Dançarina, reconhecida pelo cabelo e condenada sem provas por roubo, Babiy ganha liberdade e agora luta para provar sua inocência
A modelo e dançarina Bárbara Querino ainda tenta se reacostumar com a rotina na Vila Constância, zona sul de São Paulo. São quatro dias desde que recebeu liberdade ao cumprir 1/6 da pena de 5 anos e 4 meses a que foi condenada pelo roubo de um carro. Babiy, como é conhecida, foi reconhecida por vítimas brancas por conta de seu cabelo. Desde o início, a jovem nega ter cometido o crime e, mesmo com a liberdade concedida, agora quer reparação pela injustiça que sofreu: quer provar sua inocência.
Desde a terça-feira (10/9), Babiy não desgruda da mãe, Fernanda Querino, e seus irmãos na casa humilde de três cômodos em que vivem. O dia a dia tem sido de reencontros, com familiares e amigos, muitos que não a viam há 1 ano e 8 meses, período em que ficou presa. Também troca mensagens no WhatsApp, aplicativo de conversas que não para no seu telefone. É resposta atrás de resposta das 6h às 0h.
“Tem sido assim o dia todo, um monte de gente fala comigo. Querem saber como eu estou, me ver, ou fazer entrevista, como vocês”, conta. Babiy ainda estranha o fato de poder fazer o que quiser. Um dia após ter progressão de pena e passar a cumprir o regime aberto – quando a pessoa condenada passa a viver em liberdade, ainda que com uma série de restrições – a dançarina voltou aos palcos para dançar. Ali, viu o apoio de seu caso se transformar em apoio ao seu trabalho.
“Eu quero ser reconhecida pela minha dança, não pela prisão, pela injustiça que aconteceu comigo. Infelizmente, tive que passar por isso para o meu nome ser conhecido. Não foi da forma como eu quis. O jeito é ir para cima e seguir meus sonhos, como fazer vestibular o ano que vem”, conta Bárbara, que sonha ser jornalista. Apoio não faltou no período presa, como o livro que ganhou do ator Lázaro Ramos.
Ironicamente, foi o jornalismo que construiu nela a figura de uma “criminosa”. Ela foi apresentada dessa forma ao país no programa Brasil Urgente, de José Luiz Datena, quando detida com o irmão em novembro de 2017 e levada até a delegacia. Mas, antes disso, os policiais militares que tinham feito o suposto flagrante, tiraram fotos dela.
As imagens passaram a circular nas redes sociais, como Facebook, e grupos de conversa de WhatsApp, com a indicação de que ela seria integrante de uma quadrilha. Babiy foi reconhecida em dois roubos, como noticiado pela Ponte em setembro de 2018. À época, ela ainda respondia pelos roubos de um Audi A4 e de um Honda Civic. Ela foi inocentada da segunda acusação e busca provar que estava trabalhando no Guarujá, litoral paulista, na data do primeiro crime.
“Ainda estou presa, não posso fazer um monte de coisa. Muitos jobs [trabalhos] que participo acontecem de noite, como farei tendo a restrição de estar dentro de casa 22h? Sem chance. Entraremos com um pedido para eu conseguir trabalhar, senão terei que cumprir toda a pena assim. Será uma vida presa”, explica a jovem de 21 anos.
Presa dentro dessas restrições ou não, a volta da filha para casa é um alento para Fernanda. A auxiliar de limpeza do Hospital das Clínicas não esconde a leveza que os dias ganharam desde que, na manhã de quarta-feira (11/9), chegou do trabalho da madrugada e foi recepcionada por Bárbara abrindo o portão de casa. Ela nem sabia que a filha iria para casa. Ficou sabendo quando Mayara, amiga da jovem e criadora da página “Todos por Babiy”, que lutava pela sua libertação, a ligou avisando.
“Ela ligou gritando: ‘Fernanda, a Bárbara está livre!’ Eu não acreditei, só entendi de verdade quando ela me recebeu”, conta a mãe. “Ainda não consegui dormir direito. Ter ela em casa é uma alegria imensa, me dá forças para seguir. E tenho agora que ficar no pé para ela seguir tudo certinho, não dar nenhuma brecha para a justiça tirar ela daqui de novo”, diz, enquanto vê cinco dos seis filhos reunidos.
A família não está completa pela ausência de Wesley Victor Querino de Souza, 20 anos, preso por roubo a carro nos mesmos casos em que Bárbara foi acusada. Diferentemente da irmã, ele confessa os crimes e cumpre pena de 17 anos, segundo a mãe, em Tupi Paulista, cidade distante 673 km da capital São Paulo. “Faz um ano que não vejo meu filho. Ele mesmo pediu para eu focar na Bárbara, lutar por ela, mas sei que ele também precisa. Com ela livre, conseguirei dar a atenção e carinho que ele precisa e merece”, reconhece a mãe.
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