A cidade inteira sabe quem matou o radialista, mas finge que não sabe. Foi baleado na boca, um aviso de que ‘falou o que não devia’. Investigação suspeita de policiais.
(*) Publicado no Programa Tim Lopes
Djalma Santos da Conceição está no ar com seu programa “Acorda Cidade”, das seis às oito da manhã. Na RCA-FM 87.9, rádio comunitária e o meio de comunicação de Conceição da Feira, município de 23 mil habitantes a 126 Km de Salvador. Djalma diz, aos gritos:
— Ninguém vai calar a minha voz….
Ele mesmo opera a mesa de áudio no estúdio e escolhe o fundo musical. Para secundá-lo, na sexta-feira 22 de Maio de 2015, Djalma, 54 anos, escolheu a música “O rádio e a televisão”, de Ruan e Rudney.
Djalma repete pela terceira vez: “Ninguém vai calar a minha voz”, e se cala por instantes, subindo o som e deixando os ouvintes com a dupla gospel:
— O rádio e a televisão estão mostrando/ Como a humanidade vive ultimamente/ É o homem matando homem…
Pouco depois das dez da noite, nessa mesma sexta-feira, com o pandeiro de sempre Djalma está na habitual roda musical no quiosque-bar de sua propriedade, na vizinha Governador Mangabeira.
Umas 15 pessoas em torno do quiosque montado em uma pracinha no lugarejo chamado Sítio dos Brejos.
Três ou quatro homens encapuzados, armados inclusive com uma metralhadora, se aproximam do quiosque e obrigam Djalma, com o pandeiro nas mãos, a entrar no porta-malas de “um carrão branco”. É o máximo que testemunhas diriam depois.
Exatamente dois anos depois, para essa reportagem e gravação do documentário sobre jornalistas assassinados, chegamos às oito da noite, repórter e fotógrafo, ao quiosque-bar em Sítio Dos Brejos, uma quebrada de Governador Mangabeira.
Na pracinha mal iluminada meia dúzia de homens ouve, mas não responde, perguntas sobre Djalma. Quando o carro começa a se afastar, alguém grita: “Anota a placa!”.
O corpo de Djalma foi encontrado no fim da madrugada do sábado, 23 de maio de 2015. À beira de um matagal ao lado da BR-101, na localidade conhecida como Timbó, encruzilhada que dá acesso a Conceição da Feira.
Djalma foi morto com 15 tiros. No local, 25 cápsulas de 38, 45 e 0.40. Na cena do crime, um conjunto de mensagens.
O pandeiro sobre o corpo e sobre o pandeiro uma nota de dois reais. Tiros na boca; um dos disparos na boca atravessou o olho esquerdo. Naquela noite Djalma estava sem o colete à prova de balas que vinha usando.
No programa “Acorda Cidade”, Djalma Santos da Conceição, mais conhecido como Djalma “Batata”, tratava de serviços, crimes e política.
Hoje em Feira de Santana, distante 30 quilômetros, Gustavo Ameno Coutinho então era delegado em Conceição da Feira. Tinha à disposição dois policiais.
Em maio deste 2017 o delegado adianta impressões sobre Djalma e até onde policia havia chegado nas investigações:
— Ele era um homem muito popular, muito conhecido no local, só que ele estava muito envolvido com questão política…a principal linha de investigação é essa, crime político, crime de mando, pistolagem, com envolvimento de policiais inclusive. Eram três ou quatro homens, fortemente armados, utilizaram uma ponto quarenta e até uma metralhadora, tinham porte avantajado, tudo isso um indicativo que trata-se de pessoas ligadas à área de segurança…
Colega de Djalma na RCA, radialista há 20 anos, antes no grupo de comunicação Lomes, em Feira de Santana, Carlos Medeiros tentou investigar o caso. Não avançou:
— As dificuldades começaram na delegacia de Governador Mangabeira. A polícia de lá (onde Djalma foi sequestrado) disse que o caso teria que ser resolvido pela polícia de Conceição da Feira, onde Djalma foi encontrado.
Governador Mangabeira e Conceição da Feira são vizinhos fronteiriços, à distância de 15 minutos pela BR-101.
