, líderes da facção ordenaram a morte do delegado-geral de SP

    Policiais de São Matheus prenderam Jagunço em Itaquaquecetuba, na Grande SP | Foto: Arthur Stabile/Ponte

    A Polícia Civil prendeu na madrugada desta quinta-feira (30/04) Wislan Ramos Ferreira, o Jagunço, acusado de ser o “capataz” do PCC (Primeiro Comando da Capital) e autor de ao menos 100 assassinatos cometidos a mando do “tribunal do crime” da facção criminosa.

    Jagunço era procurado desde 12 de junho de 2019, quando policiais do Deic (Departamento de Investigações Criminais) apreenderam uma carta atribuída ao PCC ordenando a morte do delegado-geral da Polícia Civil paulista, Ruy Ferraz Fontes, e de dois investigadores.

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    A correspondência estava em poder de Sandro Cássio de Souza, o Carioca, preso e acusado de integrar a célula “Bonde dos 14” do PCC. Segundo a Polícia Civil, esse núcleo da facção é responsável pelo comando do tráfico de drogas na zona leste e por um arsenal usado em grandes roubos.

    Os investigadores sustentam que Jagunço também integrava o grupo e era responsável pelo controle do crime na região de São Mateus, atuando como “juiz” nos “tribunais do crime”.

    O Deic apurou que esta célula era liderada por Décio Gouveia Luiz, o Décio Português, capturado em agosto do ano passado em uma casa de luxo em Arraial do Cabo, litoral norte do Rio de Janeiro.

    Décio era ligado a Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, o número 1 do PCC, segundo a polícia. As investigações do Deic apontaram ainda que o “Bonde dos 14” fatura R$ 3 milhões por mês com o tráfico de drogas e que Décio cuidava da lavagem de dinheiro para a facção.

    Jagunço estava escondido em uma casa em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, e seus vigias eram dois ferozes pitbulls. Policiais civis da 8ª Delegacia Seccional (São Matheus) tiveram de dar soníferos aos cães para invadir a residência e prender o criminoso.

    Delegados Hélio Bressan (esq.) e Carlos Alberto da Cunha detalham prisão | Foto: Arthur Stabile/Ponte

    Segundo o delegado Carlos Alberto da Cunha, responsável pela ação Jagunço é suspeito de matar umas 100 pessoas. O policial afirmou que “50 ele matou com certeza”. As vítimas, acrescentou Cunha, “eram talaricos (homens que assediam mulheres casadas com outros presos ou criminosos), estupradores, delatores e pessoas com dívidas de drogas”.

    O delegado afirmou que Jagunço era um assassino frio e cruel que andava sempre com uma metralhadora e um machado. O delegado contou que o criminoso chegava até a decepar os rivais. Além disso, ameaçava matar os parentes e amigos das vítimas que, por ventura, procurassem a polícia para denunciar os assassinatos cometidos por ele.

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    Hélio Bressan, delegado da 8ª delegacia seccional de São Mateus, disse que as investigações não terminam com a prisão de Jagunço. “A segunda etapa é procurar os locais onde as vítimas foram mortas e enterradas. A Polícia Civil vai usar cães farejadores para auxiliar nos trabalhos”, revelou.

    Além do bilhete apreendido com Carioca, policiais civis encontraram outro bilhete também atribuído ao PCC. De acordo com Bressan, nessa segunda correspondência, Jagunço foi cobrado pelos integrantes da facção por não ter cumprido a missão de assassinar o delegado-geral.

    Jagunço nasceu na Bahia, onde tem condenação por tráfico de drogas, e veio para São Paulo em 2011. Ele dizia se chamar Dênis. O assassino quase foi preso pelos policiais da 8ª seccional em dezembro do ano passado. Investigadores disseram que na ocasião ele usou a mulher grávida como escudo para fugir ao cerco policial.

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