Seguranças da CPTM dão choque em trabalhador imobilizado

Jovem pulou a catraca após o sistema da empresa falhar e não reconhecer o saldo em seu vale-transporte, na estação Perus, zona noroeste da capital paulista. Acabou derrubado e levou choques de taser. “Se eu fosse preto, me matavam sufocado”, diz

O operador de telecobrança João Ramos Viana, 23 anos, foi imobilizado e recebeu choques de taser por seguranças da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) na manhã desta quarta-feira (29/11), na estação Perus, zona noroeste da cidade de São Paulo. 

Segundo João, conhecido como nin9nine em seu trabalho como DJ, houve falha no sistema que reconhece o saldo do vale-transporte quando tentou passar pela catraca. Sem dinheiro para uma nova passagem, ele pediu a um funcionário da Companhia que o deixasse passar, já que o problema era da máquina. O funcionário não deixou. 

Diante da negativa e com o trem já na estação, João pulou a catraca. A partir daí começaram as agressões dos seguranças. “Ele me segurou pela bolsa e me puxou para trás, estourou a minha bolsa. Aí foi me aplicando um mata-leão e outro veio e me desferiu socos na costela, tirou um taser e começou a aplicar choques”, relata. 

Agressão ocorreu na manhã desta quarta-feira (29/11) na estação Perus da CPTM | Foto: Reprodução

Um vídeo compartilhado por João no Instagram mostra a ação. Nas imagens é possível ver o jovem imobilizado por um agente no momento em que o taser é aplicado contra ele. As agressões só param quando um terceiro agente chega ao local.  

O jovem conta que foi expulso na estação logo após as agressões. João nega que tenha agredido ou ofendido os agentes. “Eu não cheguei a empurrar, eu não cheguei a xingar , eu não cheguei a incitar o ódio”, afirma. 

O jovem usava um vale-transporte. O valor é depositado pela empresa em que ele trabalha. Para acessar o transporte coletivo é necessário que ele valide o saldo em uma máquina. Segundo João, esse equipamento não estava funcionando. 

Ele conta que em situações anteriores na mesma estação, o procedimento adotado foi a liberação da passagem sem um novo pagamento. No site da CPTM não há informação disponível sobre qual o protocolo nesta situação. 

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No Instagram, ao compartilhar o vídeo da agressão e imagens dos ferimentos que ficou pelo corpo, João escreveu que o fato de ser branco impediu que a violência fosse maior. “Se eu fosse preto, me matavam sufocado”, disse.

João registrou um boletim de ocorrência por lesão corporal no 46º DP (Perus). “O uso da força é excessivo. Eu quis denunciar”, afirma. 

O que diz a CPTM

A Ponte procurou a CPTM questionando o protocolo para a situação relatada por João. Em nota, a Companhia reconheceu que houve falha no sistema. A empresa também disse que o jovem reagiu à abordagem, o que ele nega.

Veja a nota na íntegra:

Na manhã desta quarta-feira (29/11), por volta das 8h20, na Estação Perus, da Linha 7-Rubi, a equipe de segurança abordou um passageiro que burlou o bloqueio (catracas) sem pagar a tarifa, o que é considerado infração por evasão de renda, após não conseguir carregar o bilhete nas AMTs da estação. O passageiro reagiu à abordagem, sendo necessário uso de força para contê-lo e sua retirada do sistema.

A CPTM lamenta o ocorrido e informa que está apurando os fatos seguintes à abordagem. A companhia reitera que não tolera nenhum tipo de violência contra vida nos trens e estações, seja por parte de seus colaboradores ou de passageiros que utilizam o sistema. Com relação às ATM’s, foi aberta falha junto à AutoPass, responsável pela administração e a fiscalização do Bilhete Único, às 7h48.

A companhia tem investido em ações de segurança e atua de forma estratégica para inibir e coibir infrações e ocorrências de segurança pública nas estações e trens. Entre as inciativas estão a inauguração da Central de Monitoramento da Segurança Patrimonial e a aquisição de 160 bodycams neste ano, além da parceria com a Polícia Militar (desde 2019) para atuação da DEJEM dentro do sistema ferroviário. A companhia também reforça o patrulhamento ostensivo e preventivo nos trens, faz rondas 24 horas por dia em todo o sistema e conta com a participação da Polícia Militar e Civil.

O que diz a polícia

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) emitiu a seguinte nota:

Um jovem de 23 anos compareceu ao 46º Distrito Policial (Perus), nesta quarta-feira (29), relatando que, ao tentar carregar seu bilhete na Estação Perus, encontrou o sistema fora do ar. Diante disso, solicitou aos funcionários do terminal que liberassem a catraca para ele, mas seu pedido foi negado. Como resultado, ele pulou a catraca, desencadeando uma confusão. O caso foi registrado como lesão corporal e um exame de corpo de delito foi requisitado para a vítima.

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