No episódio 66, o sociólogo José Claudio Alves Souza fala sobre como essa estrutura criminosa se formou e dá as cartas a partir de domínios de territórios
O debate em torno da Medida Provisória 910, a chamada MP da Grilagem por ambientalistas e outros defensores do direito à terra e dos direitos humanos, foi o que impulsionou o convite para que o sociólogo José Claudio Alves Souza, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, participasse da Live da Ponte, que já virou tradição em tempos de pandemia.
A repórter Maria Teresa Cruz, apresentadora da PonteCast, procurou Souza, que estuda milícias há quase 3 décadas, com a seguinte questão: afinal, grilagem, seja em área rural ou urbana, trata sobre domínio territorial, dinheiro e poder. Embora a MP verse sobre terras da União que estão em áreas rurais e acabe impactando mais diretamente os povos indígenas, quilombolas e trabalhadores rurais, no final das contas, o que está em jogo é um debate sobre a estrutura de poder dos que já têm muito e querem mais e mais. Domínio e extermínio do outro.
“Existe um projeto político. Isso passa também pelos grande proprietários de terra, pelo agronegócio. Bolsonaro é o elo de ligação”, afirma José Cláudio.
O sociólogo faz um resgate histórico que passa pela ditadura militar, a redemocratização tão cheia de fragilidades pela qual passou o Brasil, chegando no atual governo, que mais do que retomar alguns elementos do conservador e assassino regime militar, atualiza a ideia do “inimigo a ser combatido” e esse “inimigo” é quem pensa ou é diferente de mim. Para exterminá-lo, vamos usar a violência institucionalizada. “A aliança entre os militares e a canalha assassina sempre existiu”, pontua.
José Claudio também recupera, historicamente, as origens da Baixada Fluminense e um dos seus personagens políticos mais emblemáticos, Tenório Cavalcanti, que fez valer seu modo de pensar na base da bala e também dominou territórios na região, mas que, diante do que são hoje as milícias, parece até um personagem anedótico.
O professor comenta as relações ainda não explicadas entre a família Bolsonaro e as milícias, e explica por que milicianos não podem ser comparados a traficantes.
“Existe a milícia e o tráfico. A ideia de narcomilícia é como se eles se fundissem e isso nunca ocorreu. Existe um elo comum entre milícia e tráfico de drogas. Ambos dependem da estrutura das forças de segurança pública. Mas existe uma diferença fundamental, porque a milícia opera no legal. Milícia se elege. Traficante não se elege”, destaca. “É claro que vão ter acordos. Aqui no Rio de Janeiro, o TCP, Terceiro Comando Puro, é quem vai fazer negócio com milícia, alugar espaço para boca de fumo. E o CV é quem vai bater de frente”, continua.
Aumenta o som!