No episódio 41, Natália Mota fala sobre machismo, retrocessos na política de saúde mental e drogas, e humanidade: ‘onde há necessidade a gente consegue fazer ciência’
Ela foi a primeira brasileira indicada ao prêmio “Nature Research Awards for Inspiring Science and Innovating Science 2019”, da Nature, uma das mais importantes e prestigiadas publicações internacionais na área da ciência. A premiação aconteceu em outubro e, mesmo não tendo vencido, a psiquiatra e neurocientista Natália Mota se sente orgulhosa da trajetória dentro da academia e dos desafios que enfrentou para chegar a esse grau de reconhecimento. Atualmente, Natália está vinculada a duas universidades federais: do Rio Grande do Norte (UFRN) e de Pernambuco (UFPE).
“Nós, mulheres, temos uma carreira expressiva e uma contribuição importante a dar. Eu tive dois filhos durante minha formação como neurocientista e passei muito perrengue”, afirmou Natália durante a participação no episódio 41 do PonteCast, apresentado por Maria Teresa Cruz.
Mulher, mãe, nordestina e neurocientista, Natália desenvolveu um algorítimo computacional que permite diagnosticar a esquizofrenia a partir da fala. A indicação ao prêmio internacional veio justamente por causa disso.
Na conversa, a pesquisadora falou sobre machismo dentro do campo da ciência e a dificuldade que encontrou quando teve seus filhos. “Te colocam num lugar de mãezinha. Você perde seu lugar de doutoranda, de professora, de cientista, você vira mãe. Eu cheguei a passar por situações em que eu ouvi ‘você não é bem vinda aqui'”, relatou.

A neurocientista também compartilhou sua visão sobre saúde mental e a experiência com política de drogas, já que trabalhou em um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Ela criticou a medicalização como forma prioritária de tratamento e apontou ressalvas na defesa da internação e abstinência como única opção.
“A gente quer encontrar respostas simples para problemas de vida extremamente complexos. Mas existem caminhos consolidados, robustos, que se você fizer todo dia é possível. É preciso estar em contato com pessoas que estejam realmente querendo entender aquele sujeito. Não com pessoas que querem isolar aquele sujeito. Os problemas precisam ser resolvidos em comunidade”, avalia.
“Você não priva as pessoas de vida. Estar em comunidade é viver. Você não tem o direito de chegar para um ser humano e dizer: ‘você não vai mais viver, a gente não te aceita’. Medicação ajuda tanto quanto uma muleta ajuda a curar um pé. São limitantes”, pontua. E lança uma provocação: “Muita gente se mete a discutir o problema da cracolândia como se estivesse muito distante da sua realidade, mas chega em casa e não consegue dormir sem o Rivotril”.
Natália Mota também manifestou preocupação com os retrocessos impostos pelo governo Jair Bolsonaro para a área da pesquisa e da ciência, com cortes de verbas e diversos ataques às universidade, mas afirmou que a resistência é a esperança. “A gente faz ciência ‘apesar de’. E isso é que é importante. Ciência é se superar a partir das adversidades”, diz.
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