Morador da favela do Moinho, Daniel Lopes, de 35 anos, estava com outras duas pessoas, na última terça-feira, quando foi parado pela PM e algumas horas depois desapareceu
“Ele é maravilhoso. Um protetor meu. Não sei o que foi que aconteceu, ele sumiu, desapareceu, mas a gente quer saber o que foi que aconteceu e onde ele está. Não estamos acusando ninguém, porque nós não sabemos quem foi, não sabemos o que aconteceu com ele, mas queremos saber”, desabafa a mãe de Daniel, Maria Batista Feitosa, de 67 anos. “Queria perguntar para essa pessoa que levou ele se ela não tem mãe. Se ela tem ideia do quanto dói a lágrima de uma mãe”. Moradora de Osasco, na Grande São Paulo, onde Daniel nasceu e viveu até pouco tempo atrás, Maria tem ido desde quarta-feira à favela do Moinho, no centro de São Paulo, na esperança de encontrar pistas sobre o paradeiro do filho.
Um pisca-pisca empoeirado, talvez do Natal passado, emoldura o portão de ferro do bar, a cerca de 150 metros da entrada do Moinho, logo após o trilho do trem. O estabelecimento está fechado desde a última terça-feira (11/07), quando o dono do local, Daniel Batista Lopes, de 35 anos, foi visto pela última vez.
Uma frase tem ecoado pelas vielas: “Cadê o Daniel?”. Dois sentimentos abalam os moradores: tristeza e medo. “A gente fica vendo aí, teve o Leandro, agora o Daniel some, quem será o próximo? A polícia tem entrado frequentemente aqui para dar esculacho. Virou rotina. Eles não respeitam criança, mulher, idoso. Eles ameaçam direto”, conta uma moradora que, justamente por temer represália, prefere não se identificar. “No dia da morte do Leandro, que teve uma manifestação aqui e tudo, os policiais gravaram o rosto da gente e depois disseram que iam voltar pegar um por um”, continua.
Muito querido na comunidade, Daniel estava com outros dois amigos, um deles funcionário do bar do qual é proprietário, quando os três foram abordados no início da tarde, perto da favela, por policiais militares. No boletim de ocorrência, registrado no 2º DP (Distrito Policial), no Bom Retiro, uma dessas pessoas que estava junto com Daniel explica que, por não ter antecedentes criminais, ele e o outro rapaz foram liberados. Daniel, que chegou a ficar preso por sete anos por homicídio, ficou mais alguns instantes conversando com os PMs e depois foi liberado. Os policiais fotografaram as identidades dos três. Por volta das 20h, o comerciante foi visto pela última vez.
Antonio Virgílio da Silva, de 49 anos, conhecido como Paraíba, e outros amigos de Daniel imprimiram cartazes e espalharam pela cidade nesta sexta-feira (14/07), na esperança que alguém tenha informações sobre seu paradeiro. “O Daniel para a gente era um cara legal pra caramba. O pessoal adoecia aqui, ele colocava no carro e levava pro hospital. O cara veio aqui, montou o barzinho, comprou o carrinho dele. Ele é bem vindo em todo lugar. A gente ia no bar dele, bebia, jogava sinuca. Ele era super querido para mim. Agora a gente tem que achar ele e a gente quer achar ele inteirão”, afirma Paraíba. Ele se recorda de uma brincadeira dos dois: “Eu chamava ele de ‘jumento’. Era brincadeira de amigo do peito, sabe? Eu falava ‘fala, jumento’. E ele: ‘qual que é, jegue?'”.
Uma outra moradora lembra do quanto Daniel é brincalhão: “Todo mundo conhecia ele. Ele vinha aqui, entrava em casa, perguntava que horas ia sair o almoço, falava que queria comer. A favela inteira está abalada”.
A angústia não tem deixado a mãe, Maria Batista Feitosa, dormir. “Eu acho que Deus poderia ter querido levar ele, mas não agora. Eu queria que meu filho fizesse meu velório e não estar num agonia dessa. Essa noite eu não dormi. Eu fechava meu olho e pensava ‘meu Deus, onde está meu filho? Como ele está?’. E se estiver vivo, sem comer, sem beber? E se estiver morto? Isso é muito pesado”, desabafa, entre soluços. Mas a esperança permanece: “A gente tem que ter fé, porque se a gente não tiver fé a gente não tem mais nada. Eu acredito demais em Deus e o Daniel também. Nós vamos encontrá-lo”.
Outro lado
A Ponte Jornalismo enviou um e-mail para a CDN Comunicação, assessoria de imprensa terceirizada responsável pela SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo), com as seguintes questões: