Segundo um colega de Wilson, o policial civil prendeu os vendedores em uma grade e tirou fotos dos dois. Boletins foram registrados na delegacia em que o marido da vítima trabalha
O policial civil que prendeu o vendedor ambulante Wilson Alberto Rosa, de 32 anos, no dia 13 de janeiro, trata-se do investigador do 100º DP (Distrito Policial), no Jardim Herculano, Carlos Antônio Correia Filho. Ele é marido da vítima, que foi assaltada em agosto de 2016 e, cinco meses depois, afirmou reconhecer o vendedor de balas como o autor do crime.
Segundo Washington Moraes, que trabalhava com Wilson no cruzamento da Avenida Ibirapuera com Avenida República do Líbano no dia do ocorrido, um homem armado se identificou como policial civil, colocou os dois ambulantes de joelhos e algemou-os em uma grade. Depois de tentar conduzi-los ao seu carro particular e os ambulantes se recusarem a ir, o policial fotografou os dois, de acordo com o amigo de Wilson.
O policial teria então enviado as fotos em grupos de WhatsApp, liberado Washington e levado Wilson para o 100º DP, onde ele atua, conhecido como investigador Correia, e onde sua esposa fez o reconhecimento formal, afirmando que o ambulante seria o homem que lhe roubou um celular e um tablet em agosto do ano passado.
“Se o cara rouba, como disseram que ele roubou seis meses atrás, claro que ele não ficaria trabalhando por todo esse tempo no mesmo lugar”, afirma Larissa Mariana, 25 anos, amiga de Wilson.
Família afirma que ambulante que trabalhava há quatro anos no mesmo lugar foi preso injustamente
Em nota, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) afirmou que Wilson “foi algemado enquanto aguardava a chegada da viatura, mas não foi preso à grade da avenida”, e que o ambulante foi encaminhado à carceragem do 77º DP. Questionada pela Ponte diversas vezes desde a terça-feira passada (17), a pasta não confirmou a identidade do homem que abordou Wilson e sequer se ele realmente era um policial civil.
A reportagem entrou em contato com o investigador Correia, que afirmou que “não pode passar informações por telefone” e “não está autorizado a falar de nenhum caso”.
Os dois Boletins de Ocorrência sobre o caso — o primeiro em 10 de agosto de 2016, quando a mulher do policial foi roubada; e o segundo em 13 de janeiro de 2017, da prisão de Wilson — foram registrados pelo delegado Alfredo Pinto Souza, do mesmo DP que Correia. Na quinta-feira (19/1), Wilson foi transferido para o CDP (Centro de Detenção Provisória) Guarulhos II. O vendedor ambulante não tem nenhum antecedente criminal.
Passeata na Paulista
Familiares e amigos de Wilson Alberto Rosa organizam uma passeata para acontecer na Avenida Paulista, na próxima quarta-feira (25), a partir das 11h. Segundo os organizadores do ato, Wilson está preso injustamente. Ele foi detido no dia 13 de janeiro, enquanto trabalhava vendendo balas no cruzamento da Avenida Ibirapuera com a Avenida República do Líbano, zona sul de São Paulo, suspeito de ter roubado um celular e um tablet em agosto do ano passado.
De acordo com Leandra da Silva, esposa de Wilson, a passeata tem o objetivo de “chamar atenção para mostrar que ele não merece estar lá dentro [do sistema carcerário]”. O ato terá início na Estação Brigadeiro, da Linha 2-Verde do Metrô, e os manifestantes caminharão pela Avenida Paulista, até a Rua da Consolação.
Em nota divulgada em redes sociais sobre o ato, a família do ambulante pede para as pessoas levarem cartazes e vestirem camisetas brancas ou irem “caracterizado de ambulante, vendendo balas”.