Grupo formado por cristãos, evangélicos, budistas, mães de santo, mórmons e umbandistas vai à Avenida Paulista para tirar o estigma de que religião e direito à diversidade são opostos, não se conversam
Religião e direitos LGBT+ são opostos dentro de um debate. Para quebrar com esse entendimento, um grupo se reuniu em frente à TV Gazeta, na Avenida Paulista, zona oeste de São Paulo. Havia quem seguisse o budismo, o evangelho, a umbanda, os ensinamentos mórmons e cristãos. Um conjunto para abraçar a causa LGBT+ e da diversidade.
O pastor Fábio Bezzeril, 35 anos, sabe que o ofício dentro de uma igreja evangélica é visto muitas vezes como de combate aos gays, lésbicas, bissexuais, trans, intersexo, pan, plurissexuais e demais integrantes do movimento. Carrega na palavra antes de seu nome o conceito prévio de nomes como o Pastor Marco Feliciano, o Pastor Valdemiro, o Bispo Edir Macedo, um “posto” acima na ordem. No entanto, quer justamente desmistificar esse entendimento.
“Viemos aqui quebrar tabus. Foi criado que igrejas formam forças contra os LGBT+, o que é reforçado quando Feliciano fala que os cristãos estão em risco com a criminalização da homofobia, por exemplo. É bobagem, um absurdo! Estamos aqui para fundamentar uma união para combater a homofobia que, além de crime, é um pecado”, diz o religioso, enquanto amarra uma bexiga com o símbolo do Bloco Gente de Fé.
A ideia era unir forças, a começar pelos próprios grupos. Outra barreira quebrada, a de que religiões não se conversam, também ocorreu. Como dito anteriormente, representantes de inúmeros pensamentos diferentes formaram o coletivo. Um fortalecimento da religiosidade ao mesmo tempo que demonstrava força e parceria com as lutas antiLGBTfobicas e por liberdade.
“É um ato importante, ainda mais no cenário de onda fundamentalista. Todos temos o direito de crer, ele é para trans, cis. Todos. O evangelho não é esbranquiçado, da bancada da bíblia ou da bala. Religiosidade é inclusiva, busca alianças”, explica Ricardo Mendes, 31 anos, integrante da ICM (Igreja Comunidade Metropolitana).
Criada nos Estados Unidos na década de 1960, a ICM surgiu justamente com a população LGBT+ e para os LGBT+. Segundo ele, é retratada no filme “Orações Para Boby”, quando uma mãe religiosa tenta “curar” o filho homossexual. Sem apoio e pressionado pela vertente religiosa de que ser o que ele era estava errado, não iria para o céu, o jovem cometeu suicídio.
Na Paulista, o Bloco Gente de Fé levou faixas, balões e, principalmente, a mensagem de apoio. “Existe um discurso muito utilizado de combate à população LGBT+ pela religião, o que está errado. Evidentemente que existem LGBT+ dentro do espaço religioso, viemos aqui também para constatar que estes atores realizam resistência em um momento de retrocesso”, explicou Alexandre Pupo, 26 anos, um dos organizadores do Bloco.
Gay com Bolsonaro? Tem, sim
A caminhada pela Avenida Paulista em meio à Parada LGBT+ era colorida. Bandeiras do movimento, da luta trans, bandeiras do Brasil e mensagens contra o presidente Jair Bolsonaro (PSL). O coro “Ei Bolsonaro, vai tomar no cu” ecoava na estação Consolação do Metro. No entanto, nem todos apoiavam as críticas.
Uma cena chamava a atenção para quem passava próximo ao MASP (Museu de Arte de São Paulo): um homem vestia uma camiseta com o nome do presidente enquanto usava a bandeira com as cores do arco-íris, símbolo do movimento LGBT+, como saia. O médico Marco Ribeiro, 55 anos, discorda haver desavença no vestuário. Para ele, as mensagens se conectam.
“Tem muito preconceito”, define. “Não acho Bolsonaro homofóbico. O que ele faz todos os LGBT+s ouvem em casa. A homofobia é algo familiar. O que ele fala é preconceito, não discriminação. É um jogo político”, argumenta Ribeiro, enquanto questionado pela reportagem da Ponte.
Para ele, Bolsonaro tem políticas que ajudam a população LGBT+, “como a Lava-Jato e o combate à corrupção”, enquanto as falas homofóbicas não afetam a luta. “É mais com pessoas, como o Jean Wyllys, do que com o movimento. A família causa mais mal para o gay do que o Estado. O que o Bolsonaro acha moralmente não me atinge”, prossegue.
A sustentação passou para outro lado que bolsonaristas tanto usam: comunismo. “Veja, em países comunistas não se pode ser gay. Na Rússia eles levavam os LGBT+ para matar na Sibéria. Quanto tiver alguém marxista no poder, os gays serão eliminados. Esse povo, como Cuba, ainda tem a cabeça meio comunista”, diz, citando que recebeu “olhares feios” de quem estava na Paulista, mas em nenhuma violência ou agressividade.
No entanto, considera que o movimento LGBT+ usa dos números para se vitimizar. “Estão matando héteros e gay na mesma quantidade, são 70 mil mortos no país por ano. Se for ver estatisticamente dentro de casa divisão, é o mesmo total de morte. Eles valorizam, estão matando todo mundo”, afirma o médico, antes de deslegitimar a luta de Marielle Franco, vereadora assassinada no Rio de Janeiro em março de 2018.
“Marielle era associada ao tráfico, o Psol é associado ao crime. Ela tinha conivência com o tráfico. Veja, toda ditadura que surge a primeira coisa é tirarem as armas do povo, desarmar, enquanto os bandidos estão armados. Na Suíça, todo cidadão pode ter uma arma e lá nem se tem exército”, justifica a crítica, considerando-se favorável ao decreto pró-armas de Bolsonaro.