Jhonatan Almeida Sousa é primo de Fernando de Moraes, um dos quatro mortos na chacina ocorrida em abril de 2017 no mesmo bairro; ouvidor das polícias diz que ‘caso é grave, mas ainda é cedo para afirmar conexão’
Na noite de sexta-feira (4/5), atiradores mataram Jhonatan Jacó Almeida Sousa, o Dendê, de 18 anos, e o sobrinho dele, Vitor Henrique da Silva, de 13, no Jardim Conceição, na zona sul de Osasco, na Grande São Paulo. O crime aconteceu na frente da casa deles, na esquina das ruas Mathias Albuquerque e Paranaense, próximo do local onde, em abril do ano passado, uma chacina deixou 4 mortos. Dendê era um sobrevivente desse episódio, que deixou morto o primo dele, Fernando de Moraes, de 35 anos. As outras vítimas foram: Ozias Pereira, 35, Rogério Raimundo Rocha de Souza, 21, e Danilo Denis das Dores, 20. Os assassinatos do ano passado aconteceram na rua Orlando Torres, distante 500 metros da esquina onde os disparos foram efetuados na sexta. A abordagem foi bem semelhante: um veículo se aproximou com pelo menos dois homens encapuzados, que começaram a atirar. O ataque aconteceu perto de 22h30, horário de saída dos alunos do período noturno da Escola Estadual Armando Gaban. O caso foi registrado no 5º Distrito Policial de Osasco e, até o momento, a polícia não tem pista dos assassinos.
Para ouvidor das polícias de São Paulo, Benedito Mariano, caso é grave, mas ainda é cedo para afirmar que há atuação de grupo de extermínio no local ou mesmo que as mortes do ano passado e da última sexta estão conectadas. “Eu tenho muita cautela para essas afirmações, mas é um caso que exige que seja acompanhado de perto, sobretudo por causa dessa vinculação com a chacina. Nesta segunda-feira eu vou ouvir os familiares, eventuais testemunhas na ouvidoria. Nós vamos acompanhar de perto e na quarta-feira eu tenho uma audiência com o novo comandante da PM [Marcelo Vieira Salles] e com certeza eu vou pautar esse assunto”, afirmou. “Vou encaminhar pessoalmente o caso também ao Corregedor da PM, Coronel Marcelino, e daqui a algumas semanas faremos uma manifestação final”, conclui Benedito.
Além da tristeza, moradores do Jardim Conceição estão com medo. Poucos querem falar. Os que topam, pedem anonimato. A mãe de Vitor chegou a presenciar os assassinatos. “É meu filho! Não matem”, teria gritado ela, segundo uma testemunha. O pai de Jhonatan e avô de Vitor também ouviu os disparos e correu para a rua, mas, por conta da pouca iluminação, não conseguiu ver qualquer identificação do veículo. As vítimas foram socorridas por parentes para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro, mas não resistiram aos ferimentos e morreram. Os corpos demoraram para ser liberados, porque Vitor precisou ser levado ao IML central em São Paulo. O enterro deve acontecer por volta das 17h deste domingo (6/5).
O Jardim Conceição guarda um histórico de luta. O bairro surgiu de uma ocupação e viveu o processo de urbanização nos anos 90, depois de intensa batalha com o então prefeito da época, Francisco Rossi. A família de Jhonatan e Vitor participou ativamente dessa construção e é vista por vizinhos como “muito simples e trabalhadora”.
A Ponte Jornalismo procurou a SSP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo) por e-mail para saber sobre o andamento das investigações. Além disso, questionou se os responsáveis pela chacina do ano passado no mesmo bairro foram identificados e punidos e se é possível que os dois casos estejam ligados. *Em nota, a pasta informa que “o caso segue em investigação. A ocorrência foi registrada no 5º Distrito Policial de Osasco e conta com o apoio do Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP) da cidade nas apurações. Diligências estão em andamento em busca de subsídios para identificar e prender os autores. Cabe esclarecer que, embora a investigação esteja no início, nenhuma possibilidade sobre a motivação do crime está descartada”.
*Reportagem atualizada às 10h09 do dia 7/5, segunda-feira