Denúncia sobre vídeos de policiais que confessaram crimes em podcasts ficou em segundo lugar na categoria “Reportagem”
A reportagem Policiais confessam crimes impunemente em podcasts e videocasts, de autoria do jornalista Fábio Canatta e publicada pela Ponte, ganhou o segundo lugar na categoria “Reportagem” da 40ª edição do Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo. O anúncio dos vencedores foi feito nesta quinta-feira (16/11) pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) que instituiu a premiação em parceria com a sede gaúcha da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS). A Ponte concorreu com outros 95 trabalhos avaliados pela comissão julgadora.
Publicada em abril deste ano, a reportagem mostrou que programas de entrevistas que convidam policiais e ex-policiais viralizam no YouTube e em plataformas de áudio com milhões de visualizações. Na conversa com clima amistoso e compreensivo, policiais debocham de vítimas, comemoram assassinatos e naturalizam a violência.
Jornalista há mais de 20 anos e professor universitário, Canatta conta que acabou tendo contato com um dos vídeos de forma aleatória enquanto estava acessando o YouTube. “Um corte de um desses podcasts aparecia um desses policiais relatando, contando a história de uma operação que, como todas as outras que eles relatam ali, foi violenta, violou direitos humanos. O que mais me chamava atenção não era nem o relato da operação em si, que nós sabemos que acontece com muita frequência, mas a felicidade, o clima, a comemoração em torno daquela história”, revela. “Tinha um mercado gigante ali, que alimentava essa cultura da violência policial, que idolatrava esses sujeitos. E fazia eles terem orgulho de contar, por exemplo, um caso em que um dos policiais espanca uma mulher grávida e contar isso entre risadas”.
A reportagem serviu de base para uma recomendação feita em julho pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro e da Defensoria Pública da União (DPU) para que a Secretaria de Polícia Militar do estado criasse normas sobre uso de redes sociais e aplicativos por PMs, já que parte dos policiais denunciados na matéria são do Rio de Janeiro.
A corporação criou em outubro novas normas para postagens na internet a fim de coibir a incitação de ódio nas redes sociais. O documento está em análise no MPF, que continua investigando o caso.
Canatta, que recebe pela quarta vez a premiação, destaca o compromisso do jornalismo com a fiscalização de violações de direitos humanos. “Essa premiação começou em 1984, período final da ditadura militar, justamente com o intuito de dar visibilidade para o trabalho jornalístico que denuncia violações de direitos humanos. O prêmio tem tudo a ver com o trabalho da Ponte Jornalismo e tem tudo a ver também com a pauta dessa reportagem, cujo ponto de partida é uma série gigantesca de violações de direitos humanos comemoradas pela polícia”, afirma.
A cerimônia da premiação está marcada para 8 de dezembro em Porto Alegre (RS), dois dias antes da data que marca os 74 anos da promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela ONU.
Essa é a segunda vez que a Ponte Jornalismo é reconhecida pela mesma premiação. Em 2022, o documentário Massacre do Carandiru: 30 anos de Impunidade, produzido e lançado no YouTube, ficou em segundo lugar na categoria “Documentário”.