Carlos Medeiros relata ter sofrido ameaças quando começava a investigar o assassinato de Djalma:
— Medo, não, até porque não acuso ninguém, mas apreensão, sim. Quando comecei a cobrar mais veementemente recebi ligações não identificadas, perguntavam por que eu estava mexendo nisso ‘se o cara não prestava’…
Carlos Medeiros diz:
— O delegado (de Conceição da Feira) Gustavo Coutinho ficou à frente das investigações, convocou muita gente para dar depoimento, mas não tinha linha definida de investigação, acho que por causa da complexidade do caso. Ele fechou o inquérito e remeteu à Justiça sem a autoria identificada.
O radialista cobra:
— Porque não quebraram o sigilo telefônico para descobrir de onde e de quem veio a ligação? Bastava pedir à justiça. Eu acho que não houve muito interesse…
À pergunta do porquê não ter sido investigada à época a procedência do telefonema, o delegado Coutinho rebate:
— Tratamos primeiro de concluir o inquérito policial, com a auditiva de todas as testemunhas e encaminhamos esse procedimento, da quebra do sigilo telefônico, ao ministério público, que vai avaliar…
Vai avaliar, deveria ter avaliado há dois anos, e parece que não chegará a lugar algum tão cedo.
O delegado Gustavo Coutinho já não está em Conceição da Feira. Município que segue sem promotor e sem juiz. E também sem Fórum, transferido em agosto para São Gonçalo, distante 10 quilômetros.
Uma regra, se conhecida pela família, colegas e amigos de Djalma Santos, afastaria esperanças de solução do caso para breve.
Essa regra diz que “casos que já tenham presos têm preferência” informa, neste agosto de 2017, o delegado Gustavo Coutinho. Que agora em Feira de Santana já não tem o caso sob sua jurisdição.
Para que se tenha uma ideia da região onde o radialista Djalma foi sequestrado, torturado e assassinado… Feira de Santana é a 15ª cidade mais violenta do mundo, segundo ranking da ONG mexicana Seguridad, Justicia Y Paz.
Com 620 mil habitantes, até a primeira semana de abril Feira de Santana já registrava 92 homicídios em 2017. E Conceição de Feira, com seus 22 mil habitantes, oito homicídios.
Ex-delegado na cidade, Gustavo Ameno Coutinho diz não saber de outros assassinatos de jornalistas na região. Mas faz uma ressalva, bastante significativa:
— Em represália, acontece de incendiarem rádios, apedrejarem, ameaçarem… Normalmente por envolvimento político…
Ora com admiração, ora denotando medo e com críticas, moradores de Conceição e região se referem a um grupo especial da PM que atua na região com, chamemos “especial vigor”.
É a Companhia Independente de Policiamento Especializado. Com fardamento e denominação que remetem à região sertaneja, tal Companhia é mais conhecida como “Caatinga”.
Em Conceição da Feira o meio de comunicação de massa é a RCA. Para que não se diga não existir outro meio, em uma (1) folha de papel é impresso o Informativo Independência Democrática, redigido pelo cidadão Wanderlei Mascarenhas. Distribuído de mão em mão na Câmara de Vereadores e nas ruas.
O letreiro da RCA-FM 87.9 indica. Na casinha de número 158, além da emissora comunitária com 12 anos de vida está instalada a lojinha “RCA eletrônica e informática”.
Raimundo Conceição Apolinário, 63 anos, o Rái, dirige a lojinha e a rádio. Programas noticiosos como os de Djalma Santos e Carlos Medeiros são minoritários na RCA. A emissora, como tantas Brasil adentro, aluga horários para igrejas. Evangélicas, neopentecostais em maioria.
Djalma Santos, o Djalma “Batata”, pagava R$ 400 ao mês pelo aluguel de duas horas diárias. Antes havia trabalhado como radialista nas vizinhas cidades de Cachoeira e Cruz das Almas.
Como demais da RCA, e milhares de radialistas no país com mais de 14 mil emissoras de rádio, Djalma buscava nos anunciantes sua remuneração. Que, por conta da condição legal de emissoras comunitárias, não pode ser chamado de “salário”.
