Bárbara estava em um bar na zona norte de SP quando recusou dar cigarro a uma mulher, que quebrou a garrafa e a agrediu; família denuncia transfobia
Uma transexual perdeu parte do braço esquerdo após ser agredida por uma mulher no Jardim Brasil, zona norte de São Paulo. Bárbara Brasil, como é conhecida no bairro, estava em um bar no momento da agressão. Ela teria recusado dar um cigarro para a mulher, que a agrediu.
O caso aconteceu por volta das 22h do dia 1 de dezembro de 2018. Testemunhas apontam que a mulher estava alterada e já tem histórico de agredir homossexuais e travestis, seja verbal ou fisicamente. Ao ter o pedido recusado por Bárbara, a mulher pegou uma garrafa de cerveja, quebrou e atacou a transexual.
Familiares contam que não houve discussão antes de Bárbara ser vítima da garrafada. Depois, ela permaneceu quase uma hora com o braço sangrando à espera do Samu. Só depois foi levada para o Hospital do Mandaqui, onde ficou constatada a gravidade da lesão.
“A pressão dela estava 4 por 3, teve que tomar quatro bolsas de sangue. Devido a tudo isso, tiveram que grampear uma artéria, e ficou três dias sem circular sangue na parte de baixo da mão. Os médicos precisaram amputar, não teve mais circulação”, conta a mãe de Bárbara, Simone Maria Pereira Vieira, de 50 anos.
Segundo o B.O. (Boletim de Ocorrência) do caso, testemunhas relataram que a violência partiu de uma mulher que seria esposa de um homem de apelido “Índio”, sem nome ou demais dados informados. Os PMs não encontraram nem Índio nem sua mulher e explicaram que a garrafada aconteceu em “uma possível briga de bar”, além de registrarem a ambulância que a levou ao Hospital do Mandaqui.
A filha de Simone trabalhava como faxineira em casas na região, além de passar porta a porta vendendo perfumes. Amigos contam que ela era uma mulher alegre e vaidosa. Desde a violência que sofreu, tem tido dificuldade em lidar com a situação.
“Ela está levando a vida na medida do possível. Perdeu braço, agora estamos com uma campanha para ter uma prótese… Está a base de calmantes e antidepressivos. São mais de 10 remédios por dia”, explica Genésia Costa Ferreira, amiga de Bárbara e da família.
Genésia chegou ao bar logo após a agressão e viu Bárbara no chão. “O pessoal comentou que tudo começou por um cigarro. A mulher já tem costume de fazer isso. É homofobia, mesmo. Chamou ela de viadinho, de bichinha. A Bárbara falou que queria ir embora e a mulher foi pra cima dele. A gente quer justiça, é o minimo já que ninguém toma providencia”, afirma.
A Ponte questionou a Secretaria da Saúde de São Paulo sobre o atendimento realizado em Bárbara no Hospital do Mandaqui. Segundo a pasta, a “paciente Bárbara foi internada na unidade no dia 2 de dezembro com ferimento grave por arma branca, em estado de choque e precisou ser reanimada. Foi levada imediatamente ao centro cirúrgico. Foi identificada lesão extensa e profunda da artéria e da musculatura. Todos os procedimentos foram feitos, mas devido à gravidade e tipo do ferimento, o caso evoluiu para trombose, o que levou à uma segunda cirurgia”, aponta a secretaria, antes de detalhar o motivo da amputação.
“Porém, apesar de todas as medidas terapêuticas, o caso evoluiu para necrose, sendo necessária a amputação para não colocar em risco a vida da paciente. Bárbara recebeu todo o apoio necessário na unidade por equipe multidisciplinar, com psicólogo, enfermeiros e nutricionista, na UTI e na enfermaria. A paciente teve alta no dia 19 de dezembro e passará por acompanhamento ambulatorial em Cirurgia vascular e reabilitação motora”, explica a Saúde.