Poeta da zona sul de SP, cocriador do Sarau da Cooperifa, Sérgio Vaz foi ao Morro do Vidigal lançar seu oitavo livro
Na subida do morro do Vidigal, zona sul do Rio de Janeiro, em uma rua estreita em que mototaxistas, carros e pedestres se cruzam, o poeta vindo da zona sul de São Paulo, Sérgio Vaz, lançou na sexta-feira (2/6) seu oitavo livro, Flores de Alvenaria . O lançamento ocorreu no espaço Ganjah, do ator Jonathan Haagensen., amigo do escritor.
Completando 30 anos de poesia na próxima semana, Sérgio foi homenageado pelo grupo de teatro Nós do Morro, que desceu a favela fazendo performance e recitando seus poemas.
“Meus livros, poesias e poemas são sempre nas periferias, falando de amor, denunciando, mas também anunciando esperança”, disse o poeta. “Semana que vem completo 30 anos de poesia. O engraçado é lembrar que, em meu primeiro livro, quando lancei, tinha nem asfalto onde eu morava”, contou ele. “Achei que esse lance de escrever fosse algo passageiro e cá estou no meu oitavo lançamento”, afirmou. “ Que louco isso, né? Tem gente que lê o que escrevo. Eu não sou nada humilde, sou extremamente arrogante. A vida me maltrata e eu maltrato a vida”, declarou.
Além da performance do Nós do Morro, o microfone esteve disponível quase toda a noite para quem quisesse declamar poemas. Quem deu início foi o Sarau da Cooperifa, criado por Sérgio e pelo poeta Marco Pezão em 2001, que veio junto com ele para o lançamento. Mc’s Junior e Leonardo também marcaram presença com seu som, além dos atores Wagner Moura e Maria Ribeiro.
“É gratificante poder estar presente em um sarau deste. Sou fã do Sérgio, do jeito que ele escreve, das palavras que ele arruma, da simplicidade”, disse o professor de artes Ruberli Ângelo, 33 anos. “Acompanho sempre nas redes sociais. Não ia deixar de vir neste evento aqui no Rio, perto de casa”, completou.
Para o produtor de evento, Túlio Baía, de 25 anos, o sarau é inspirador. “Isso tudo é muito rico. Admiro muito a forma que o Sérgio lida com a literatura marginalizada e com o cotidiano. Escrever sobre a cidade, a realidade, é uma arte”, respondeu.
“Eu gosto de escrever sobre a rua, sobre o cotidiano. Cresci nas calçadas. É uma forma que encontrei de agradecer por estar vivo”, disse Vaz. “Quero falar com as pessoas do passado, presente, futuro”, completou. De acordo com ele, a habilidade em escrever se deu após servir no Exército, em 1983, quando levou uma bronca de um sargento por cantar no quartel Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, e assim descobriu como a palavra poética tinha poder.
“Pablo Neruda me inspirou. Eu achava que poesia era coisa de gente fraca. De repente descobri que não. Poesia serve para bater também”, acrescentou. “Eu bato muito, mas nada em comparação do que a vida bate em mim”, concluiu. “Hoje eu revido, mas já apanhei muito calado”, declarou. “A gente tem voz, as pessoas que não escutam”, finalizou.