À entrada do pequeno estúdio onde os radialistas operam também a mesa de áudio, uma saleta com um sofá puído que eventualmente serve de cama, uma televisão antiga, um velho ventilador sobre a mesa e, ao fundo, caixas de papelão com um alerta: “Cuidado, Frágil”.
Uma janela de vidro separa saleta e estúdio. Colado na porta do estúdio os mandamentos para radialistas da RCA-FM. No papel encimado pela declaração “100% Jesus”, afixadas por Rái da Conceição estão “Normas da Emissora”:
— O locutor deve ter cuidado ao usar o microfone. O radialista não pode atacar a honra ou moral de alguém, através da emissora.
— O apresentador deve encerrar o programa no horário exato.
— O locutor do horário deve efetuar o pagamento do apoio do programa na data correta. O não cumprimento, o programa será suspenso até a regularização do pagamento.
— Não é permitida qualquer indireta entre colegas no microfone, ou no recinto da emissora…
Na saleta ao lado do estúdio gravamos entrevistas com Rái Conceição, com o radialista Carlos Medeiros e com Vilma dos Santos da Conceição. Vilma é uma entre 24 filhos que Djalma teve em seus incontáveis relacionamentos.
Vilma, que deu três netos ao pai, lamenta a impunidade e o silêncio:
— Ele não tinha medo de dizer nada, seja quem fosse. O povo nem comenta, tem medo, dizem pra eu deixar quieto. Eu queria saber quem matou ele. Até para perdoar, para a gente ter sossego. Minha avó não tem mais saúde. Meu irmão ficou em depressão. Tenho pesadelos, todo dia eu sonho com meu pai. Ele pedindo justiça, mostrando uma pessoa (que o teria matado). Uma semana antes falei para ele ter cuidado porque eu sonhava que ele tomava muitos tiros.
Carlos Medeiros e Vilma contam que Djalma andava dizendo que iria “entrar na política”. Anunciava querer ser candidato a vereador, ou mesmo a prefeito. Diz Medeiros, que sucedia Djalma nas manhãs com seu “Alerta Geral”:
— Djalma era uma pessoa muito querida na cidade. Fazia um trabalho social muito bom, doava cestas básicas, material de higiene pessoal. Mas tinha muitos problemas e desafetos. Tinha pavio curto. Se não gostasse do que um ouvinte dizia, falava palavrão, xingava a mãe. A gente sempre chamava a atenção dele por isso.
Rái Conceição, 63 anos, responsável também pelas atrações musicais nas manhãs de sábado, confirma:
— Djalma lia notícias da internet e fazia comentários do jeito dele. Falava: ‘Bandido bom é bandido morto’, ‘Não adianta falar que vai me matar porque bala trocada não dói’… Dizia que usava arma, mas nunca vi.
Rái recorda conselhos de mais comedimento que dava a Djalma:
— Eu falava sempre porque ele extrapolava na maneira de reivindicar ou comentar. Chamava a atenção dele porque poderiam interpretar mal. Tínhamos um pouco de preocupação, ele era muito espontâneo, meio nervoso, se estressava com as pessoas que telefonavam para provocá-lo. Ele estourou no ar algumas vezes. Por conta disso a rádio ainda responde a dois processos…
Quem também ligou para Djalma durante o “Acorda Cidade” foi o prefeito Raimundo da Cruz Bastos, que então estava no PSC. Conhecido como “Pompílio”, hoje o prefeito está no PSD.
O assunto daqueles dias, e da manhã da sexta-feira 22 de maio, era a ajuda de Djalma a uma senhora pobre. Para a reconstrução da casa ameaçada de desabar no Povoado do Pinheiro, em Conceição da Feira.
Motivado pelo apelo de um telefonema, Djalma coletou doações e, no ar, insistiu que auxiliaria a senhora do Povoado Pinheiro:
-Se a gente tirar trinta, quarenta, cinquenta, cem reais para ajudar uma pessoa que está necessitando, vai acabar (nosso patrimônio)? A gente morre e deixa tudo aí. É sogra, é mulher, é genro, é viúva, o diabo todo vai desfrutar.
