Processo de PM que matou camelô na Lapa é arquivado

    Desarmado, ambulante foi morto com tiro na cabeça ao tentar remover spray de pimenta das mãos do soldado Henrique Dias Bueno de Araújo. PM se disse “aliviado” e “tranquilo”
    Soldado Araújo saca a arma para atirar contra Carlos Augusto Muniz (Foto: Reprodução)
    Soldado Araújo saca a arma para atirar contra Carlos Augusto Muniz (Foto: Reprodução)

    O processo do policial militar que atirou contra a cabeça de um camelô, em 18 de setembro de 2014, no bairro da Lapa, na zona oeste de São Paulo, foi arquivado. O soldado Henrique Dias Bueno de Araújo, de 31 anos, matou, naquele dia, Carlos Augusto Muniz, de 30, durante uma ação de combate a venda de produtos ilegais na região.

    A determinação do arquivamento do processo foi expedida pela juíza Eliana Cassales Tosi de Mello, da 5ª Vara do Júri, em 27 de março deste ano. O soldado Araújo matou Carlos quando o camelô tentou tirar um spray de pimenta da sua mão, no momento em que ele e outros dois policiais prendiam um outro vendedor ambulante.

    Em nota, a Apmdfesp (Associação dos Policiais Militares Portadores de Deficiência do Estado de São Paulo), responsável pela defesa do soldado, afirmou que os advogados Fernando Capano e Renato Marques foram os responsáveis pela defesa do soldado.

    À associação, Capano disse que achava que seu cliente poderia ser denunciado. “O promotor entendeu que não era o caso, assim como a magistrada. Nos preparamos para o pior, mas, graças a Deus, o melhor aconteceu”, afirmou o advogado, que também é responsável pelo departamento jurídico da Apmdfesp.

    Na nota da associação, o policial diz que se sente “aliviado” e “tranquilo por saber do arquivamento”. “A gente sai para trabalhar, mas nunca pensa que vai precisar de um advogado no fim do dia, como aconteceu comigo”, afirmou.

    O caso

    No fim da tarde de 18 de setembro de 2014, PMs da operação voltada a coibir o comércio irregular da região da Lapa abordavam o ambulante Isaías de Carvalho Brito, de 27 anos, que vendia DVDs piratas na rua 12 de Outubro, quando um grupo se revoltou contra os agentes e exigia a liberação do camelô.

    Segundo versão divulgada inicialmente pela PM, após ser abordado, Brito se negou a entregar a mercadoria e recebeu voz de prisão. Nesse momento, um grupo de cerca de 30 pessoas, entre eles Carlos Augusto Muniz, saiu em defesa do colega e iniciou uma briga com os três PMs.

    Um dos policiais teria tido parte do colete arrancada e outro agente da polícia foi encurralado pelos ambulantes dentro de uma loja e jogado no chão. A polícia disse que, na confusão, foi dado um disparo acidental, que atingiu a boca do vendedor.

    Horas depois, veículos de comunicação tiveram acesso a vídeos de cinegrafistas amadores. As imagens mostravam Brito sendo abordado pelos três PMs e tendo suas mercadorias apreendidas. Policiais e o ambulante caíram no chão, após uma confusão, e o vendedor foi rapidamente dominado e imobilizado por dois PMs.

    Então, o soldado Araújo saca a arma e o spray de pimenta e começa a apontá-los para pessoas que se aproximam. Um grupo de ambulantes começou a pedir que Brito fosse solto, alegando que ele era um trabalhador. Ao contrário da versão oficial da PM, nenhum policial foi agredido ou encurralado.

    Muniz tentou tirar da mão do PM o spray de pimenta e foi baleado no rosto pelo policial, que nitidamente apontou para o rosto do vendedor ambulante. Ele chegou a ser levado ao Hospital das Clínicas, na região central de São Paulo, mas não resistiu aos ferimentos.

    Reincidente

    O soldado Henrique Dias Bueno de Araújo responde a processo por outro homicídio cometido seis meses antes do assassinato do camelo. Também durante abordagem policial. Araújo disparou quatro vezes contra um homem que teria reagido a ordem de parada feita pelo soldado.

    Segundo inquérito policial militar aberto para apurar o fato, o homicídio ocorreu quando, durante ronda, Araújo e outro PM avistaram um homem empurrando um carrinho de carga e ordenaram que ele parasse para averiguação. O rapaz teria se negado, sacou um facão e foi para cima de Araújo, que atirou seis vezes, sendo quatro nas pernas, uma no tórax e outra na mão.

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    Cris Spiegel
    Cris Spiegel
    9 anos atrás

    O PM acha ruim precisar de um advogado no fim do dia, não ter tirado a vida de uma pessoa numa ação desproporcional. Imagino que se ele tivesse oportunidade, mataria o dia todo, todo dia (se já não o faz longe de câmeras). Dá licença que vou me mudar para uma caverna e tapar a entrada com uma rocha bem pesada.

    Anônima
    Anônima
    9 anos atrás

    Desde que um policial tentou me beijar dentro de um DPo, na noite de 12 de janeiro de 2013 por pedir ajuda. Sofro de eplepsia e estava em depressão pela situação que eu passava, morava sozinha, e era importunada por gente má. Naquela noite , já era quase 1 hora da manhã, já tinha tomado calmantes para conseguir suportar a barulheira e agressões de um pessoal que invadiram um terreno em frente a minha casa juntamente com vizinhos sem respeito. Chegaram dois policiais e foram comigo. Eles continuaram a me agredir e os dois foram a favor dos baderneiros e ainda me ameaçaram em prender-me, como eu fosse culpada. Mais tarde soube que estavam macomunados com o pessoal. E olha que estou com 60 anos agora! Nunca mais confio na polícia. Só atacam e ameaçam os indefesos. Não estou generalizando, existem bons policiais, mas são raros. Tive que me mudar. Não pude denunciar os policiais, com medo de represálias.

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    […] // Via Ponte […]

    Cristiane Almeida
    Cristiane Almeida
    9 anos atrás

    Patifaria é falar que os policiais não foram encurralados. A população se voltou contra os policiais, aglomeraram em torno deles, que faziam o seu trabalho, que é impedir o comércio clandestino de mercadorias, o que é crime e esses ambulantes devem ser punidos com a lei.
    Acredito que qualquer um no lugar do PM, teria atirado, vez que o “trabalhador”, que não paga imposto, como eu pago, tentou tirar a arma (Spray) dele. Vejo que a reação do policial foi instintiva, uma vez que nos próprios vídeos divulgados, o policial já havia pedido para o “trabalhador” se afastar por diversas vezes. Mas como ele (trabalhador) tinha peito de aço, resolveu enfrentar a autoridade policial.
    Quanto à reincidência, ele é um Policial, enfrenta meliantes e em sua maioria, não respeita a polícia, e não pensa em atirar quando vê uma farda por perto. Assim, não podemos julgar uma conduta passada, visto que 90% dos policiais militares, respondem processos próximos ao citado.
    Vendo e analisando TODOS os vídeos divulgados na época, verifiquei com muita cautela a ação do policial, e digo com todas as letras, que as atitudes dele de proteção aos colegas de farda, bem como a ação da equipe, foi legítima e dentro do treinamento oferecido pela corporação. Foi uma fatalidade o “trabalhador” querer se impor, achando que nada aconteceria.
    Infelizmente, para uma pessoa que escreve um artigo e pode influenciar pessoas, o artigo trouxe uma parcialidade quanto aos trabalhadores ilegais e foi contrário ao trabalho honesto de um agente público, que para sustentar sua família, busca a legalidade para uma renda extra.
    Precisamos analisar de maneira adequada os fatos, para não gerar confusão em pessoas leigas e pararmos de defender pessoas que vão contra a lei e contra os princípios básicos de segurança do nosso estado.
    Em todas as profissões existem os bons e o ruins, e não podemos condenar a maioria, pela minoria. Por isso existe o Poder Judiciário, o Ministério Público, Juízes de Direito e Advogados. Que estudam e se especializam para analisar casos do gênero.
    Conheço pessoas que odeiam policiais. Mas já tiveram problemas com a justiça, ou usam drogas, ou já cometeram delitos. Vamos avaliar cada atitude imparcialmente e não publicar artigos desconexos para influenciar negativamente quem não entende ou não vivencia o dia-a-dia nas ruas de São Paulo.

    tiago
    tiago
    9 anos atrás

    Imprensa falsa e sensacionalista. Ta virando moda o povo atacar a polícia e querer tomar presos. Os policiais estavam trabalhando o povo deveria apoiar o trabalho da polícia e , se tiver alguma ilegalidade, tem procurar a justiça q com certeza o agente será punido se tiver irregularidade na ação. Nada justifica cercarem a polícia e tentar tomar o preso, um policial acuado por uma multidão de desordeiros tem de utilizar os recursos disponíveis. Se uma pessoa avança em um policial acuado e com a arma na mao, para tentar tomar a arma dele no mínimo asumiu o risco de ser alvejado por um disparo.

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