Agente se incomodou com tributo feito durante roda de samba, retornou armado com reforço e levou dono do Bip-Bip, no Rio, para delegacia, alegando ter sido agredido
Um policial rodoviário federal prendeu o dono de um bar, em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, após a roda de samba que acontecia no local homenagear a vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, assassinatos no dia 15. Haroldo Ramos de Souza, de 57 anos, se incomodou com o tributo feita pelo Bip-Bip, reclamando pelo fato de ignorar os policiais morto em confronto, e levou o dono do local para a delegacia.
Segundo relato de testemunhas, quando a homenagem começou o agente gritou a respeito dos “200 policiais mortos”, e indo embora pouco depois. O músico Tiago Prata, presente no espaço àquela hora, lembra que o agente voltou meia hora depois mostrando a arma por dentro da calça. “Ele entrou no bar dizendo que estava com o ‘caralho no corpo’ e ameaçou atirar se fosse necessário e ficou fazendo discurso político”, contou.
A PMERJ (Polícia Militar do Rio de Janeiro) foi acionada. Porém, antes do oficiais, um carro da PRF (Polícia Rodoviária Federal) com quatro homens chegou ao bar, de acordo com pessoas presentes, chamados por Ramos de Souza. Uma tenente da PM tentou mediar a ocorrência. Um vídeo obtido pela Ponte mostra Ramos de Souza insistentemente cobrando que a policial o entregasse o dono do bar. “Cadê o dono do bar? Eu, policial rodoviário federal, estou conduzindo o dono do bar. A senhora sabe o que é prisão em flagrante, prisão condução? Sabe o que é isso?”, questionou o agente à PM.
“Claramente foi abuso de autoridade”, avaliou o advogado Ariel de Castro, do Condepe (Conselho Estadual de Direito da Pessoa Humana), citando o art. 3 da Constituição, que atesta “atentado a incolumidade física de qualquer cidadão, se cometido por agente policial ou quem exerce função pública, configura crime abuso de autoridade”. Penas para estre crime são seis meses de detenção e, dependendo do caso, demissão do serviço público.
Segundo o advogado Rodrigo Mondego, não houve acordo e o dono do bar, Alfredo Jacinto Melo, mais conhecido como Alfredinho, acabou levado à delegacia. “Contudo, o policial rodoviário foi intransigente e machista. Disse aos gritos que queria ‘conduzir’ o Alfredinho”, comentou o defensor. Segundo Mondego, o agente afirmou ter sido agredido, mas não soube indicar por quem.
Viatura de reforço da PRF (à dir.), com carros da Civil (centro) e PMERJ (esq.) | Foto: arquivo pessoal
Na noite de segunda-feira (19/3), Alfredinho, deu sua versão do que houve à Polícia Civil, afirmando estar muito triste com o ocorrido e que nunca algo semelhante havia acontecido com ele à frente da casa, conhecido point da música carioca. “Um não pode atrapalhar a alegria de centenas de pessoas”, disse. O advogado afirmou que vai encaminhar o caso para ser analisado no Núcleo de Acompanhamento da atuação policial do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Em nota, a Polícia Rodoviária Federal informou que, por volta das 22h40 de segunda, foi informada sobre tal situação e que uma equipe da instituição foi acionada para verificar e avaliar a conduta do policial. Ainda, cita um périplo de delegacias, que foram da 12° DP para a 13°DP para, finalmente, ser registrada no 14° DP. Para a PRF, “não houve nenhum registro de comportamento que configure desvio de conduta funcional, representando tão somente atitudes e opiniões pessoais do servidor.
A Ponte entrou em contato com a Polícia Civil para ter outros detalhes, mas não obteve qualquer retorno até o momento.