Em entrevista ao “Da Ponte pra cá”, o sociólogo Henrique Macedo afirma que para a tropa mais mais letal do Estado o crime tem um território definido: a periferia
Nesta quinta-feira (15/10), a Rota – Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar – completou 50 décadas. Enquanto para entre os bairros de classe média a tropa mais letal da Polícia Militar do Estado de São Paulo é um agrupamento de heróis, para moradores da periferia e pessoas negras, a Rota é sinomino de violência e morte. Foi para falar do histórico da Rota que o “Da Ponte pra cá”, live de entrevistas da Ponte, conversou o sociólogo e doutorando pela Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), Henrique Macedo, na véspera do aniversário da Rota. A entrevista foi conduzida pelo repórter Arthur Stabile.
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Nascida como um braço repressor da ditadura àquilo que era considerado “terrorismo”, Henrique avalia que o modelo repressivo da Rota não foi abandonado, mas transferido para a periferia. ‘”Para [a Rota], em tese, o crime em si é territorializado”, aponta. Segundo o pesquisador do Gevac (Grupo de Estudos Sobre Violência e Administração de Conflitos) da Ufscar, a mentalidade criada na tropa é de que “aquelas pessoas [periféricas] já estão em ‘período criminal’, são criminosos por essência. Então, teoricamente, não teria por que tratá-los de forma diferente”.
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Outro elemento importante na construção do mito da Rota é o medo. O perfil da tropa não dá espaço ao contraditório, à possibilidade de crítica, mas apenas para formas de propagandas positiva, como os filmes do diretor Elias Junior. “O medo é proposital como uma política pública aplicada”, afirma o pesquisador, que ainda destaca que a situação pode ser colocada de tal forma que “que você pode se tornar criminalizável”, enquadrado no velho discurso da suposta “defesa dos bandidos”. “Eles querem que seja a temida Rota, não só para aqueles que eles consideram criminosos, mas também para aqueles que eles acham que defendem criminosos, aqueles que são vinculados aos direitos humanos”.
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Henrique também teceu críticas à política de segurança pública do país. Segundo ele, ela “preza muito mais pelo combate e quer lidar com as coisas num plano imediatista, num plano já do crime ocorrendo, que, na verdade, fatalmente vai levar a um confronto ou um massacre”. A entrevista tocou ainda temas como o envolvimento da Rota com política, a letalidade da tropa e a seus arroubos de vingança.
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