Repórter Josmar Jozino passa a colaborar com a Ponte Jornalismo

    Com 32 anos de carreira e três livros publicados, Jozino é um dos mais experientes repórteres de polícia do País

     

    Encontrei Josmar Jozino num café perto do metrô Marechal Deodoro, quase não o reconheci, estava sem o bigode que ostentou por 38 anos.

    – Josmar, por que você demorou tanto para vir para a Ponte?

    – Porque vocês nunca me chamaram.

    Rimos. Ambos sabíamos que ele é um sonho para a Ponte Jornalismo desde sua fundação. Josmar, um dos mais experientes repórteres policiais do Brasil e que passa a colaborar conosco, tem também esse raro talento de unir humildade e humor numa resposta de bate-pronto. Aliás, o livro que está escrevendo no momento tem bem essa pegada. Será sua quarta obra, mesmo assim ele nega o título de escritor. “Sou repórter”, diz, sem traço de falsa modéstia. Quem já leu seus livros entende o que ele quer dizer. “Cobras e Lagartos”, “Casadas com o crime” e “Xeque-mate” são jornalismo em estado puro, uma prática que já conferiu ao autor três menções honrosas no prêmio Vladimir Herzog. O primeiro foi no ano 2000, pela reportagem “Tortura ou Encenação”, publicada no Diário Popular, que denunciava tortura numa unidade militar em Santos, e os demais pelos seus dois primeiros livros.

     

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    Capa do segundo livro de Josmar “Casadas com o Crime”

    “Cobras e Lagartos”, premiado em 2005, tornou-se obra referência para quem quiser entender as raízes do surgimento da facção criminosa Primeiro Comando da Capital. Está esgotado nas livrarias e é artigo de luxo em sebos, nas raras vezes em que aparece não sai por menos de R$ 250,00. Nada mal para quem não se acha escritor.

    Em 2008, “Casadas com o Crime” lhe deu seu terceiro Vladimir Herzog. O livro conta a história de mulheres que passaram boa parte de suas vidas em presídios de São Paulo, seja como visitantes de maridos, filhos ou filhas ou como encarceradas e que tiveram algum tipo de envolvimento com protagonistas do PCC. “Xeque-mate” encerra a trilogia, esmiuçando a guerra entre os homens da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e os líderes do crime organizado.

    Formado em jornalismo e em história, Josmar, ou Caveirinha como foi apelidado nas redações, é desses repórteres que olham e ouvem. Pode parecer básico, mas é raro. Ele escuta o interlocutor com uma genuína expressão de interesse,  sem induções, sem desviar olhar, mostra-se apenas um homem tranquilo ouvindo uma história. É um jornalista que sempre buscou ir além do B.O., frequentemente a única fonte na cobertura policial, o que o fez acumular grandes reportagens nas suas passagens pelo Diário Popular, Jornal da Tarde, Agora, pelas rádios Eldorado, CBN e Jovem Pan e pela TV Record, ao longo de três décadas de carreira. Aos 58 anos, o repórter dedica-se ao quarto livro, já batizado de “Meio que em off”, em que reunirá histórias pitorescas dos bastidores do jornalismo e de sua própria trajetória.

    A ideia surgiu de um episódio protagonizado por ele mesmo. No processo de elaboração do livro “50 Anos de Crimes no Brasil”, o jornalista Fernando Molica telefonou para Josmar, que integraria a coletânea de reportagens, pedindo-lhe para escrever um “making off” sobre os bastidores do jornalismo policial. À época trabalhando no Jornal da Tarde, ele estranhou o pedido. “Fiquei encucado e fui perguntar para Bruno Tavares (repórter no Estadão) como é que se pode escrever algo ‘meio que em off’, se o que é off não dá para escrever”.  O caso virou motivo de gargalhadas na redação. “Naquele dia falei, vou escrever um livro chamado Meio que em off para contar histórias do jornalismo”.

    É esse jornalista, corinthiano de Itaquera, mestre em investigar, mestre em ouvir e mestre em contar histórias que muitos não querem ver reveladas, que se une à Ponte Jornalismo, levando um histórico profissional único e uma humildade, que só os grandes exercem com naturalidade, de dizer que ainda quer aprender.

    Como Ponte, só podemos comemorar e agradecer. Como Claudia, meio que em off, faço um pedido: Josmar, deixe seu bigodón crescer novamente. Faz parte de seu charme.

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