Suburbano Convicto, no bairro do Bixiga, enfrenta problemas financeiros e corre risco de fechar as portas após 11 anos
Caso não aconteça uma mudança radical no fluxo de caixa, a Livraria Suburbano Convicto, no bairro do Bixiga, na região Central de São Paulo, deve fechar no final de novembro ou início de dezembro. Perto de completar 11 anos de existência, a livraria do escritor Alessandro Buzo, 45 anos, é uma mistura de centro cultural, espaço de pensamento livre e marco de resistência da cultura hip-hop e periférica do Brasil.
O espaço é voltado para a literatura marginal, um tipo de literatura independente com autores que falam sobre Direitos Humanos, desigualdades sociais e crítica política em sua essência. Também há abordagens com poesias, HQs e contos, ampliando sua diversidade.
No seu livro de estreia, em 2000, Buzo retratou o cotidiano batalhador e as histórias dos passageiros dos trens que iam até o bairro do Itaim Paulista, no extremo Leste de São Paulo. “O Trem – Contestando a Versão Oficial” foi um livro elogiado pela crítica e marcou várias gerações de escritores periféricos. Na sua obra mais recente, “O Filho da Empregada” (2017), em um relato autobiográfico, Buzo conta a história do filho de uma trabalhadora doméstica que virou escritor e realizou seu sonho.
A história da livraria Suburbano Convicto tem o mesmo perfil de luta e resistência do seu idealizador. Contra o conservadorismo e brigando por uma cultura mais diversificada, o espaço promove atividades e eventos regularmente, além de um acervo rico de livros, CDs e zines dos quatro cantos do país.
Abalado pelo crise econômica e pelos cortes drásticos nos programas culturais, Buzo faz malabarismo para manter a livraria e outros projetos como a finalização do seu segundo filme “Fui!” e os saraus literários. Confira a entrevista exclusiva do escritor para a Ponte Jornalismo.
Ponte: Há quanto tempo existe a livraria?
Alessandro Buzo: Se ela sobreviver a 2017, completa 11 anos no dia 14 de abril do ano que vem.
Como foi a mudança do Itaim Paulista para o Bixiga?
Ela nasceu no Itaim Pta em 2007, ficou três anos lá, numa pequena garagem alugada. Quando ia fechar as portas por baixas vendas, surgiu a possibilidade de ir pro Bixiga, que por ser uma região central de São Paulo, poderia receber mais público e clientes de outras regiões. Funcionou até agora, mesmo várias vezes sendo aos trancos e barrancos.
Qual o impacto da crise econômica nos negócios da livraria?
Grande. Todo mundo está sem dinheiro e o livro é fácil de esperar, você precisa beber, comer, se vestir, mas ler pode esperar. Quem frequenta a livraria e o Sarau Suburbano que lá acontece, queria comprar vários livros, mas as vezes falta até o da cerveja, ou, entre a cerveja e o livro…
Você foi um dos primeiros a juntar a venda de roupas e livros. Como foi essa integração da cultura hip-hop?
No começo, as roupas eram de marcas ligadas ao Hip Hop, achamos que isso daria a cara que queríamos, especializar em periferia, literatura marginal, hip hop.
Como está a campanha para não fechar a livraria?
Estamos convocando a galera pra somar no “Sarau Suburbano Edição Extra em Prol do não Fechamento”. A ideia é encher a livraria e convocar a galera pra comprar pelo menos 1 livro. Além de oferecermos produtos pra todo Brasil nas redes sociais. Vamos tentar colocar os alugueis em dia e seguir em 2018. A dívida até aqui é R$ 3.000, até dezembro vai chegar em R$ 5.000. Se até dezembro conseguirmos com a mobilização, para deixar em dia as contas, não fecharemos. Não estamos falando de lucro, só se manter que do meu bolso não tenho como bancar no momento, banquei vários meses nesses 10 anos, muitas vezes.
A periferia está lendo menos, se informando menos?
Acho que não, existe uma cena hoje e quem nela está envolvida acaba lendo alguma coisa. Um livro, vários leem, empresta aqui, ali… Cada um faz seu corre. A gente vende livros novos, média de R$ 20 a R$ 30, é isso, não é faltar de leitor, é que nosso leitor é periférico e a grana anda curta.
Como foi que a livraria Suburbano Convicto se especializou na literatura marginal?
Ela não se especializou, ela já nasceu especializada. O primeiro acervo foi os meus livros e livros que eu tinha mais de um, que era novo e não estava autografado pra mim. Era 2007 e esse primeiro acervo já tinha de 90% a 95% de Literatura Marginal. Eram uns 100 livros, hoje temos muitos mais autores e títulos.
As vendas pela internet caíram?
Tentamos um site, que é um bom caminho. Mas por divergência com quem fazia o site, paramos. Vendas pelo Blog, depósito bancário/correio, sempre teve, mas ultimamente tem vendido bem pouco, quase nada.
A produção de livros da Literatura Marginal também diminuiu?
Teve um momento bem em alta, de 2013 à 2015, muitos lançam independente e a crise atrapalha alguns projetos. Mas diminuiu um pouco sim, 2016 foi horrível e 2017 se arrasta, não teve um aceleramento econômico, segue todo mundo sobrevivendo e só.
Na sua opinião, a sociedade está mais conservadora e isso é um risco para a produção literária e artística?
A sociedade está sem rumo. Falta algum político, um líder, um salvador da pátria como o Lula foi um dia. Por outro lado, a internet também deu voz a todos e nem todos estão preparados. Hoje, em São Paulo, na gestão Dória, está tudo parado, acabando. O engraçado é que foi a periferia que elegeu o playboy pra lhe representar e agora deu no que deu. Fui candidato a vereador e a cultura da periferia não abraçou a minha causa, que era a causa da periferia. Mas o Holiday se elegeu, com uma proposta extremista e conservadora, assim seguimos.
Tirando a política ruim, a mídia também não ajuda, só aliena. São vários fatores. Não é fácil ser artista se você não é um queridinho da mídia e a mídia não quer conteúdo, quer futilidades. Vá numa bienal do livro, é a blogueira famosa que vende livro, não é o “escritor literário”, o poeta. São vários os fatores que levam a sociedade para essa situação que está aí.
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