Familiar de Vitor Barboza, um dos quatro jovens mortos pela PM paulista, recebeu mensagens intimidatórias um dia depois do enterro
Familiares e testemunhas de ação da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, a tropa mais letal da PM paulista) que terminou com quatro mortos no dia 17/7, na Rodovia Presidente Dutra, em Guarulhos, na Grande São Paulo, estão sendo ameaçados. A versão oficial é que o veículo onde estavam os jovens, um HB20, estava sendo monitorado pela PM, porque “apresentava envolvimento anterior em crimes e vinha sendo monitorado pela PM”. As famílias dos jovens, no entanto, rebatem a afirmação e lutam por justiça no caso.
A informação das ameaças foi confirmada à Ponte pela advogada Fabiane Sampaio Saab, que acompanha as quatro famílias. Um familiar de Vitor Nascimento Barboza Alves, 21 anos, um dos mortos, contou que no dia seguinte ao enterro no Cemitério da Vila Formosa, zona leste de SP, recebeu mensagens estranhas de um desconhecido. Por medo, pediu para não ser identificado e contou que havia rebatido a versão dada pela PM – de que Vitor era um criminoso – em reportagem de uma emissora de TV. Para esse parente, isso pode ter gerado a intimidação. A pessoa destaca que Vitor era motorista do aplicativo Uber e dirigia o veículo registrado em seu nome no dia de sua morte. A família arcava com as parcelas de R$ 1.280 todo mês.
“Estou recebendo ameaça pelo telefone. Um dia depois do enterro, em 20 de julho, tinha muita gente me chamando pelo WhatsApp. Uma pessoa me chamou dizendo que era amigo dele e dizendo que sabia que eu trabalhava com a área de saúde. ‘A vida é boa enquanto a gente pode salvar’, a pessoa me disse. É muita coincidência: eu dei entrevista dias 18, 19 e de noite me mandam isso?!”, revela o parente.
“Ficamos acuados, estamos mexendo com o Estado, não é coisa pequena. Tenho minha vida e ela está parada. Estou com medo de sair de casa, de usar meu carro. Eles podem pegar a placa”, explica, dizendo preferir não levar o caso da ameaça adiante, ainda com medo do que pode acontecer.
Contudo, a advogada Fabiane Saab informou que pretende denunciar as ameaças. A defensora também destacou que a Corregedoria da Polícia Militar foi que procurou as famílias. “Eles eram trabalhadores. Um do Uber, outro fazia entrega no iFood. Vou colocar um perito no caso e vou usar a geolocalização como prova de que eles nunca estiveram no Tatuapé [onde teria começado a perseguição]“, afirmou. Segundo a namorada de Vitor, ele saiu naquela noite “para trabalhar”.
Mas para a polícia, Vitor usou o carro para supostamente cometer crimes com três amigos de infância: Ronei Oliveira de Souza, 20 anos, Nicolas Vieira Canda, 19, e Leonardo Rocha de Carvalho, 23.
Os quatro moravam desde que nasceram na Juta, região de São Mateus, extremo leste de São Paulo. Segundo os familiares, primeiro os policiais diziam que eles estavam na Avenida Celso Garcia, no Tatuapé, área distante 15 km de onde moram, e depois informaram que o carro estava na Avenida Aricanduva, a pelo menos 7 km da Juta, quando teve início a perseguição.
Ao ser abordado, ainda de acordo com a versão oficial, Vitor, que estava conduzindo o veículo, teria iniciado fuga já atirando com uma submetralhadora. Na Dutra, 21 km distante do início da suposta perseguição, um dos pneus do carro teria estourado e os quatro amigos desceram atirando, forçando os PMs a revidarem. Nenhum policial ficou ferido. De acordo com a Rota, eles também tinham uma espingarda calibre 12 no carro.
“O Vitor é canhoto e falaram que ele estava com a submetralhadora na mão direita. Ele não pegava nada com a mão direita”, relembra o parente de Vitor.
Participaram da ação que matou Vitor, Ronei, Nicolas e Leonardo os policiais militares Wallace Araújo da Silva, Felipe Freitas da Silva e Alex Pequeno Oliveira e o subtenente Dorival Ramos dos Santos, integrantes da Rota; Cristiano Mendes dos Santos, Fábio Oliveira Moutinho e Marcelo Henrique Espindola Leita, da Força Tática da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas); e Luiz Gustavo da Silva Barbosa, do 15º BPM.
A Ponte acionou a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, administrada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB), e a PM, comandada pelo coronel Marcelo Vieira Salles, para saber se pasta e corporação estão cientes das ameaças e o que podem fazer para garantir a integridade destas pessoas. Até a publicação da reportagem não havia resposta. Às 19h05 desta terça-feira (6/8), a SSP explicou que ” todas as circunstâncias das mortes são apuradas pelo SHPP (Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa) de Guarulhos. A Corregedoria da Polícia Militar também instaurou Inquérito Policial Militar, que segue em caráter sigiloso, como definido no Art. 16 do Código de Processo Penal Militar. Quanto as ameaças, as polícias Civil e Militar estão à disposição das famílias para registrar a denúncia”, garante a SSP.
*Reportagem atualizada às 20h49 para incluir a nota da SSP.
[…] familiares dos quatro jovens confrontaram a versão dos policiais, eles dizem ter passado a receber mensagens ameaçadoras nos celulares e a serem alvos de “enquadros” constantes por policiais nas […]
[…] os familiares dos quatro jovens confrontaram a versão dos policiais, eles dizem ter passado a receber mensagens ameaçadoras nos celulares e a serem alvos de “enquadros” constantes por policiais nas […]
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