Ônibus que levava grupo até local de apresentação tentou passar por protesto contra a Reforma da Previdência em São Paulo: ‘nós meio que nos perdemos’, afirmou um oficial
De um lado, centenas de pessoas com faixas do Partido Comunista, balões de centrais sindicais e camisas vermelhas de grupos e partidos políticos. Do outro, um ônibus verde oliva com símbolo do Exército Brasileiro com os dizeres “Braço forte, mão amiga” e dezenas de militares dentro.

Em tempos de intervenção federal no estado vizinho, foi a vez de uma intervenção – de outra natureza – acontecer, no fim da tarde desta segunda-feira (20/2), na Avenida Paulista. O ônibus que levava a banda formada por homens da tropa até uma apresentação errou o trajeto e foi parar no meio de uma manifestação.

O ato, denominado “Dia Nacional de luta contra a Reforma da Previdêcia”, começou às 16h no Masp, região central da cidade. Os manifestantes da Frente Brasil Popular e do Povo Sem Medo cobravam o fim da tramitação da reforma, uma das pautas mais defendidas pelo presidente Michel Temer (MDB). Junto do grupo, professores protestaram conta mudanças propostas pelo prefeito da capital, João Dória (PSDB), na previdência de quem atua no ensino municipal. Porém, por volta de 18h, os gritos deixaram para trás os Governos federal e municipal e passaram a se direcionar ao braço armado do Estado.
Foi exatamente nesse horário, que o motorista, desavisado, embicou o ônibus escoltado pela polícia na Rua Peixoto Gomide e entrou na Paulista. Sem conhecimento do protesto, o condutor buscava passar pela avenida e seguir o trajeto, mas foi surpreendido por cerca de 5 mil pessoas pelo caminho. Houve a tentativa de passar sem interferir na manifestação com buzinadas, mas o grupo impediu ao perceber se tratar de um veículo do Exército.

Gritos de “Abaixo a Ditadura”, “Fora Exército” e “Volta para o quartel” tomaram conta da manifestação e o grupo bloqueou a passagem do veículo de vez, intervindo de uma vez por todas no trajeto pretendido. Os militares, membros da banda do Exército, começaram a olhar pelos vidros do veículo, sem entender. Jovens, acabaram por fechar as cortinas em resposta.
Instantes depois, a porta do ônibus se abriu e houve uma aglomeração, com xingamentos dos participantes do protesto. Um dos homens desceu e tentou entender a situação. “A gente veio tocar aqui perto, nem sabíamos que estava tendo manifestação na Paulista. Nós meio que nos perdemos”, contou à Ponte o oficial.

Sem conseguir passar pela avenida, não restou outra alternativa a não ser retornar de marcha à ré pela Rua Peixoto Gomide e buscar outra via que estivesse livre. O que era apenas uma confusão de trajeto do ônibus foi comemorado pelo grupo da manifestação como uma resistência ao militarismo. O Exército Brasileiro, por outro lado, percebeu como uma intervenção – que pode ser sinônimo de interferência, por exemplo – pode, de fato, alterar caminhos.

Através da assessoria de imprensa do Comando Militar do Sudoeste, o Exército explicou que a banda se apresentou na noite desta segunda-feira (20/2) no Fórum Pedro Lessa, localizado justamente na Av. Paulista, 1682, na solenidade de lançamento do livro “A Memória da Justiça Federal em São Paulo”. Formada por 35 músicos, a banda é composta por “soldados, cabos, sargentos e um subtenente, que é o mestre”, informa a seção de comunicação.
