Policial, que estava de folga, alegou que Gabriel Soares, de 26 anos, fez menção de estar armado, mas nenhuma arma foi encontrada. Morte ocorreu em unidade da loja na Avenida Cupecê, zona sul de São Paulo
O sobrinho do rapper Eduardo Taddeo, ex-integrante do Facção Central, foi morto por um policial militar de folga na noite de domingo (3/11), em São Paulo. O PM alegou que Gabriel Renan da Silva Soares, de 26 anos, fez menção de estar armado e por isso disparou. Contudo, nenhuma arma foi encontrada com o jovem.
Gabriel tinha ao menos 13 perfurações no corpo, algumas delas no rosto. A família não vê legítima defesa na atuação do policial e diz que, se Gabriel furtou, ele deveria ser preso e não morto. “Tiro no rosto é para matar”, diz Fátima Taddeo, tia do jovem.
Ele completaria 27 anos nesta quinta-feira (7/11). O velório do jovem está sendo realizado no Cemitério Campo Grande, na Vila São Pedro, zona sul da capital.
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Gabriel morreu no local. Fátima Taddeo conta que o corpo só foi removido na manhã de segunda-feira (4/11). Segundo a tia, o jovem se esforçava para abandonar o vício na droga K. “É uma droga muito difícil. A abstinência é dolorosa”, conta ela.
Fátima argumenta que, sob efeito de drogas, o sobrinho não tinha condições de reagir. “Eles precisaram de oito tiros para ver que o Gabriel não estava armado?”, questiona.
No Instagram, Eduardo Taddeo gravou um vídeo indignado, lamentando a morte. “Mais um jovem preto, mais um jovem da periferia exterminado”, disse o artista. “Mais uma vez vai ser absolvido, mais uma vez vai ser legítima defesa.”
O crime ocorreu por volta das 22h, em frente ao mercado OXXO localizado na Avenida Cupecê, no Jardim Prudência, zona sul de São Paulo. A Ponte teve acesso ao boletim de ocorrência registrado no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
O boletim diz que o policial Vinicius de Lima Britto fazia compras no OXXO quando presenciou Gabriel “subtraindo mercadorias”. O PM, que contou estar pagando as compras no momento em que viu a ação, teria questionado o jovem sobre o ato. Na versão do agente, Gabriel afirmou estar armado e colocou a mão na blusa “como se estivesse armado”.
Um atendente do OXXO também prestou depoimento. Segundo o relato, Gabriel entrou no mercado encapuzado. O jovem teria ido ao corredor de produtos de limpeza e pego alguns produtos. Ao sair do mercado, ele teria escorregado em alguns papelões que estavam na porta, momento em que foi abordado pelo PM. O funcionário também contou que Gabriel levou a mão dentro do moletom fazendo “menção de estar armado”.
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O PM teria atirado contra Gabriel, que saiu em direção à calçada, mas retornou supostamente dizendo “não mexe comigo, que eu estou armado, não quero nada que é seu”, sendo novamente atingido.
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O mesmo atendente contou que, mais cedo naquele domingo, Gabriel teria levado caixas de café e bolachas sem pagar, fazendo a mesma menção de estar armado. Ainda conforme o relato do funcionário, Gabriel furtava a unidade com frequência.
O caso foi registrado pelo delegado Osvaldo Farah S. Cunha como resistência, homicídio decorrente de oposição à intervenção policial e roubo. A arma do policial Vinicius, uma Glock .40 da Polícia Militar de São Paulo, foi apreendida, assim como oito estojos — o que indica que foram feitos ao menos oito disparos. Com Gabriel foram apreendidos uma nota de dólar e a carteira dele, que tinha o cartão do SUS e duas fotos.
O boletim de ocorrência menciona que a unidade tinha câmera de segurança, mas as imagens, a cargo da empresa Fast Meniya, não foram fornecidas.
O que dizem as autoridades
A Ponte procurou a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), o Mercado OXXO e a empresa Fast Meniya, citada no boletim de ocorrência como a responsável pelo sistema de monitoramento da unidade da loja na Avenida Cupecê. Em nota, a SSP-SP afirmou que o policial militar se identificou antes de atirar contra Gabriel:
A Polícia Civil investiga a morte de um suspeito na madrugada desta segunda-feira (4), na Avenida Cupecê, zona sul da capital. Um policial militar de folga relatou que estava em um mercado quando viu o suspeito furtando produtos. O policial se identificou, mas o suspeito levou a mão à cintura e disse estar armado. Houve a intervenção e o suspeito foi atingido tendo o óbito constatado no local. A perícia e o IML foram acionados e o caso registrado como resistência, morte decorrente de intervenção policial e tentativa de roubo na Divisão de Homicídios do DHPP, onde é investigado.
Já o OXXO, em nota, lamentou o ocorrido. A rede disse que as imagens do sistema de segurança estão à disposição. “O OXXO pauta suas ações no respeito às pessoas e lamenta profundamente o ocorrido na noite de 03 de novembro, na unidade da Avenida Cupecê, entre dois clientes. A rede informa que seus colaboradores acionaram imediatamente as autoridades e que as imagens do sistema de segurança estão à disposição dos órgãos competentes a fim de contribuir com a investigação”, diz o texto.
A Fast Meniya não respondeu. O texto será atualizado caso haja retorno.