Tradicional caminhada percorreu ruas do centro da capital nesta sexta-feira (8/3) contra a violência de gênero e por direitos, mas teve confusão com partido que não estava na organização e houve violência entre militantes
Mesmo sob chuva forte, centenas de mulheres marcharam pela Avenida Paulista, no centro da cidade de São Paulo, para mostrar que a luta por direitos básicos é permanente nesta sexta-feira (8/3), data que marca o Dia Internacional da Mulher.
A tradicional caminhada que acontece simultaneamente em cidades de todo o país teve neste ano o tema “Nas ruas pela vida das mulheres e legalização do aborto! Contra as violências, as privatizações, o fascismo e o genocídio do povo negro e palestino!”. Na capital paulista, a concentração aconteceu às 17h no Museu de Arte de São Paulo (Masp) e com encerramento na Praça Roosevelt.
A advogada Meire Morais, de 59 anos, sinaliza que o Dia da Mulher não pode ser visto como uma data comercial. “O dia de hoje está muito romantizado. A gente tem que continuar politizando, mas é muito difícil. Fica uma situação como se fosse Dia das Mães, Dia dos Pais. A gente tem sempre que ficar reforçando que é um dia de luta e um dia político, de importância e de empoderamento da mulher também na política porque só na política que ela vai conseguir alterar a realidade social das mulheres”.
Ela alerta que a pauta do aborto foi “desvirtuada” e “deixou de ser de saúde pública e passou a ser uma questão moral”, que inviabiliza o acesso e prejudica a vida das mulheres. Ela empunhava uma placa com os dizeres “o Estado opressor é o macho estuprador”.
Segurando um cartaz escrito “aborto legal é direito!”, a militante e professora Rose Santos, 39, destacou que mesmo em um governo considerado progressista no âmbito federal, o acesso ao aborto, que é previsto quando a mulher é vítima de estupro, se o feto é anencéfalo ou a gravidez gera risco de vida para mulher, ainda depende de mobilização para que a lei seja cumprida. “A gente vem de um governo progressista, de um governo que derrotou um projeto totalmente reacionário, mas é importante essa participação ativa e independente das mulheres. As mulheres estarem nas ruas e não só confiando em governos, mas estarem confiando na sua própria força e na sua própria capacidade de mobilização”, afirma.
Ela também destaca a necessidade de ampliar o aborto não só para esses casos. “Nos países onde o aborto é legal, a gente vê uma redução drástica em todas as violências de gênero. A pauta do direito ao aborto no Brasil é uma pauta urgente em todos os sentidos, dos direitos reprodutivos da mulher e que enseja todas as outras pautas de gênero”, declarou.
A ativista e assessora parlamentar Amanda Paschoal, 31, aponta que essa questão também afeta a comunidade trans e precisa ser reconhecida. “As questões de saúde reprodutiva não acometem apenas as mulheres, mas também temos homens [trans] e pessoas não-binárias que também gestam, também têm útero e precisam ter acesso a esse direito básico na saúde pública”, diz.
As formas como as violências atingem as mulheres também foram entoadas no protesto. Levantamento da Rede de Observatórios da Segurança, lançado na quinta-feira (7/3), apontou que houve aumento de 49% dos casos de feminicídio e transfeminicídio em sete estados, incluindo São Paulo, e que uma mulher foi vítima de algum tipo de violência, da verbal ao assassinato, a cada três horas.
Amanda reitera que a luta tem que ser coletiva: “temos que promover a mudança através da nossa mobilização e da união da luta das mulheres cis, das mulheres trans, negras, periféricas, mães solo”.
Durante a concentração e em parte do trajeto pela Rua Augusta, houve dois momentos de confusão com militantes do Partido Comunista Operário (PCO). Primeiro, eles queriam subir no carro de som para falar ainda em frente ao Masp, mas foram impedidos por não integrarem a organização do protesto.
O presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, declarou pelo X (antigo Twitter) que o partido não tinha sido convidado para participar da organização. Já a secretária estadual da organização do Movimento Negro Unificado (MNU) em São Paulo, Luka Franca, disse pelo X que os militantes tentaram “bater na coordenação” do carro de som. A Polícia Militar foi acionada para separar os grupos após um empurra-empurra.
Depois, movimentos da organização fizeram um cordão para evitar a aproximação dos militantes do PCO, que por sua vez argumentavam que um manifestante teria pegado um instrumento musical deles. A PM também passou a acompanhá-los no percurso para impedir o atrito. A Ponte flagrou uma militante do PCO agredindo uma mulher com um mastro de bandeira. Policiais usaram cassetetes contra militantes do partido.
O ato terminou às 20h15, na Praça Roosevelt. Participaram diversos movimentos sociais, de mulheres, de moradia, negros, trans e pela causa palestina. As reivindicações passavam por direitos das mulheres, não privatização da companhia de água do estado, a Sabesp, pedidos por prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro e contra a violência policial.
Veja abaixo mais fotos do evento: