Iniciativa é parceria das Mães de Maio, Conectas e Unifesp; 100 pessoas serão capacitadas em formações que buscam fortalecer a luta dos movimentos por reparação
O projeto “Fortalecendo o alcance e o impacto dos movimentos de direitos humanos no Brasil” vai capacitar ao longo de dois anos familiares de vítimas de violência do Estado. A iniciativa é uma parceria do Movimento Independente Mães de Maio, da Conectas Direitos Humanos e do Centro Antropologia e Arqueologia Forense da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
As formações vão atender 100 mães e familiares de vítimas de violência. Elas serão realizadas em encontros regionais e nacionais com a participação de mães-ativistas de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Ceará, além de membros do Conectas e pesquisadores do Unifesp.
O objetivo das reuniões é discutir e analisar as causas e consequências dos protocolos de violência do Estado, métodos de ação e impacto dos movimentos, técnicas de investigação em antropologia forense e estratégias de incidência.
“A gente queria que a academia entendesse que precisávamos estar com a ciência”, diz Débora Silva, fundadora do Movimento Mães de Maio.
Pesquisador do Centro de Arquivologia e Antropologia Forense da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Javier Amadeo, explica que a capacitação quer ajudar a dar ferramentas para aumentar a visibilidade do trabalho dos familiares na demanda por justiça.
“A ideia do projeto é tentar fortalecer os movimentos de defesa dos direitos humanos aqui do Brasil, especificamente com foco nas mães e nos familiares de vítimas de violência de Estado”, destaca Amadeo.
O projeto deve se estender por dois anos. Como resultado será desenvolvido um arquivo com memória dos movimentos de resistência — composto por documentos, entrevistas, processos, material jornalístico e material audiovisual.
Está previsto também um relatório acessível para documentar as origens do movimento e a sua relevância para as atividades a serem implementadas.
Uma capacitação em produção de material audiovisual para treinar no uso eficaz de câmeras de celulares, técnicas de filmagem e habilidades básicas de edição usando o software de edição.
A expectativa, diz Gabriel Sampaio, diretor de Litigância e Incidência da Conectas, é que o projeto possa multiplicar o conhecimento por meio dos familiares que serão capacitados.
“A medida que as mães conseguem ter capilaridade em outros estados brasileiros, entendemos que todas elas podem estar mais instrumentalizadas de mecanismos para enfrentar essa violência institucional. Produzir dados, desde avaliar informações constantes da atividade de investigação do Estado, da atividade forense, podendo contestar, fornecer dados que possam ser importantes para dos fatos”, fala Gabriel.
Débora Silva diz que a troca de conhecimentos é algo que as Mães de Maio sempre buscaram para destacar a pluralidade do trabalho.
“Quando a gente fala no plural, precisamos que todas as mães se apropriem dessa ferramenta, do conhecimento e faça troca com o olhar antropológico, forense, que é muito gratificante”, diz Débora.