Por causa de som alto, policiais militares invadem casa e agridem família

    PM de Minas Gerais alega que as pessoas usaram “palavras de baixo calão” e por isso dupla invadiu a casa sem mandado

    Dois policiais tentam imobilizar um homem. Sem sucesso, um deles dá um soco no rapaz e, logo em seguida, vai atrás de uma mulher, mãe do jovem, e também a agride. A irmã, que registra a ação da PM, leva um golpe. As cenas aconteceram em Mirabela, cidade no interior de Minas Gerais, no último sábado (16/5).

    As imagens mostram quando os policiais Leal e Leandro, conforme identificou o homem agredido, dão socos ao menos três familiares. A dupla entrou na casa sem ter um mandado judicial, afirmam as vítimas da violência. Um dos PMs estava com um pedaço de pau.

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    Segundo o morador que foi levado pelos policiais, ele e sua família comemoravam o aniversário de 27 anos da irmã. Vizinhos acionaram a polícia por causa do som alto, que estaria incomodando. O aparelho foi quebrado durante a ação policial.

    Em um primeiro momento, os PMs avisaram as pessoas sobre o problema e foram embora. Contudo, teriam sido novamente chamados por causa do barulho, como a corporação sustenta em nota enviada à Ponte.

    Uma das pessoas agredidas explica que os dois policiais invadiram a casa “agredindo todo mundo”. “Jogaram spray de pimenta, deixaram a quadrada (arma) cair, deram um golpe com o cabo da calibre 12 na minha namorada, deu tapa na cara da minha irmã… Foi um abuso de autoridade total”, detalha a vítima, que não teve o nome divulgado, mas aparece em vídeo publicado no Facebook do advogado criminalista Ércio Quaresma Firpe, que divulgou as imagens com a legenda: “Desabafo deste cidadão aviltado pela ação nefasta de bandidos fardados”.

    “É muita indignação a gente pagar um imposto para ter segurança e a gente ser humilhado, oprimido. Estava em casa com a minha família”, diz o rapaz vítima da agressão, indignado. “Sei que está em tempo de pandemia, mas estávamos em família. Eles não chegaram com luva, máscara. Estavam fazendo a ronda e invadiram a casa”, relata.

    A Ponte procurou Ércio por mensagem para saber se ele simplesmente divulgou o vídeo ou está prestando alguma auxílio jurídico à família, mas ainda não obtivemos retorno.

    Depois das agressões, os policiais conseguiram levar o homem para fora da casa. Em seguida, um deles ainda voltou para levar a irmã, alegando que, como testemunha, ela deveria ir com eles. Com a recusa, foi para cima da mulher, que seguia registrando a ação com o celular. É possível ouvir seus gritos pedindo ajuda.

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    Segundo Rafael Alcadipani, professor da Fundação Getúlio Vargas e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a ação policial em Mirabela é “completamente inadequada”.

    “O protocolo exige uso progressivo da força: primeiro chega conversando, não agindo dessa maneira. Também como tratam as mulheres, um jeito totalmente inadequado. E não existia mandado para entrar na casa”, afirma o especialista, elencando os erros.

    Um dos policiais (2ª foto) carregava um pedaço de madeira | Foto: Reprodução

    Alcadipani cobra da PM mineira apuração para identificar os policiais envolvidos e responsabilizar pelos atos. “Precisa ser visto urgentemente pela Corregedoria para que as medidas sejam tomadas e isso não aconteça novamente. É completamente inaceitável em um país democrático”.

    Questionada pela reportagem, a PM-MG explicou que a ação ocorreu por volta das 2h30, exatamente na segunda chamada por pertubação do sossego feita pelos vizinhos. Explica que as agressões aconteceram porque os policiais foram xingados.

    “Diante de flagrante desobediência, a mesma equipe retornou ao local e nesse segundo contato foram recebidos com palavras de baixo calão, fato que ensejou a intervenção policial, inclusive com uso de força, em razão da conduta resistente dos envolvidos”, sustenta a corporação.

    A Polícia Militar explica que abriu procedimento para apurar os fatos e “para que as providências cabíveis sejam tomadas”. No entanto, não respondeu se os policiais envolvidos nesta ação seguem em trabalho de rua, como perguntado pela Ponte.

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