Influenciadora lésbica denuncia pai nas redes por agressão e consegue medida protetiva

    Lara Inácio, 17 anos, mora com uma tia desde que saiu de casa após sofrer agressões da família; promotora soube do caso e entrou com pedido de proteção

    Lara Inácio foi agredida pelo pai | Foto: arquivo pessoal

    Nas redes sociais, o vídeo que mostra a influenciadora Lara Inácio, 17 anos, no chão, com marcas de agressões nas pernas, viralizou rapidamente ecoando o pedido por justiça. “O dia foi longo…tivemos a nossa casa invadida, eu estava sozinha e apanhei igual cachorro, em cima da minha própria cama e depois na rua deitada! Mas homofobia não existe, né?”.

    https://twitter.com/laarainacio/status/1259988065617149965

    Foi assim que ela publicou as imagens que ganharam tanta repercussão a ponto de chegarem ao Ministério Público de Santa Catarina algumas horas depois de publicadas.

    Antes mesmo de ser solicitada pela advogada Daniela Bornin, a medida protetiva já havia sido protocolada pela promotora Bartira Soldera Dias, da 3ª Promotoria de Justiça de Biguaçu. “Ela agiu de ofício e, quando eu procurei a delegacia, o próprio delegado informou que a promotora já tinha entrado com o pedido de medida protetiva, que foi concedido”, explica a advogada.

    Lara foi agredida na casa da tia, com quem mora há cerca de sete meses em Governador Celso Ramos. A adolescente foi expulsa de casa após diversos episódios de agressão física e verbal, que se iniciaram depois que ela, aos 14 anos, assumiu ser lésbica para a família. “Ela conta que sofria agressões há algum tempo. Ela afirma que as agressões físicas da mãe e as verbais da família materna eram mais constantes. O pai, ela menciona só outro fato além desse”, conta Daniela.

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    A influenciadora foi agredida pelo pai no início da tarde de segunda-feira passada (11/5). O caso chegou até a advogada após mobilização de amigos da adolescente e de alunos de Daniela. No dia seguinte, as duas, acompanhadas da tia, foram até a Delegacia de Polícia de Biguaçu, cidade vizinha, para registrar o caso.

    A repercussão do vídeo, no entanto, já havia mobilizado as forças de segurança. Enquanto o Ministério Público conseguia a medida protetiva, a polícia civil já iniciava a investigação.

    De acordo com o delegado Rodrigo Dantas, o inquérito está em fase final e deve ser concluído e remetido ao Ministério Público até o final desta semana. Apesar disso, ele não dá detalhes sobre o caso. “É uma situação muito difícil em função da peculiaridade do caso. Temos uma série de restrições legais e é um caso familiar. Temos que ter muito cuidado para não aumentar o problema. Por isso, as informações serão repassadas diretamente ao MP e ao Judiciário”, diz.

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    O delegado afirma ainda que diversas testemunhas foram ouvidas, além da adolescente, dos pais e do Conselho Tutelar.

    A adolescente preferiu não se manifestar ou conceder entrevista, mas a advogada conta que as agressões, desta vez, teriam sido motivadas por um tweet no qual a influenciadora questionava ações homofóbicas sem sequer mencionar o pai. “O pai não gostou, a agredia mandando ela apagar o tweet”, diz Daniela. No Twitter, inclusive, o caso ganhou grande repercussão, com internautas espalhando a hashtag #JustiçaporLaraInacio.

    Além da medida protetiva, a advogada da adolescente entrou com uma ação para que a guarda seja revertida para a tia, com quem ela mora desde que foi expulsa de casa. Segundo Daniela, ao ingressar com a ação, obteve a resposta do Ministério Público de que a guarda já foi concedida para a tia. “Ainda não consegui ter acesso a esse outro processo, mas de acordo com o MP, a tia já é a representante legal de Lara”, diz. A influenciadora completa 18 anos em setembro.

    A defensora destacou a agilidade do trabalho policial e do Ministério Público. “Eles moram perto, é uma cidade pequena e é muito importante que tenha existido essa cooperação. Quando nós chegamos na delegacia, enquanto conversávamos com um delegado, outro já estava em Governador, ouvindo testemunhas. O comandante da PM entrou em contato para reforçar o policiamento perto da casa, o Ministério Público agiu rapidamente com a medida protetiva”, ressaltou. “Ela está muito afetada emocionalmente. São os pais dela, a história dela”, complementa a advogada.

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    A investigação corre em segredo de Justiça e, de acordo com o delegado, ainda não há como precisar quais serão as tipificações criminais atribuídas no processo.

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