André Luís Casa, 21 anos, foi baleado por ter colocado a mão na cintura durante abordagem policial
A Polícia Militar de Santa Catarina defendeu em pronunciamento oficial a ação de um PM que matou um jovem de 21 anos, André Luiz Casa, que estava desarmado e não havia cometido crime.
André foi morto durante uma abordagem policial em Joinville, na segunda-feira (27/1). Inconformados, parentes e amigos fizeram um protesto na cidade três dias depois aos gritos de “André”, “justiça” e “polícia assassina”.
“Nós não temos medo porque tudo o que queremos é justiça. Eles não podem matar um garoto com um tiro nas costas e contar a história do jeito que eles quiserem”, diz Ana Beatriz Casa, 17 anos, irmã do rapaz.
Segundo a assessoria da PM, na segunda-feira, por volta das 15h50, André pilotava uma moto no bairro Aventureiro com as mesmas características de uma outra, uma Honda 125 de cor preta, que teria sido utilizada em duas tentativas de homicídio na noite anterior. Durante abordagem, André teria parado a moto, descido e, depois de estar com as mãos levantadas, “levou-as à cintura, buscando algum objeto”, diz a corporação.
“Mesmo diante das ordens de parada, o cidadão não cessou sua atitude suspeita, no que a guarnição realizou um disparo de arma de fogo visando impedir uma reação letal”, prossegue. Nesse momento, um dos PMs atirou nas costas do jovem, que morreu no local.
De acordo com a PM, o rapaz estava com um celular e duas porções de maconha. Não havia arma. A versão da polícia é rebatida pelos familiares e amigos de André, que reuniram aproximadamente 400 pessoas em uma das principais ruas do Aventureiro, mesmo bairro em que ele foi morto. O jovem havia completado 21 anos no dia 2 de janeiro, trabalhava como motoboy e morava com o pai e dois irmãos mais novos.
“Ele morreu com um tiro nas costas. Estava com as mãos levantadas quando pediram para tirar o capacete. O André fez o movimento de tirar o capacete e levou um tiro nas costas, nós temos testemunhas”, lamenta o pai do jovem, o pintor Airto Ricardo Casa, 56 anos.
“Era um guri de 21 anos e chegar atirando pelas costas? Isso não é justo. Imagina você estar em casa, esperando teu filho e vem a polícia avisando que ele está morto. É muito difícil. A polícia é para proteger, não para sair matando”, lamenta Airo Ricardo, que não está trabalhando por conta de um problema na perna. Era André quem sustentava a casa.
O protesto, segundo o pai do motoboy, é também para pedir fim à violência policial. “Nós estamos fazendo isso para não acontecer com outras famílias. Eu estou chorando e vou continuar chorando, mas o que eu queria é que outras famílias não passassem por isso, não chorassem por enterrar seus filhos”, lamenta. “O pessoal que deveria cuidar de nós, está matando. Você enterrar um filho de 21 anos é muito difícil. A polícia é pra cuidar e não sair matando”, critica.
Amigo de infância, Vinicius Michelangelo, de 22 anos, conta que os dois tinham planos de abrir uma loja de artigos para moto. “Nós éramos irmãos, na verdade, fomos criados juntos. Sempre estávamos juntos, agora, a gente tinha planejado abrir uma loja juntos. Como vai ser sem ele?”, questiona.
Para ele, houve despreparo dos policiais. “Nunca teve arma, ele nunca teve arma, parou na abordagem e quando foi tirar o capacete, como pediram, levou um tiro, um tiro certeiro nas costas. Que polícia atira assim, nesse local, pra matar? Não tem como”, afirma. “Não cai a nossa ficha, até agora não caiu. Ele foi confundido com uma outra pessoa suspeita, agora pra eles suspeito é qualquer menino em cima de uma moto? Não é bem assim”, desabafa.
Segundo Vinicius, os policiais continuam atuando nas ruas. “O policial que fez o disparo nem sequer foi afastado do cargo, no mínimo um afastamento e uma punição pra ele, no mínimo. Ele é um assassino, ele assassinou o meu irmão. Ele tem que ir pra cadeia pra que esses policiais vejam que não é assim. Que não é matar a gente, ficar impune e voltar a trabalhar”, diz.
Procurada pela Ponte, a assessoria da Polícia Militar afirma, em nota, que “tem o maior interesse em esclarecer todas as circunstâncias do fato” e abriu um inquérito policial militar para apurar o caso. Questionada sobre a identidade dos PMs envolvidos e se foram afastados do policiamento nas ruas, a corporação não respondeu.