Debate organizado pela Ponte Jornalismo traz depoimentos de quem, mesmo inocente, ficou preso e especialistas para analisar as falhas do sistema de Justiça
Como impedir que a Justiça continue a prender e condenar inocentes? Esta provocação foi tema de debate promovido pela Ponte Jornalismo com quem viveu na pele a realidade de ser preso por um crime que não se cometeu, militantes e advogados criminalistas. A roda de conversa aconteceu na livraria e biblioteca Tapera Taperá, no centro da cidade de São Paulo.
Bárbara Querino, presa acusada de dois roubos por reconhecimento feito através de seu cabelo, e Marcelo Dias, educador social acusado de traficar drogas sem ter ligação com quatro envolvidos no crime. A dupla conta as experiências vividas dentro do cárcere e mostram a necessidade de apoio que essas pessoas precisam.
“As pessoas têm que parar e pensar: o que é você estar preso? Precisa se colocar no lugar das pessoas. É muito fácil chegar e falar ‘estou junto com você’. Gente, vamos estar junto real?”, afirmou Babiy, durante o debate. “Se alguém um dia me perguntar onde é o inferno eu digo que é dentro do sistema prisional”, resume Marcelo, que criou um podcast e um coletivo para denunciar prisões injustas.
Além de vítimas diretas do sistema de Justiça, o debate reuniu as advogadas Priscila Pamela dos Santos, integrante do IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa) e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil-São Paulo) e Dora Cavalcanti, advogada criminalista que encabeça o projeto Innocence Project Brasil, que atua em casos de prisões irregulares.
Dora trouxe a reflexão de que pode-se existir falsas memórias quando se tem reconhecimento visual de suspeitos. “Porque o judiciário criou essa cultura de prova oral, de reconhecimento. É tudo bem se condenar com base nisso?”, questiona. Já Pamela traz o seletivo feito pelo sistema de Justiça e a polícia. “O racismo é a estrutura que acaba encarcerando. Nossa cultura é fundada no racismo e isso faz com que todo esteriótipo criminoso seja conduzido para uma pessoa que tenha uma cor e viva em uma região”, pontua.
O ativista Julio Militante, rapper que integra o Sarau Militantes e a Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio, explicou que é preciso denunciar as ações policiais que geram prisões. “Se você ver um ato de racismo e acha que não tem nada a ver por você não fazer o ato, você está colaborando”, prosseguiu.