Para relator da ONU, Philip Alston, não importa se é ou não genocídio; o urgente é discutir o que tem sido feito para cessar as mortes
O Brasil é antigo conhecido do relator para pobreza extrema e direitos humanos da ONU, Philip Alston. Há dez anos, ele esteve no país para avaliar a letalidade policial e produziu um relatório analisando a quantidade expressiva de mortes e o envolvimento de policiais em grande parte delas. Chegou a ser chamado por autoridades brasileiras de irresponsável. “ Algumas das autoridades estaduais, particularmente no Rio de Janeiro, receberam de forma negativa a minha visita. Mas, novamente, isso é bastante normal. Lamento ter que dizer, nenhum governo gosta de críticas e o caminho fácil é dizer sobre mim ‘ele não entende os fatos e suas recomendações são loucas’. Mas o papel do relator especial é estimular o debate dentro da comunidade”, afirma Alston, com bom humor comedido, em entrevista à Ponte durante o 15º Colóquio Internacional de Direitos Humanos, realizado pela Conectas Direitos Humanos, em São Paulo.
Para ele, dizer “genocídio da população negra” talvez não se enquadre, do ponto de vista legal, do que se entende internacionalmente pela expressão. Contudo, Philip Alston afirma que perder tempo discutindo o termo é bobagem. “O debate se é genocídio ou não é uma distração, porque a questão real é o que está sendo feito para detê-lo”, afirma.