Por que Corpo Delito é tema para toda a sociedade

    O filme, que abre nesta terça-feira (18/4) a Mostra Itinerante Histórias Que Ficam, em São Paulo, capta informações objetivas e subjetivas que retratam a escassez de recursos que impacta a vida de um jovem em liberdade condicional após oito anos preso

    https://vimeo.com/185000302/14453e30d5

    Após oito anos encarcerado, Ivan sai em condicional, monitorado por tornozeleira eletrônica. A única movimentação permitida pela Justiça é de casa para o trabalho, numa fábrica em que aperta parafuso por oito horas por dia, inclusive aos sábados, e do trabalho para casa, numa favela em Fortaleza (CE). Na residência, ele tenta se relacionar com a mulher e a filha que mal conhece, nascida durante a pena. E vê crescer a amizade com um vizinho dez anos mais novo.

    Essa fase da vida de Ivan rende um delicado filme nas mãos do diretor Pedro Rocha, a despeito da sisudez do tema. Mais do que uma boa história contada de forma interessante, Corpo Delito, que abre nesta terça-feira (18/4) a Mostra Itinerante Histórias Que Ficam, em São Paulo, é um material fundamental à sociedade, e não apenas aos ligados à segurança pública.

    Cena do filme “Corpo Delito”, de Pedro Rocha. | Foto: Divulgação

    Jornalista egresso da mídia impressa, Rocha escolheu rodar o filme com técnicas de ficção, fugindo do formato tradicional de documentário com depoimentos, narração e imagens de documentos. Com o cinema observacional, as cenas captam informações objetivas e subjetivas que retratam a escassez de recursos que impacta essa incursão fora da prisão: sociais, econômicos e, sobretudo, emocionais.

    A ideia de usar o hibridismo das linguagens documental e ficcional se consolidou nos laboratórios que Rocha fez no programa Histórias Que Ficam, da Fundação CSN. O filme foi um dos quatro contemplados do edital, que destinou até R$ 330 mil, mais consultoria com diretores e roteiristas e uma mostra em mais de 20 cidades.

    Cena do filme “Corpo Delito”, de Pedro Rocha. | Foto: Divulgação

    “Já havia diálogo com ficção no argumento original, mas a ideia ganhou consciência com a entrada do roteirista Diego Hoefel, indicado pelo (diretor e roteirista) Marcelo Gomes, um dos consultores do laboratório”, comenta.

    Os detalhes captados pela câmera vão além do conflito vivido por Ivan e suscitam discussões sobre políticas públicas para prisioneiros. Para o diretor, o equipamento de monitoramento é um paliativo e não resolve o problema carcerário. “Tem consequências psicológicas e dramáticas para vários apenados. A formulação de políticas públicas tem de considerar esses dados para que a medida não repita a lógica da prisão”, afirma.

    Nesse ponto é que surgem as dúvidas sobre o aparelho numa efetiva ressocialização. “Os gestores precisam começar a ouvir os apenados para formular essas políticas. Não existe processo de escuta para entender como os prisioneiros acham que podem ser ressocializados”, declara.

    Cena do filme “Corpo Delito”, de Pedro Rocha. | Foto: Divulgação


    Sessão e debate

    Corpo Delito tem 74 minutos e será exibido em São Paulo nesta terça-feira (18/4), na Unibes Cultural (Rua Oscar Freire, 2.500, ao lado da estação Sumaré do metrô). Gratuitos, os ingressos serão distribuídos uma hora antes da exibição. Haverá debate após a sessão, com o diretor e os convidados Marina Dias, do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD) e do documentário Sem Pena, e o ex-ministro da Justiça e atual diretor de Relações Institucionais da CSN, Luiz Paulo Barreto.

    A mostra continuará em São Paulo com a exibição de Guarnieri, dia 3 de maio, no CCSP (Centro Cultural São Paulo). Também contemplado com o edital, o filme de Francisco Guarnieri aborda o perfil político do ator e dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri.

    “O Histórias que Ficam aposta no desenvolvimento de novos talentos. Cria um espaço para reflexão e troca de experiências de cineastas em início de carreira de diferentes regiões do país com profissionais consagrados em um trabalho que só termina agora, com a Mostra, quando a obra atinge o público”, conta André Leonardi, Gerente Geral da Fundação CSN. O Histórias que Ficam tem patrocínio da CSN, por meio da Lei Federal de Apoio à Cultura/Ministério da Cultura.

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