No episódio 38, conversamos com Rogério Faria, roteirista de história em quadrinhos sobre Carlos Marighella, preso político, guerrilheiro e símbolo da resistência
O roteirista Rogério Faria sempre interesse em entender o soteropolitano Carlos Marighella, preso político, militou no Partido Comunista, lutou contra dois regimes autoritários – Getúlio Vargas, no Estado Novo, e a ditadura militar de 1964 -, foi considerado “inimigo número um” da nação e acabou morto em uma emboscada feita por agentes do Dops e coordenada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury no dia 4 de novembro de 1969.
Mas Faria, quando começou a investir em ler e conhecer a fundo essa figura histórica, decidiu remontar o início de sua vida política e militância: a sua atuação e prisão durante o Estado Novo de Getúlio Vargas. “Ele é muito conhecido pela luta contra a ditadura, mas se você ler a biografia dele você percebe que ele sempre foi o inimigo. Desde a juventude ele contestava os governos autoritários. Aos 19 anos, por exemplo, ele chegou a ser preso porque contestou o Juracy Magalhães, governador da Bahia. Eu quis focar no roteiro quando ele foi preso em 1936 e torturado para não entregar seus camaradas”, explica.
O roteiro passou a ser escrito em 2017 e concluído no ano passado, quando Faria foi atrás de um desenhista para fazer a parceria. “O Ricardo Sousa se interessou e está fazendo um trabalho muito bacana”, afirma o roteirista em participação no episódio 38 do PonteCast.
Rogério destaca que Marighella foi uma figura que, na maior parte do tempo em sua história, lutou dentro da institucionalidade. “Ele foi preso várias vezes sem cometer qualquer crime e se indignava com isso. A partir de 1965 é que ele vai para a luta armada, quando percebe que não havia outra alternativa de se relacionar com as autoridades”, explica.
Quando questionado se existiria hoje, no Brasil, alguém comprável a Marighella, Faria acredita que, embora existam muitas figuras de luta no país inteiro, alguém com o peso dele ainda está para se formar. “Acho que também avaliar vivendo no período é mais difícil. Mesmo Marighella no período em que viveu não era tão polêmico como é agora”.
Provocado por Maria Teresa Cruz, Rogério Faria também comenta o quanto a declaração do deputado federal Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do presidente, de um possível retorno do AI-5 (Ato Institucional nº 5, que deu plenos poderes aos militares, fechou o Congresso e aprofundou a ditadura) se relaciona com o debate proposto pela HQ. “Essa declaração do Eduardo Bolsonaro mostra que a gente não conhece a nossa história, a gente não consegue discutir, amadurecer. As pessoas não querem saber quem foi Carlos Marighella. A gente saiu da ditadura e entramos em um processo de esquecer e não de discutir e superar. Há pessoas ansiosas por um retorno desse período por causa desse véu”, explicou.
E, por fim, Rogério estabelece uma analogia entre Marighella e a vereadora Marielle Franco, morta em março de 2018, um crime ainda sem solução. “Marighella representa uma ideia de luta por um ideal e essa luta é maior que a própria vida dele. Os que estão no poder temem esse tipo de pessoa. Marielle, especialmente depois das últimas notícias com relação a investigação que surgiram essa semana, é a figura que empareda o governo. E ela está fazendo isso mesmo depois da forma cruel que ela foi morta. Ela ou o que aconteceu com ela é a inimiga pública número um hoje do governo”, afirma.
Com prefácio de Luis Nassif e posfácio de Cynara Menezes, a Socialista Morena, “Marighella Livre” está em campanha do Catarse. Aumenta o som!
[…] público número 1. Assim era conhecido Carlos Marighella, principal militante no combate à ditadura militar brasileira de 1964 a 1985. Fundou a ALN […]