Estudante de jornalismo espancado por policiais narra que PM humilhou e agrediu manifestantes sem motivo ontem na Praça da República
Kaique Dalapola (*)
Cerca de 60 estudantes, professores e jovens adeptos da tática Black Bloc se organizaram no vão do Masp (Museu de Arte de São Paulo), na Avenida Paulista, no final da tarde desta terça-feira (15/12). Depois de muita conversa entre os estudantes, decidiram iniciar um ato saindo da Paulista e passando pelas ruas Augusta, Xavier de Toledo e Barão de Itapetininga, , fechando as vias, até chegar à Secretaria Estadual da Educação, na Praça da República.
Desde o início, ainda na Paulista, alguns estudantes da Escola Estadual Fernão Dias, a segunda escola ocupada no estado, foram ameaçados por policiais militares, que diziam “quando chegar no centro quero ver você cantar”, entre outras ameaças. Quando o ato chegou na Praça da República, a alguns metros da Secretaria da Educação, os alunos da Fernão Dias que estavam sendo ameaçados entraram na estação República do metrô para ir embora. Isso gerou nítida confusão entre os PMs, que gritaram para os estudantes continuarem até a Secretaria. “Vai arregar? Termina até aí, ‘cuzão’”, disse um dos policiais aos alunos.
Ainda a poucos metros da Secretaria, os policiais fecharam o cerco para que ninguém mais saísse. Eu, que estava pegando alguns relatos dos estudantes para fazer uma matéria sobre o ato, fiquei com alguns professores, afastado do grupo principal. No entanto, quanto mais próximo ia ficando da Secretaria da Educação, mais os policiais me hostilizavam, dizendo “filma nós agora, fica ‘felizinho’ com a manifestação agora”.
Os estudantes chegaram, então, em frente à Secretaria, e alguns deles se sentaram a alguns metros do edifício. Alguns policiais gritaram e a Tropa de Choque foi pra cima dos manifestantes. Começou, então, a correria. Vários estudantes levaram socos, chutes e golpes de cassetete. Fiquei próximo do grupo que estava apanhando e vi um estudante vindo em minha direção, sendo espancado por cerca de sete policiais.
Neste momento, me virei e decidi caminhar, sem correr, em direção à estação de metrô, que estava a cerca de dez metros. Quando me virei, me deparei com um grupo de policiais militares. Caminhei devagar em direção ao metrô, para mostrar que estava trabalhando. Os policiais começaram a gritar: “Corre, corre, filho da puta”. Então comecei a correr. Logo, um grupo de PMs me cercou e eu senti um golpe de cassetete, de cima para baixo, que acertou a minha testa. Fiquei tonto por cerca de 30 segundos, de cabeça baixa. Tentei, por duas vezes, descer a escola rolante, mas ela estava subindo, e os policiais me pressionado, gritando e me cercando. Cheguei, então, na escada fixa, e senti que estava com a cabeça sangrando. Os policias me deram chutes por trás, na tentativa de me derrubar da escada, mas me segurei no corrimão e desci à estação.
Na estação de metrô, não foi permitido que eu passasse pela catraca, por estar sangrando. Depois de alguns minutos, quando limpei o sangue, entrei no metrô, com auxílio de alguns professores e estudantes secundaristas. Depois, fui ao Hospital das Clínicas, onde levei cinco pontos.
(*) Kaique Dalapola, 21 anos, é estudante de jornalismo da FAPSP e autor do blog Fala, Kaique
Outro lado
A reportagem da Ponte entrou em contato, por e-mail, às 16h50 de hoje (16/11), com a Secretaria de Estado da Segurança Pública e com a Polícia Militar do Estado de São Paulo em busca de um posicionamento a respeito do relato do estudante. Aguardamos uma resposta.