Por telefone, Pompílio (PSD), ligou em meio a um dos programas. Vilma, filha de Djalma, narra:
— Ele (o prefeito) disse que isso era com a Assistência Social. Uma pessoa ligou e falou no ar: ‘Djalma, seu puxa saco, seu vagabundo, por que você não pede ao prefeito? Eu vou lhe dar o seu’, assim mesmo. Ele (Djalma) disse que só não terminaria a casa se matassem ele.
O radialista admitiu o incômodo já no início do programa: “Hoje, não estou bem, não estou legal. Quero mandar um bom dia especial para todo meu povo lindo”.
Enviou também recado para desafetos: “Sempre tem alguém que não gosta de mim, mas é assim mesmo, não ligo pra isso, o importante é o que faço e sou e o que eu sou independente de qualquer situação”.
A filha, Vilma, conta:
— Ele estava dizendo que se candidataria a prefeito. E isso doía no meu coração. Ele falava que ajudava muitas pessoas e elas pediam para ele se candidatar. Depois ele estava falando que ia desistir.
O radialista Carlos Medeiros confirma:
— É público e notório que Djalma nutria o desejo de ser vereador no município. Existe a especulação também (da candidatura a prefeito). Ele era bastante popular.
Nuzia Alves das Dores é irmã de Djalma. A frase postada no status do celular anuncia, inclusive, a personalidade:
-Diante de uma família unida toda formiga vira leão.
Uma cunhada, Leni, foi quem telefonou para Nuzia na noite de 22 de maio de 2015 e alertou: “Djalma foi sequestrado”.
Nuzia montou na sua Bros 150 e, pouco depois das 11 da noite, arrancou rumo ao quiosque de Djalma em Sítio dos Brejos. Já madrugada voltou para casa à espera de notícias.
No início da manhã, de novo montada na 150, foi ver o corpo do irmão varado de balas num matagal em Timbó. Na mesma manhã foi à casa de Djalma, pegou e guardou um celular, um gravador e pen drives.
Viúva, mãe de três filhos, Nuzia mora no Projeto II, Rua Procópio Teixeira da Silva.
No sofá da sala em sua casa Nuzia está sentada ao lado a filha, Ana Luiza, da sobrinha, Marizete, filha de Djalma, e da sua mãe e de Djalma, Domingas Alves das Dores. “As testemunhas não falam nada”, lamenta Nuzia. E relata:
— Djalma estava preocupado, dizia ter sido ameaçado, mas sem dizer por quem.
O que Nuzia diz, confirma o que Carlos Medeiros, colega de Djalma, revelara em detalhes:
— No dia em que foi assassinado ele saiu do estúdio discutindo muito com alguém no telefone. Eu, que entraria no ar em seguida, perguntei o que era aquilo. Ele me disse que tinha sido ameaçado, mas não disse por quem…
Domingas, a mãe de Djalma, não diz uma palavra. Durante toda a conversa, cotovelo direito escorado no braço do sofá, se limita a, de quando em quando, enxugar lágrimas com o dorso da mão direita. Domingas redobra a atenção quando a filha conta:
— Djalma falou que estava sendo perseguido por alguém da política porque tinha recebido uma proposta para ser vereador. Ele estava andando com um colete à prova de balas…
Conta também que um homem foi ao quiosque-bar (em Governador Mangabeira) à procura de Djalma. E deixou ameaça com uma funcionária: Djalma não duraria 30 dias. Nuzia acrescenta: “Ele tinha denunciado pessoas do tráfico”.
Na conversa avança a especulação de outros possíveis motivos para o assassinato de Djalma, além da política.
Mais cedo, em entrevista gravada na RCA-FM, Vilma disse: “Ele falou no ar que tinha uma bomba que ia abalar Conceição da Feira e São Gonçalo dos Campos. Prometeu para segunda-feira”.
