Taco de beisebol ‘Dipirona’ e diretor dizendo a presos para matar: familiares apontam maus tratos em presídio de Itaí (SP)

Custodiados de penitenciária no interior do estado não estariam tendo acesso a comida e remédios, além de serem torturados, dizem parentes e defensores

Fachada da Penitenciária Cabo PM Marcelo Pires da Silva, no interior de São Paulo | Foto: Reprodução

A Penitenciária Cabo PM Marcelo Pires da Silva, localizada na cidade de Itaí, região sudoeste o estado de São Paulo, se transformou em um campo de tortura física e psicológca, de acordo com parentes e advgados dos custódiados que lá estão presos. 

A unidade, que já foi conhecida como a única do país a ser exclusiva para estrangeiros, é tida como um lugar inóspito para se viver. Além de sofrerem ameaças, as pessoas que estão presas no local não estariam tendo acesso a remédios e comida.

A advogada Aleir Oliveira, que tem ao menos 20 clientes cumprindo pena em Itaí, afirma que são várias as queixas dos presos e que não há espaço para diálogo com a direção do presídio. Segundo a defensora, já foram protocoladas denúncias junto a Secretaria de Administração Penitenciária, mas nunca houve uma resposta para os familiares ou mudou algo na vida de quem segue preso no local.

“Um dos presos chegou a escrever com o próprio punho a situação precária na qual estava vivendo. Como resposta, foi pedido para que os próprios agentes que o torturavam pegassem o depoimento dele”, revela Aleir Oliveira.

A truculência e rigidez são as principais características citadas pelos familiares das pessoas que estão sob custódia do Estado em Itaí. O marido de uma mulher de 37 anos, mãe de dois filhos pequenos e que está desempregada, cumpre pena há cerca de um ano no local. Ela prefere não se identificar temendo que o companheiro possa sofrer alguma retaliação. 

Ela, que mora em Sorocaba, tenta junto com advogada que o pai das suas crianças seja transferido para um presídio mais próximo da sua residência. Por não ter uma renda fixa, ela não consegue percorrer os mais de 200 quilômetros que separam as cidades para visitar o esposo e para que ele seja transferido o diretor de segurança e disciplina da penitenciária, Murici Queiroz, teria dito que ele só iria para outro local se cometesse um crime.

“A gente já fez vários pedidos de transferência para que os meus filhos possam ficar mais perto do pai. Mas segundo ele me disse na última vez que o visitei, o diretor falou que não tem bonde [transferência] no presídio dele. E se ele quisesse ir para outro lugar teria que matar um outro preso”, relata a mulher.

Aleir Oliveira relata que um dos seus clientes é um idoso de 65 anos que tem sérios problemas de saúde, porém tem se negado a ser atendido no posto médico do presídio. Ele teria sido espancado na última vez que esteve no local e até hoje tem sequelas da surra que levou.

“Ele machucou o cóccix depois disso e hoje não consegue mais ficar sentando depois disso. Há um agente chamado Adriano, que é chefe de plantão, que toda vez que alguém que está preso diz que está passando mal e precisa de remédio, ele mostra um taco de beisebol, onde está escrito ‘Dipirona’, e diz que aquele é o único remédio que tem no momento”, explica a advogada.

Morando no interior de Minas Gerais, a mãe de uma custodiado que está no regime fechado em Itaí, e que também não quer ser identificada para maior segurança do seu filho, diz que está preocupada com o estado de saúde dele. Ela afirma que as pessoas que estão presas precisam guardar restos de comida para não passarem fome em determinados horários do dia.

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“Na última vez que eu vi meu filho ele estava muito magro. Eles estão tendo que comer a noite a casca da banana que comem pela manhã porque não estão fornecendo comida que se consiga ingerir. Várias vezes chega tudo podre. Me revolta quando eu vejo falarem na TV que o Estado gasta muito dinheiro com os presos. Onde está esse dinheiro? Se não fossemos nós familiares para levar alguma comida decente para eles, já teriam morrido”, se indigna a aposentada de 68 anos.

Outro lado

A Ponte entrou em contato com a Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo pedindo um posicionamento da pasta diante das denúncias feitas por parentes e advogados dos custodiados, mas até a publicação desta reportagem a assessoria de imprensa da SAP não se pronunciou.

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