Em entrevista inédita, vereadora assassinada avisou: ‘democracia está ameaçada’

    Há menos de um mês, Marielle Franco falou sobre intervenção federal e o quanto o discurso do medo prejudica a população negra e favelada

    “Foi um dia infeliz, de dor”, desabafou a vereadora Marielle Franco (PSOL), a respeito do anúncio da intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro pelo governo Michel Temer. O desabafo foi feito numa de suas últimas entrevistas, concedida à Pavio, parceira da Ponte, menos de um mês antes de Marielle ser assassinada, junto com o motorista Anderson Pedro Gomes, no Estácio, região central.

    Para Marielle, a intervenção iria trazer “o acirramento da violência nos corpos nossos de favelados” e fazia parte de um processo que colocava a própria democracia em risco. “O processo de democratização está ameaçado por causa do que está colocado: servidor, saúde, caos em varias áreas e intervenção na segurança, o que ajuda a controlar ainda mais o que vinha sendo controlado antes”, afirmou.

    “Esses dias a gente conversava ali na Maré, sobre o quanto os 14 meses de incursão militar… e não só da PM, mas da força nacional, do Exército, o barulho dos tanques, de tanque blindado, o barulho do tanque ainda é muito latente que ficava na porta de um dos prédios que eu morei até pouco tempo. Esse medo, esse desespero é onde a gente chora porque corta na nossa carne”, disse na entrevista.

    Militante dos direitos humanos, Marielle Franco, 38 anos, foi a quinta vereadora mais votada do Rio e recentemente foi nomeada relatora da Comissão da Intervenção na Câmara. Além de referência no feminismo negro, a vereadora incomodava porque denunciava a violência policial, especialmente nas favelas.

    Na entrevista de fevereiro, Marielle defendeu discutir a política de combate às drogas e falou sobre programas de redução de danos para que não se trate o usuário como traficante. Para ela, a intervenção aconteceu, muito em parte, por causa de um discurso do medo. “Havia uma sensação de insegurança que se fortaleceu por parte da mídia, especialmente durante o carnaval, o que reforçou esse pedido de intervenção”, ponderou.

    Foto: Leonardo Coelho/Ponte

    Para Marielle, apesar das pressões, ainda mais como figura pública, a luta tinha que se fortalecer, mesmo em momentos de cerceamentos de liberdades individuais. “A vida no Rio de Janeiro anda muito ameaçada, mas tem muita resistência também. Especialmente contra essa mão de controle pra cima de corpos favelados. Hoje a gente tem o temor e aí, quem aqui vigia os vigias? Quem presta contas? A gente vem para ocupar a rua, sim”, disse em outro trecho, no tom combativo que costumava ser sua marca.

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude
    1 Comentário
    Mais antigo
    Mais recente Mais votado
    Inline Feedbacks
    Ver todos os comentários
    trackback

    […] Leia também: Em entrevista inédita, vereadora assassinada avisou: ‘democracia está ameaçada&… […]

    mais lidas