Testemunhas depõem em audiência da chacina da Pavilhão 9

    Os acusados de participar da chacina são o ex-policial militar Rodney Dias dos Santos e o soldado da PM Walter Pereira da Silva Junior, do 33º Batalhão da Polícia Militar (BPM), também acusado de envolvimento numa chacina ocorrida em Carapicuíba (SP). Santos está preso. Silva Junior foi solto em dezembro.

    Manifestação de familiares em audiência ocorrida em outubro de 2015
    Manifestação de familiares em audiência ocorrida em outubro de 2015/ Foto: arquivo pessoal

    A justiça de São Paulo ouviu, nesta segunda-feira (21/03), seis testemunhas de defesa dos dois policiais acusados de envolvimento na chacina ocorrida na quadra da torcida organizada corinthiana Pavilhão Nove, em 18 de abril de 2015, onde oito pessoas foram assassinadas após um churrasco.

    Na audiência, ocorrida no Fórum da Barra Funda, duas das testemunhas foram ouvidas de forma sigilosa pela juíza Giovanna Chrisrtina Colares. A próxima audiência será no dia 27 de junho, quando os policiais acusados pela matança serão ouvidos. Só então a juíza decidirá se os policiais serão levados a júri popular.

    Os acusados de participar da chacina e que foram presos são o ex-policial militar Rodney Dias dos Santos, um dos sócios-fundadores da uniformizada do Corinthians, e o soldado da PM Walter Pereira da Silva Junior, do 33º Batalhão da Polícia Militar (BPM), acusado de envolvimento numa chacina ocorrida em Carapicuíba (SP), em 2014. Silva Junior foi solto em dezembro do ano passado, após um pedido de seu advogado, para que respondesse ao processo em liberdade – e reiterado pelo promotor de Justiça Rogério Leão Zagallo.  Santos segue preso no CDP de Pinheiros, na capital paulista.

    Uma das testemunhas, síndico do prédio onde o PM Walter mora – um edifício de mais de 800 apartamentos – afirmou que na noite do crime o policial não saiu de casa na noite da chacina. Logo depois afirmou que ele saiu, sim, com a esposa e filho para comprar pizza, num carro com prata. Outra testemunha, uma funcionária da pizzaria, afirmou que viu o réu na noite do crime, que ele usava um carro “de cor escura”.

    De acordo com familiares das vítimas, o promotor Rogério Zagallo, que já foi punido por incitar violência policial, se negou a conversar com parentes e amigos dos mortos: “Não falo com as famílias, vocês queriam me processar e me afastar do caso”, ele teria dito aos parentes das vítimas. “As famílias se sentem fragilizadas ao não sequer conseguir dialogar com o promotor”, disse um parente de vítima. Familiares também reclamaram da ausência de um representante da Defensoria Pública do Estado de São Paulo na audiência.

    “São pais, filhos que deixaram famílias devastadas e que agora só querem e exigem que a Justiça não deixe os criminosos impunes”, disse Lana Batista, viúva de Mydras Schmidt, que deixou dois filhos.

    Em outubro do ano passado, a Justiça ouviu as testemunhas de acusação e o delegado Marcelo Bianchi, que presidiu o inquérito que até agora indiciou dois policiais acusados de envolvimento na matança. O delegado Marcelo Bianchi afirmou que as testemunhas ouvidas durante o inquérito reconheceram o policial e o ex-policial como autores das mortes.

    “Não temos nenhuma dúvida da autoria. Jamais iria pedir a prisão se não fosse essa a conclusão”. Bianchi disse que o PM Silva Júnior está sendo investigado por participação em outras chacinas, como a ocorrida em Carapicuíba. “Ele faz parte de grupos de extermínio”, afirmou. “Ele é da turma que executa, faz parte de organização criminosa, não tenho dúvida disso.”

    Segundo o delegado, crimes de chacina são de difícil investigação, “pois, via de regra, os policiais da área sabem que ela irá acontecer e limpam o local do crime, para que não se encontrem cápsulas”. Bianchi também apontou que o ex-policial Dias dos Santos tinha passagem por tráfico de drogas e já foi preso por receptação. “Também traçamos o perfil psicológico dele, que é de uma pessoa extremamente violenta, que tem sangue frio para matar”.

    Oito torcedores foram assassinados na chacina: Ricardo Junior Leonel do Prado, 34 anos; Andre Luiz Santos de Oliveira, 29 anos; Matheus Fonseca de Oliveira, 19 anos; Fabio Neves Domingos, 34 anos; Jhonatan Fernando Garzillo, 21 anos; Marco Antônio Corassa Junior, 19 anos; Mydras Schmidt, 38 anos; e Jonathan Rodrigues do Nascimento, 21 anos.

    Um terceiro policial teria participado dos crimes e está sendo investigado pela Polícia Civil: é o segundo sargento da PM Marcelo Mendes da Silvado 14º Batalhão da corporação, em OsascoEle é investigado, ainda, sob a suspeita de participar da série de atentados ocorrida em 13/08 em bairros da periferia de Osasco e Barueri, na Grande São Paulo, que deixou 19 mortos.

    De acordo com a Polícia Civil, os autores da chacina teriam envolvimento com tráfico de drogas e foram até a sede da Pavilhão para um “acerto de contas” com Fábio Domingos, um dos mortos.

    Familiares e torcedores da Pavilhão 9 estão organizando uma manifestação para a data em que a chacina completará um ano, em 18 de abril.

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