Entre as hipóteses para a execução cogitou-se, inicialmente, de vingança ligada a uma das inúmeras relações amorosas do comunicador. Na conversa na RCA, a filha Vilma contou:
— …era muito mulherengo, mas não pegava mulher casada. Um dia estava com uma, meia hora com outra, namoros, aventura…
Outra hipótese foi aventada horas antes pelo colega Carlos Medeiros e por Rái Conceição, durante a entrevista na RCA-FM:
-Ele investigava o assassinato de uma jovem enterrada num mangue em Cachoeira, a uns quinze quilômetros daqui. Ela teria sido morta por ter traído uma pessoa com quem se relacionava e que fazia parte de um grupo de tráfico de drogas- disse Carlos Medeiros.
Rái completou: “Ele foi sozinho a um lugar onde a polícia não entra, para ver onde tinham enterrado a jovem”.
De mais um desentendimento no território da política, mais uma hipótese. Deu-se em 2014, com o atual prefeito de Cachoeira, Tato Pereira (PSDB). O relato é de Carlos Medeiros:
— Tato era candidato a deputado estadual e invadiu o estúdio, usando palavrões e acusando Djalma de ter ido lhe pedir propina. Djalma teria dito no programa que Tato não deveria ser votado porque não era de Conceição da Feira. Ele então tinha interesse em apoiar o candidato do prefeito Pompílio, Targino Machado (DEM).
Rái da Conceição descreve o final daquela contenda:
— Tato veio exigir direito de resposta por uma coisa que Djalma falou no ar e ele não gostou. A gente conversou, deu direito de resposta e ficou tudo bem.
Diz Rái: Djalma teria ido à casa do político pedir um empréstimo de mil reais para completar o valor de pouco mais de três mil reais, o necessário para a cirurgia de um dos filhos que sofrera um acidente.
Ciente dessas hipóteses, em agosto deste 2017 Gustavo Ameno Coutinho, o delegado que iniciou a investigação do assassinato de Djalma, mantinha sua opinião:
— A principal linha de investigação é crime político, crime de mando, pistolagem, com envolvimento de policiais…
Quem é do ramo não acredita em hipóteses que passem longe desse cenário. Crê menos ainda em assassinato por vingança amorosa. Conceição da Feira é um pequeno lugarejo, onde todos que circulam pela cidade se conhecem.
Não se consegue pensar em quem, por tal motivo, teria dinheiro e disposição suficientes para contratar e pagar três ou quatro homens com jeitão de policiais, armados de metralhadora e pistolas e a bordo de um “carrão branco”.
Homens que sequestram em público, matam acintosamente, com crueldade, e seguem ocultos, protegidos por um manto de silêncio há mais de dois anos. A vida amorosa do pai foi resumida por Vilma, uma dos 24 filhos de Djalma Santos:
— Nós, do primeiro casal, somos cinco filhos. São vinte e quatro filhos, mas a gente não sabe se é tudo dele porque ele já pegava mulher com filho. Alguns, a gente conhece. Ele assumia, passeava, tinha o maior carinho, sempre dava atenção às crianças, não deixava ninguém passar fome.
Portanto, e por tantos, Djalma Santos tocava outros negócios. Uma pequena dedetizadora, uma criação de frangos num sítio, e o quiosque-bar onde foi sequestrado para ser assassinado.
Quase duas horas de conversa depois Nuzia decide mostrar os pen-drives, o celular e o pequeno gravador. Que no sábado 23 de maio de 2015 pegou na casa do irmão e guardou até a polícia ter acesso ao material.
Nos pen-drives, músicas que Djalma usava como fundo musical no “Acorda Cidade”. Dentre elas, “O rádio e a televisão”, da dupla gospel Ruan e Rudney.
A pilha do velho gravador de Djalma acabou e a do controle da Tv não resiste, logo se vai. Nuzia vai à vizinha e volta com pilhas novas.
Silêncio absoluto quando o gravador enfim é ligado e pela sala ecoa a voz de Djalma.
A mãe, Domingas, soluça. A filha de Nuzia, Ana Luíza, 7 anos, acompanha a conversa, atenta a tudo.
O silencio chega a sufocar quando, por três vezes, Djalma repete:
— Ninguém vai calar a minha voz…
Gravador desligado. Dolores, a mãe de Djalma Santos, rompe o silêncio e murmura:
— Não passa nunca, só quando eu morrer.