No episódio 50, entrevistamos a socióloga e jornalista Réia Silvia Pereira, que pesquisou a relação do funk com as religiões neopentecostais na periferia de Vitória (ES)
Dá para descer até o chão no baile funk e louvar a Deus na igreja? A jornalista e socióloga Réia Silvia Pereira afirma que sim. A intersecção entre as duas práticas foi objeto de pesquisa de Réia, que morou por um período em uma favela na periferia de Vitória, do Espírito Santo, para realizar o estudo sob a perspectiva do território.
“A igreja e o funk fazem parte da sociabilidade do jovem da periferia”, disse em entrevista ao PonteCast. Para Réia, é muito limitador acreditar que uma pessoa, tamanha a complexidade das relações e movimentos da vida, seja uma coisa só. E foi isso que ela aferiu durante a vivência na quebrada e a pesquisa junto aos jovens do funk e o movimento neopentecostal, que tem uma penetração muito sólida em periferias de todo o país: a garota que dança até o dia amanhecer no baile funk e no final de semana vai para igreja.
A reportagem questionou Réia onde é possível encontrar o ponto de convergência entre o funk e a religião.
“[O funk e a religião evangélica] se aproximam onde se distanciam: na questão do corpo. No ritual pentecostal, o corpo tem muita importância, os rituais são sensoriais. As pessoas com quem eu conversei que têm contato com Espírito Santo relatam que é uma sensação física de calor, de euforia, de felicidade. O corpo é fundamental, embora seja um corpo cujo recato seja importante, a castidade. Ao mesmo tempo, o corpo no funk é o marcador principal, da dança, do prazer, dos desejos”, explica a pesquisadora.
Na conversa, Réia Silvia Pereira também explica o significado de um termo que é a “política da presença” nas periferias. “Uma vez perguntei para uma integrante da igreja por que eles falavam tão alto, cantavam gritando. E ela me disse: ‘primeiro que a gente fala com Deus, e segundo, porque na favela, quem não grita não é ouvido'”, explica.