Pesquisadora Dália Celeste, da Rede de Observatórios da Segurança em Pernambuco, conversa com a Ponte sobre a relação da ausência de políticas de segurança pública e a LGBTfobia
Dá para falar de segurança pública para corpos LGBTs? Para a Dália Celeste, estudante de direito e criminologia, que também é pesquisadora da Rede de Observatórios da Segurança em Pernambuco e analista na plataforma Fogo Cruzado, a resposta é não.
“Quando falamos em segurança público falamos em ausência. Se corpos não são lidos nem vistos como humanos, são corpos que sistematicamente são corpos que não são dignos de ter esse debate de cuidado e proteção. Falar de segurança para população LGBT é falar de ausência, falar do que não existe”, lamenta.
Para começar a existir um debate de criação de políticas de segurança pública, contextualiza Dália, é preciso dar um passo antes. “Somos corpos vistos como não humanos. A gente precisa exigir essa cobrança que nossos corpos sejam considerados humanos, independente de sexualidade, gênero, raça, cor, etnia, independente de qualquer processo de formação”, aponta.
Dália explica que, no Brasil, há um extermínio de pessoas LGBTs, principalmente pessoa trans e travestis. O processo de violência contra esses corpos, para a pesquisadora, é por meio do ódio. Ela lembra os quatro assassinatos em 28 dias de mulheres trans e travestis no Ceará.
“A sociedade padrão, que é hétero e cisgênera, ensinou que corpos trans são corpos errados e por isso não merecem viver. A gente sabe que é transfobia porque o crime de transfobia é feito com uma violência absurda, como 25 facadas, mutilar as genitais, carbonizar os corpos, além do apagamento das identidades”.
O caminho para mudar essa realidade, explica Dália, não deve ser feito por meio da criminalização da LGBTfobia, mas da educação. “Esses corpos precisam não ser executados. Eu não posso falar de apenas prender, eu quero evitar o crime. Eu não quero saber que uma pessoa foi presa porque a prisão dessa pessoa não vai trazer a vida de uma amiga minha de volta”.
“Como vamos evitar que pessoas trans sejam executadas? Incluindo no mercado de trabalho. Tirando do espaço de marginalização. Mulheres trans entram para a prostituição porque precisam de dinheiro, precisam se alimentar e ficam vulneráveis”, aponta a pesquisadora.
“Para que o crime não aconteça precisamos pensar em políticas públicas. Para potencializar um discurso de empregabilidade, precisamos potencializar um discurso de educação. O mesmo sistema que nega segurança, nega educação, nega empregabilidade. É todo um ciclo”.
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