Rota aterroriza periferia e mata 3 após morte de PM em Santos (SP)

    Segundo população, policiais invadiram barracos e atiraram em homem caído: ‘A Rota não quer saber se é trabalhador ou do crime’

    Trecho da Vila dos Pescadores, em Cubatão, na baixada santista. | Foto: Arquivo pessoal

    Três pessoas não identificadas foram mortas por policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), a tropa de elite da PM paulista, na noite de sexta-feira (26/4), na comunidade Vila Siri, na Vila dos Pescadores, em Cubatão, localizada na baixada santista, litoral paulista.

    As mortes aconteceram um dia depois que o cabo PM Daniel Gonçalves Correa, 43 anos, da 2° Companhia de Rota, lotado no 1° BPChoque, foi assassinado a tiros em Santos quando estava de folga. A PM montou uma operação na baixada santista desde a noite de quinta-feira (25/4) para tentar identificar e prender o autor do crime.

    Moradores da comunidade Vila Siri ouvidos pela reportagem, que pediram para não serem identificados por medo de represálias, afirmam que houve uma queda de energia e os policiais entraram na comunidade atirando. “Era por volta das 18h30, quando a gente ouviu os disparos e saiu correndo para se proteger. A rua estava cheia de pessoas e crianças, eu estava no parquinho com minhas filhas porque era horário que elas estavam voltando para escola”, relatou uma mulher. “A gente teve que se esconder em um beco sem saída. Ficamos sem luz por uns 10 minutos”.

    Ela afirma que durante a correria moradores viram que um dos rapazes foi atingido num beco de uma rua, na região da Chatuba, que fica dentro da comunidade. “Os policiais continuaram atirando mesmo com ele caído no chão. A gente escutou uns seis tiros. Os outros dois rapazes a gente não sabe o que aconteceu, mas as famílias têm medo de divulgar os nomes e os policiais irem atrás deles”, contou.

    A mulher afirma que ela e outros moradores também tiveram as casas invadidas pelos policiais. “Umas 19h30, uma amiga me ligou falando que os policiais estavam invadindo meu barraco, quebrando tudo, e eu fui para lá e pedi licença para eles, eles não deixaram eu passar e ainda esfregaram a arma na minha filha”, prosseguiu. “Só depois a gente ficou sabendo que foi por causa da morte do PM. A Rota não quer saber se é trabalhador ou gente da vida do crime, eles julgam todos”.

    Procurada pela Ponte, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que a versão dos policiais é de que houve duas ocorrências de troca de tiros no mesmo bairro. Na primeira, aponta que um homem foi preso e outros dois suspeitos morreram em confronto com os policiais, que teriam apreendido com eles um rádio comunicador, dinheiro e um revólver com a numeração raspada.  Já no segundo caso, a pasta informa que os policiais tentaram abordar três homens suspeitos, sendo que dois fugiram e o “terceiro que estava armado, atirou contra os PMs, que intervieram”. Ele teria sido atingido no revide e levado para o Pronto Socorro de Cubatão, mas não resistiu aos ferimentos. Segundo a SSP, “a arma usada pelo suspeito foi apreendida e na casa os policiais encontraram drogas e materiais para embalar entorpecentes”.

    A reportagem questionou a Inpress, assessoria de imprensa terceirizada da SSP, se as mortes ocorreram em meio a operação da PM após o assassinato do cabo Gonçalves e sobre a atuação da polícia na região, mas não responderam. A pasta se limitou a dizer que as circunstâncias serão apuradas por meio de inquérito policial militar, além de ser investigada pela Polícia Civil de Cubatão e que a corregedoria da PM acompanha o caso.

     

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