Sarau na Ocupação Mauá, centro de SP, denuncia reintegração de posse e despejo de mais de 200 famílias que pode acontecer a qualquer momento
Moradores da Ocupação Mauá, no bairro da Luz, centro de São Paulo, se organizaram e fizeram um sarau, com mais de 30 artistas, entre cantores, atrizes e grafiteiros, na tarde de sábado (24/06) para denunciar a reintegração de posse do local e, consequentemente, o despejo de mais de 200 famílias que vivem no local e não têm aonde ir.
A reintegração foi definida pelo juiz Carlos Eduardo Borges Fantacini, da 26ª Vara Cível. Em 2013, o então prefeito Fernando Haddad (PT) decretou que o prédio seria de interesse social e depositou R$ 11 milhões para a compra do edifício. Os proprietários, no entanto, avaliam o prédio em R$ 21 milhões, o que travou a compra.
Segundo Ivaneti Araújo, do MMLJ (Movimento de Moradia na Luta por Justiça), o sarau foi uma forma de mostrar que há cultura e que é uma irresponsabilidade tirar todos de onde estão sem nenhum outro lugar para viver. “Se a Justiça é injusta, a gente responde com cultura”, afirma à Ponte Jornalismo.
“São mais de 200 famílias aqui, já estabelecidas e com diversas atividades culturais. Nós não queremos nada de graça. Queremos pagar por aqui que é nosso de direito. Queremos ter direito à moradia. Por isso, lutamos. Quem não luta está morto”, diz Ivaneti.
Hoje, o total de salas e quartos em prédios fechados e abandonados no centro de São Paulo é maior que o número de famílias que participam de movimentos por moradia. O imóvel onde fica a ocupação Mauá já foi um imponente hotel do centro de SP, mas ficou completamente abandonado e degradado por 20 anos.
Em 2007, um grupo de famílias trabalhadoras, engajada no movimento por moradia digna, ocupou o edifício e deu novo sentido ao velho prédio da rua Mauá. Há dez anos, seus moradores organizam constantes mutirões para a limpeza, reforma e conservação da habitação. Em 2012, o local já teve, também, reintegração de posse.
Entre os artistas que foram ao evento, estão o poeta e escritor Tubarão Du Lixo; o rapper Max Musicamente; a poeta e atriz Vitória Salvadori, os atores Sidney Santiago e Lucélia Sérgio da Companhia Os Crespos; performance do grupo Teatro do Engenho; a dançarina Adriana Nunes, entre outras como Fioti, Ducorre, com participação especial da Srta. Paola; Crônica Mendes, que levou ao palco um vigoroso espetáculo misturando rap e guitarra pesada; a cantora Ana Canãs e a Cia. Pessoal do Faroeste.
O encerramento do festival foi feito pela poeta Luana, moradora de ocupação no centro. Ela recitou um poema e fez um discurso inflamado sobre a importância da resistência do movimento de luta por moradia.
Durante o evento, grafiteiros de todas as regiões da cidade produziram painéis multicoloridos tendo como tema a moradia, a luta e a dignidade.
Pela manhã, o coletivo Lentes Periféricas organizou uma oficina de fotografia com crianças e adolescentes da Ocupação Mauá, de tarde, essas fotografias formaram o acervo da exposição de fotos no corredor principal da Mauá.
No pátio, foi instalada uma mostra com registros icônicos do fotógrafo João Wainer.