Um delicado olhar sobre as crianças que vivem nos campos de refugiados

    Matilha Cultural, em São Paulo, abre mostra fotográfica Infância Refugiada, de Karine Garcês

    Caramante
    Uma das fotografias de Karine Garcês que estarão em mostra na Matilha Cultural – Imagem: Karine Garcês

    Hoje a Matilha Cultural abre a exposição Infância Refugiada/Refugge Childhood – Palestinians at Turkey, Lebanon and Syria da fotógrafa brasileira Karine Garcês. Com sensibilidade e delicadeza, Karine captou as expressões de crianças e adolescentes palestinos que vivem em campos de refugiados distribuídos na Turquia, Líbano e Síria. As imagens foram capturadas entre 2014 e 2015 durante uma viagem de caráter humanitário quando a fotógrafa integrou a missão da Organização Não-Governamental holandesa Al Wafaa Campaing.

    Porém, antes da exposição, a fotógrafa. Karine Garcês nasceu no Ceará, em Antonio Diogo, distrito de Redenção. Foi criada em uma família católica e como ela define: muito solidária. “Em casa, a gente não sabia se era rico ou pobre. Nossas portas estavam sempre abertas a todos. Tínhamos um aparelho de TV e meu pai dizia que todas as crianças podiam assistir, sem distinção. ”

    Questões humanitárias sempre estiveram no seu radar e foi o que a impulsionou a estudar Relações Internacionais na faculdade. “Eu quis entender as questões políticas que estão presentes nos conflitos. E pensando no aspecto humano, eu entendo que nós nordestinos somos migrantes, porque fugimos da seca e da miséria. Uma criança que viva numa periferia do Brasil também, de certa forma, é uma refugiada. Esse é um tema que me chama atenção. ”

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    Menino refugiado – Imagem: Karine Garcês

    A religião entrou em sua vida há 12 anos, quando começou a estudar e conhecer mais sobre os preceitos do islã. “Estudei e me converti. Digo que ali encontrei parte da minha vida que estava perdida, não estarei completa sem meu filho ou sem o islã. ”

    E foi pela religião que surgiu a primeira viagem e os primeiros registros fotográficos de Karine, em 2012. Ela foi a Arábia Saudita para uma peregrinação à Meca. Ali conheceu a ONG Al Wafaa. Com a câmera na mão, seguiu para o Líbano e para a Faixa de Gaza. Foram 40 dias acompanhando uma ação comunitária distribuindo comida.

    O brincar é um ato de resistência, muitas vezes, subversivo”

    “Em 2014, no período da Copa e das eleições na Síria, viajei para lá com 50 dólares no bolso. Uns amigos pagaram minha passagem para Beirute, porque o espaço aéreo sírio está fechado, e segui para um campo de refugiados na periferia de Damasco. Foram 15 dias intensos”, conta. “Os bombardeios nessa área são diários porque é uma região estratégica. As pessoas que estavam ali não sabiam o que era uma fruta há mais de um ano.  Não tem água potável, muito menos energia elétrica. Ninguém tem permissão para sair dali. Vi crianças desnutridas, queimadas. O brincar é um ato de resistência, muitas vezes, subversivo. Elas não podem ficar longe dos pais ou de adultos, os riscos são imensos. Essas crianças são muito maduras, sabem exatamente o que se passa ali. Foi exatamente esse olhar de desespero, esse pedido de ajuda que eu quis registrar nas fotos. ”

    Caramante
    Fotografia tátil a partir da imagem captada por Karine Garcês – Imagem: Karine Garcês

    Nas imagens escolhidas para Infância Refugiada, Karine focou principalmente na realidade das crianças palestinas que sobrevivem nesses campos de refugiados. “Essa é a população mais vulnerável porque muitos já são refugiados e não podem pedir o segundo refúgio e também não podem voltar para a Palestina. ”

    A exposição é inclusiva. Imagens foram reproduzidas em alto relevo para que por meio do tato pessoas cegas ou com baixa visão possam ‘sentir’ as imagens.

    Além de denunciar a precariedade da vida nos campos, Karine também pretende arrecadar fundos para compra de material escolar e enviar para os pequenos refugiados. Marcadores de página, cartões postais e bonecas de pano estarão à venda e a renda será revertida para as crianças. Hoje, na abertura da exposição, será exibido o documentário Fogo no Mar, vencedor do Urso de Ouro em Berlim, de Gianfranco Rosi.

    O filme retrata a vida na ilha italiana de Lampedusa, local que se tornou linha de frente da crise de imigração europeia. O público também poderá conferir a poesia Mini Zap! – Slam com Núcleo Bartolomeu de Depoimentos. Os interessados poderão participar do jogo ‘No caminho com os Imigrantes’, desenvolvido pelo Caritas Franca e Associationdes Cites, e conhecer mais sobre a realidade de exílio e imigração, bem como o impacto das políticas de vários países de trânsito ou destino desses imigrantes.

    Serviço:

    MATILHA CULTURAL Rua Rego Freitas, 542 – São Paulo Tel.: (11) 3256-2636

    Horário: 19h

    Convite:

    Doação de 1 quilo de alimento, brinquedos, roupas ou produtos de higiene pessoal. Horários de funcionamento:

    Terça-feira a domingo, das 12h às 20h/ exceto sábados: 14h às 20h

     

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